ADRIANA ANGELITA DA CONCEIÇÃO (Universidade de São Paulo) - “(…) venha gozar de dias mais descançados e mais alegres”. as metamorfoses da cidade do rio de janeiro oitocentista nas cartas do bibliotecário luís joaquim dos santos marrocos
Este trabalho tem como tema as cartas do português Luís Joaquim dos Santos Marrocos, ajudante de bibliotecário, que chegou ao Rio de Janeiro no início do século XIX, momento no qual a capital do vice-reino se transformou na capital do império português com a chegada da família real. Marrocos aportou no Rio em junho de 1811, encarregado por D. João de transportar uma das remessas de livros da Biblioteca Real. Antes mesmo de chegar ao destino, Marrocos dedicou-se a uma sociabilidade que o acompanharia por anos: a prática de escrita de cartas, mantendo uma assídua correspondência com o pai e outros parentes. As cartas estão custodiadas na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa, e neste estudo serão citadas a partir dos originais. Estas cartas são documentos valiosíssimos para se analisar sociabilidades oitocentistas, já que Marrocos se converteu em um olheiro da nova corte. Neste diálogo interatlântico consumado por meio de cartas, percebemos que os estranhamentos diante do diferente vão se transformando e a nova capital passou a conquistá-lo, sendo este o enfoque desta análise. Contudo, a ponte dialógica construída por Marrocos, através das cartas enviadas ao pai, mostra que o Rio de Janeiro e Lisboa foram se metamorfoseando ao seu olhar.
ADRIANA GUIMARÃES DE MELLO (Universidade Estácio de Sá) - comunidades linguísticas e o processo de integração através da cooperação cultural: o caso da comunidade dos países de língua portuguesa
Trabalho monográfico que objetiva VERIFICAR o processo de integração dos países lusófonos pelo escopo cultural, através do caso da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP. O estudo foi fundamentado nas teorias existentes sobre o construtivismo e mais especificamente na questão da identidade cultural, no contexto da formação e institucionalização da CPLP, que enseja demonstrar que o aspecto cultural pode ser visto como um elemento efetivo de integração.
AIRES ANTUNES DINIZ (Escola Secundária Avelar Brotero - Coimbra) - o porto franco de lisboa e o comércio luso-brasileiro
Na Atlântida, um mensário para Portugal e Brasil, dirigido por João de Barros e João do Rio retoma-se o projecto de “Acordo luso-brasileiro” de Consiglieri Pedroso de 1909. O objectivo estratégico imediato é a criação de uma companhia portuguesa de navegação para o Brasil que tornasse os preços portugueses competitivos.
Por outro lado, tendo em conta a situação geográfica de Portugal, avança-se com a ideia de constituir no país um entreposto para a colocação de produtos brasileiros na Europa, que seria o porto franco de Lisboa que incluiria um centro de venda de cacau.
Como consequência, há em 1916, a perspectiva de constituir uma Câmara Brasileira de Comércio e Indústria para desenvolver o intercâmbio comercial entre Portugal e Brasil. Infelizmente, há falhas graves na administração pública portuguesa pois os nossos consulados não têm dados para esclarecer os brasileiros sobre o Porto de Lisboa.
Infelizmente, Londres domina a navegação oceânica mundial, fazendo gorar esta estratégia luso-brasileira. Por isso, dentro de um projecto estratégico de desenvolvimento de Portugal e do Brasil, falar-se-á de o Rio de Janeiro e Santos se tornarem portos de entrada dos produtos europeus na América do Sul.
ALANA DE OLIVEIRA FREITAS EL FAHL (Universidade Estadual de Feira de Santana) -desconto e reconto: matrizes culturais nos contos de eça de queirós e machado de assis
O presente trabalho tem por objetivo analisar a presença de matrizes culturais do ocidente: Mitologia Greco-romana, Bíblia Sagrada e Literatura nos contos de dois dos maiores prosadores lusófonos do século XIX: Machado de Assis e Eça de Queirós.
Em boa parte de suas narrativas curtas, os autores recriam histórias já contadas e acrescentam suas marcas nas novas produções. Em contos como “A perfeição”, “O Tesouro” e “Frei Genebro” o prosador português revive textos presentes na tradição. Prática semelhante é desenvolvida por Machado de Assis em contos como “Pílades e Orestes” e “Viver!”, entre outros. Partindo da leitura desses textos, buscaremos comentar como esse procedimento criativo é trabalhado.
