Patrimônio Artísico

Ao entrar no vestíbulo do edifício do Real Gabinete, o visitante tem oportunidade de verificar que o seu interior nada fica a dever à majestade de seu exterior, destacando-se, desde logo, diversas obras de arte, como os bustos em mármore de Eduardo Lemos e de Joaquim da Costa Ramalho Ortigão, e em bronze, do Conde Dias Garcia, de Eduardo Severo e do Rei D. Carlos I, de Portugal.

Diversas outras obras ornamentam os armários de madeira trabalhada da instituição, como a lindíssima maquete do monumento a Pedro Álvares Cabral (foto à esquerda), doada ao Gabinete pelo seu autor, Mestre Rodolpho Bernardelli, e pequenos bustos de “D. Manuel I”, do escultor Simões da Silva, de “Eça de Queirós”, com a indicação apenas da fundição – Cavina, o de “Ramalho Ortigão”, numa bela terracota do Mestre Teixeira Lopes, o de “Herculano”, sem assinatura e, finalmente o do “Padre Manuel da Nóbrega”, de J. Mello Pimenta.

Na escadaria, em seu primeiro lanço, encontra-se o “Relicário da Saudade” (foto à direita), homenagem póstuma a Sacadura Cabral, o realizador com o Almirante Gago Coutinho, da primeira travessia aérea Lisboa-Rio. Contém páginas em pergaminho com os autógrafos de Pio XII, D. Manuel II, de Portugal, D. Afonso XIII, de Espanha, do Rei Alberto I, da Bélgica, assinaturas de muitas outras altas personalidades, inclusive as sentidas palavras do próprio Gago Coutinho a referir-se “ao seu camarada Sacadura Cabral, morto no acidente com o seu avião Fokker”, de cujos destroços ali figura um pedaço envolto em cartão de ouro. Na mesma escadaria encontram-se ainda o busto do Conselheiro J. O. Sá Camelo Lampreia, antigo Ministro de Portugal no Brasil, um artístico candeeiro em ferro trabalhado, os bustos de Gago Coutinho e do escritor e jornalista Paulo Barreto (João do Rio).

Ao nível do andar superior vê-se o busto do Benemérito Albino de Souza Cruz, o primoroso trabalho de ourivesaria portuguesa, a dominar todo o átrio, que é o “Altar da Pátria”, bem como uma placa oval de prata portuguesa, do mesmo ourives, dos quais passamos a dar uma descrição mais pormenorizada.
 

ALTAR DA PÁTRIA

Obra de ourivesaria e escultura de grande significação e importância, esta obra de arte é única e de valor incalculável, na opinião dos entendidos, tendo em vista que não se encontraria quem produzisse outra semelhante.

Medindo 1,70 m de altura, a alegoria assinala os fatos principais da epopéia lusitana, desde as suas primeiras conquistas marítimas. Da sua base em mármore negro, formando belo contraste com a prata de que é feito, apontam para os quatro pontos cardeais outras tantas naves, PARA BUSCAR DO MUNDO NOVAS PARTES, como indicando que nenhum ponto do globo habitado foi estranho aos audazes navegadores. Em plano mais elevado, em faces opostas, rodeados de Nereidas e de Tritões, assistem Vênus e Netuno à partida dessas caravelas, tendo a seus pés o oceano revolto, onde se banham outras divindades do mar. Todas estas figuras são talhadas em marfim, o que as torna mais suaves em relação ao metal. Essa evocação simbólica foi inspirada nos “Lusíadas”, donde se lê, em cada uma das flâmulas que flutuam nos mastros das naves, um verso do poema. O centro é formado por espessa coluna de minúsculos relevos, em volta da qual se destacam, em prata e marfim, os vultos dos quatro principais criadores das glórias lusitanas: o INFANTE D. HENRIQUE, VASCO DA GAMA, PEDRO ÁLVARES CABRAL e LUÍS DE CAMÕES. No cimo da coluna, sobre os motivos ornamentais, duas figuras simbólicas representam os dois rios do Oriente, perlustrados pelos portugueses: o INDO e o GANGES. Arremata-a a imagem da Fé, alçando para o infinito a Cruz eterna, que guiou sempre o espírito do grande povo português, através de triunfos e vicissitudes, e o protegeu nos seus admiráveis arrojos. Executada em prata e marfim, na Casa Reis & Filhos no Porto pelo ourives Antonio Maria Ribeiro. Fez parte do Pavilhão Português da Feira de Amostras, Exposição do Rio de Janeiro em 1922, por ocasião do Centenário da Independência do Brasil. Após a exposição, em 1923, a Colônia Portuguesa no Rio de Janeiro a adquiriu e ofereceu ao Real Gabinete.
 

PLACA OVAL

Placa Oval de prata portuguesa e marfim, repuxada e cinzelada, em homenagem a Luís de Camões, tendo ao centro cena mitológica representando os deuses do Olimpo, à esquerda, o poeta sendo coroado com louvores e, à direita, Ondinas e Tritões; ao alto, o retrato do poeta; aparecem os ventos de Áquila e Boreas, navios e em listéis versos dos Lusíadas. Contraste do Porto, marca e assinatura do ourives Antonio Maria Ribeiro. Acondicionada em estojo de nogueira, forrado de tecido, tampo de cristal bizotado, fechos de prata com o mesmo contraste e marca. Fez parte do Pavilhão Português da Feira de Amostras, Exposição do Rio de Janeiro em 1922, por ocasião do Centenário da Independência do Brasil. Cavalete em mogno, estilo Renascença.

No grande Salão de Leitura ganha destaque uma curiosa estante de madeira e cristal, cujas proporções se fazem notar, e onde está guardado o “Livro de Ouro” (foto à direita), de homenagem ao presidente Eduardo de Lemos, que os portugueses do Brasil preparavam para lhe oferecer por ocasião de seu regresso ao Rio de Janeiro, da viagem em que a morte o surpreendeu em Portugal no dia 14 de outubro de 1884. Trata-se de um álbum com variado e preciosíssimo repositório de manifestações de figuras ilustres da vida intelectual, artística e política do Brasil, bem como de grande número de instituições, que forma um volume com a grossura de 6 cm, em encadernação de luxo de Garzaro, Paris.

"Fundamentos e Actualidade do Real Gabinete Português de Leitura”.