ALDA MOURÃO (Universidade de Coimbra) - portugal, brasil e câmara de comércio e indústria: uma relação triangular na representação dos interesses dos empresários portugueses no rio de janeiro
Liderando a maior comunidade imigrante na então capital do Brasil, um grupo de empresários de origem portuguesa organizou-se no Rio de Janeiro para fundar uma Câmara de Comércio e Indústria (CPCI). Esta foi criada, por Decreto, em 16 de Setembro de 1911, mas as condições de criação surgiram no dia 10 de Agosto de 1912, numa sessão solene que marcou o início das suas atividades.
A fundação da CPCI decorreu num ambiente ideologicamente comprometido, quer no Brasil, quer em Portugal. Todo o esforço desenvolvido para a criação da Câmara congregou uma elite de portugueses que tinham deixado o país numa fase final da monarquia, alguns dos quais seus opositores. O ideal republicano foi encontrado no outro lado do Atlântico. Quando este se concretizou em Portugal, conseguiram os apoios necessários para que uma associação empresarial representante dos interesses de comerciantes e industriais imigrantes, no Rio de Janeiro, se tornasse realidade.
O ambiente republicano ficou claramente expresso nos primeiros anos de vida da CPCI. Refletiu as perturbações vividas em Portugal, mas também no Brasil, durante a República Velha, logo após o inicio da década de 1920. A CPCI levou para o seu interior as duas frentes da crise, o que se tornou notório no desenvolvimento da sua atividade.
Este é o espaço triangular das relações que desenharam a evolução da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro que nos propomos abordar.
ALESSANDRA REGINA VASCONCELOS DA SILVA e AMANDA RODRIGUES FIGUEIREDO(Universidade Federal do Pará) - memorial do convento: o produto das diferenças
Aparentemente as obras “A abóbada” e Memorial do Convento possuem uma estruturação parecida, uma vez que ambas correspondem a um romance histórico e, por isso, representam elementos da história. Mais ainda – ambas retomam a história de uma construção monumental. No entanto, esse julgamento é superficial. As obras “A abóbada” e Memorial do Conventoapresentam distinções, na medida em que a construção daquela visa a um sentimento coletivo de nação e enquadra o passado como um modelo para ser seguido no presente, esta limita o coletivo às particularidades do poder opressor, materializados pela igreja católica e pela nobreza. Dessa forma, nasce essa comunicação, cuja finalidade é descortinar o posicionamento dessas obras diante da sociedade que ambas discutem. Para tanto, utilizaremos como metodologia a exposição oral do conteúdo, um material de apoio – que consiste em trechos da obra e observações críticas dos livros - e slides. Essa proposta de leitura é de suma importância, afinal são duas maneiras distintas de ver a sociedade e agir sobre ela.
ALINE ERTHAL (Universidade Federal Fluminense): ruy belo: um corpo que se escreve com a paisagem
Na poética de Ruy Belo, a violência temporal imprime-se em imagens corporais, imagens da natureza e imagens poéticas. Sujeito e paisagem se alteram mutuamente e convivem em uma tensão – jamais resolvida – entre cisão e pertencimento. As relações visuais, subjetivas e de linguagem resultantes desse corpo fraturado exigem do poeta um compromisso ético – consigo mesmo, com o escrever e com o outro.
ALLEID RIBEIRO MACHADO (Universidade de São Paulo) - das margens ao centro. a contribuição da literatura portuguesa de autoria feminina para a formação de uma tradição de ruptura.
À literatura de autoria feminina em Portugal, sobretudo a de vertente feminista, cabe apresentar à contemporaneidade as formas plurais de representação das mulheres, seu universo de valores e a diversidade de suas ações, ainda em meio aos discursos hierárquicos de gênero e classe social, que atravessam a cultura e a sociedade de nosso tempo. Nesse sentindo, este trabalho objetiva apresentar como a produção da autora portuguesa Júlia Nery tem reagido a essa problemática. Para tanto, partilharemos os resultados da pesquisa em torno da produção literária da autora, que resultou na tese de doutoramento: As personagens femininas de Júlia Nery: paradigmas e representações (FFLCH/ USP, 2011). A ideia central é mostrar, principalmente em suas narrativas históricas, o interesse de Júlia Nery em recriar a biografia de mulheres que fizeram parte da História de Portugal, reservando a elas, diferentemente de seus paradigmas, um espaço de atuação privilegiado. E, mais do que isso, evidenciar que o diálogo que estabelece com o passado histórico, por meio de suas personagens femininas, aponta para um deslocamento das representações literárias em torno das mulheres, colocando-as no centro das discussões de gênero e de caráter feminista.
AMANDA DANELLI COSTA (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - turismo cultural em"lisboa: o que o turista deve ver"
Desde as décadas de 1960 e 1970 a ascensão do conceito antropológico de cultura às esferas de compreensão do mundo histórico, intrinsecamente vinculado à nação, contribuiu para um deslocamento discursivo da homogeneidade para a heterogeneidade. Nesse mesmo contexto se observou uma mudança no âmbito do turismo, que se estabeleceu no século XX como uma atividade massificada. O turismo cultural, portanto, pode ser compreendido como um fenômeno alternativo, que valoriza os aspectos heterogêneos das culturas e as experiências autênticas - porque subjetivas - que se pode ter com os deslocamentos e os encontros. A partir desses pressupostos, a proposta deste trabalho visa analisar duas publicações postas em relação: o livro-guia da cidade de Lisboa escrito por Fernando Pessoa em 1925 - "Lisboa: o que o turista deve ver" - e o guia-livro do jornalista João Correia Filho - "Lisboa em Pessoa: guia turístico e literário da capital portuguesa" -, inspirado naquele do poeta português e publicado em 2011.
AMANDA RODRIGUES FIGUEIREDO – vide ALESSANDRA REGINA VASCONCELOS DA SILVA
ANA CAROLINA DELMAS (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - as filhas de d. joão vi: infantas luso-brasileiras
O presente trabalho refere-se a um projeto em desenvolvimento; a elaboração das biografias das filhas do Príncipe Regente e Rei D. João VI, esquecidas pela historiografia: D. Maria Teresa; D. Maria Isabel Francisca; D. Maria Francisca de Assis; D. Isabel Maria; D. Maria da Assunção e D. Ana de Jesus. Os arquivos brasileiros e portugueses guardam documentos que demonstram sua importância no cenário político do século XIX. É proposto o levantamento e análise destes - pouco ou nunca trabalhados - para que o cenário político e cultural do oitocentos possa ser estudado através de suas trajetórias pessoais e públicas. Busca-se ainda compreender sua importância no contexto político brasileiro e da Península Ibérica, procurando esclarecer de que forma se fizeram presentes e deixaram suas marcas nas relações entre esses países, e em sua política. O estudo de tais personagens trará ainda contribuição para a análise de importantes temas das historiografias brasileira e portuguesa, através de novos usos e possibilidades das biografias, que vem conquistando seu espaço por meio dos enfoques da Nova História Política.
ANA CLARA MAGALHÃES DE MEDEIROS (Universidade de Brasília) - um romance polifônico na fronteira de gênero e de vozes: o ano da morte de ricardo reis como ponte literária luso-brasileira
O Ano da Morte de Ricardo Reis (1988) é o romance de Saramago que batiza sua prosa e consuma – no sentido preconizado por Auerbach – a literatura lusitana contemporânea como pertencente ao processo evolutivo da narrativa ocidental. Este livro dialoga com a tradição literária portuguesa, habita o limiar entre produção romanesca e poética e, ainda, efetiva – inclusive formalmente – a utopia polifônica que a história luso-brasileira persiste sem alcançar. Reis – heterônimo pessoano – é alçado à condição de personagem que estabelece a ponte histórico-literária entre Portugal e Brasil: a narrativa flagra o momento de retorno do médico-poeta a Lisboa depois de longa estadia em terras brasileiras. A reduplicação ficcional, a efervescência de fatores históricos e os ricos diálogos dos mortos embotam a visão de um esteta-pagão deslocado. A polifonia enxergada por Bakhtin em Dostoiévski parece emergir também da prosa do autor lusófono que transforma a imbricada história luso-brasileira em matéria ordinária de prosa. O estudo de uma poética de gênero, bem como o estabelecimento de tipologias de personagens para os fictícios Reis, Pessoa e Lídia apontam para esta obra como romance de fronteiras – que elimina as fronteiras de gênero, de vozes e de além-mar.
ANA CRISTINA JOAQUIM (Universidade de São Paulo) - modernismo brasileiro e surrealismo português: uma leitura dos poemas: “canção do vento e da minha vida”, de manuel bandeira e "brasileira", de mário cesariny
A presente comunicação intenta fazer uma leitura dos poemas “Canção do vento e da minha vida”, do modernista brasileiro Manuel Bandeira (primeiramente publicado em Estrela da Manhã, de 1936) e “Brasileira”, do surrealista português Mário Cesariny (em Nobilíssima Visão, de 1959). Levando em consideração que “Brasileira” é uma releitura do poema modernista, abordaremos as principais características do surrealismo português, primeiramente, atentando para o fato de que se trata de uma transcrição do poema do Bandeira mediante a inserção do advérbio de negação (‘não’) – manifestação da recusa ou demolição das afirmações contidas em “Canção do vento e da minha vida”. Trata-se, portanto, de uma evidência dos métodos de criação usados pelo surrealismo: a criação do poema a partir de outro poema, confirmando a recorrência, entre os poetas surrealistas, da apropriação e conseqüente subversão dos dados da cultura ocidental – neste caso, o modernismo brasileiro. Trata-se, ainda, de pensar de que modo o diálogo que o modernismo brasileiro manteve com as vanguardas européias aparece no caso do poema de Bandeira e, por conseguinte – enfatizamos – de que modo este possível diálogo será subvertido por Mário Cesariny.
ANA LUCIA CUNHA FERNANDES (Universidade de Lisboa) - a profissão docente no brasil e em portugal no final do século xix a partir de revistas pedagógicas
A comunicação objectiva apresentar aspectos relativos à profissão docente presentes no discurso produzido e veiculado por revistas pedagógicas do Brasil e de Portugal publicadas no final do século XIX. O trabalho procura mostrar a génese e o desenvolvimento de um discurso especializado sobre educação (que viria a constituir a pedagogia no Brasil e as ciências da educação em Portugal) e sobre a profissão docente em finais do século XIX, numa perspectiva comparada, por meio da análise de revistas pedagógicas dos dois países. Analisa-se a produção de um conhecimento de tipo pedagógico com base num corpo de conhecimentos especializados e numa identidade em termos de práticas e saberes, no contexto da consolidação das ciências sociais e humanas e da emergência do modelo da escola de massas. Em relação às fontes, foram analisadas a Revista Pedagógica (1890-1896), do Brasil, e a Revista de Educação e Ensino (1886-1900), de Portugal. Procura-se evidenciar que tais Revistas desempenharam um papel fundamental tanto na circulação quanto na produção de saberes ligados à educação e, consequentemente, na progressiva constituição do campo pedagógico e da profissão docente nos dois países, por meio da veiculação de um discurso educacional cada vez mais especializado.
ANA LUÍSA PATRÍCIO CAMPOS DE OLIVEIRA (Universidade de São Paulo) - balzac e camilo: considerações a propósito da crítica social oitocentista
Tendo em vista as obras de dois autores europeus, paradigmáticos para a literatura do mundo lusófono, o francês Honoré de Balzac e o português Camilo Castelo Branco, propomo-nos nesta comunicação a analisar o modo de composição crítica social presente em alguns romances de ambos os escritores, intencionando vislumbrar como essas tessituras críticas dialogam de forma díspar com a teoria rousseauniana do “bom selvagem”, consoante a qual o homem nasce bom, mas a sociedade, fonte inesgotável de desejos supérfluos, o degenera.
ANA LUIZA ALMEIDA E SILVA (Universidade Federal Fluminense) - estado novo ontem e hoje: uma análise dos resquícios do constitucionalismo antiliberal em portugal e no brasil
Neste trabalho, será proposto um embate entre Marcelo Caetano e Francisco Campos. O primeiro teve atuação indelével como articulador político-legislativo do governo Salazar, tendo como legado desse período, a Constituição de 1933. Já Campos representou o artífice teórico da ditadura implementada no Estado Novo ao assumir o cargo de Ministro da Justiça e dos Negócios Interiores, em 1937.
Apoderando-se da “Teologia Política” de Carl Schmitt, os dois teóricos estadonovistas imprimiram a dogmática antiliberal às estruturas políticas com autorização constitucional. A institucionalização do governo de exceção anuiu à possibilidade de o chefe do executivo legislar administrativamente, tendo, paralelamente, reforçado seu poder no combate a elementos desarticuladores do empreendimento centralizador.
Nessa estrutura verificar-se-á a dissociação de liberalismo e democracia em um mesmo regime, sendo esta última caracterizada, não pela participação, e sim pela representatividade, o que culminará num regime tutelar cujo pressuposto será a incapacidade política popular. Em um quadro comparativo, se constatará que atos normativos ainda hoje existentes, como a medida provisória, se conectam com a proposta antiliberal de legislação administrativa.
ANA MARIA BINET (Université Michel de Montaigne - Bordeaux 3 - França) - a herança de um messianismo português: o sebastianismo brasileiro, histórias do passado e do presente
Começaremos por lembrar a constante presença, no território português, de uma comunidade judaica importante, que vai marcar a cultura portuguesa em primeiro lugar, a do Brasil em seguida. Com efeito, o desenvolvimento nestes dois países de movimentos messiânicos tem, pelo menos em parte, as suas raízes numa influência judaica relativamente subterrânea.
Claro que outras influências se destacam igualmente, como, em Portugal, a do monge calabrês Joaquim de Flora, sem falar da chamada “mística dos Descobrimentos”, que vem acentuar a ideia de que Portugal é um país eleito por Deus para levar a Sua palavra aos povos ainda por cristianizar.
No século XVI , aparece em Portugal um anunciador da vinda de um Rei-Messias – trata-se de Gonçalo Anes Bandarra (1500-1566), sapateiro do norte do Portugal, região onde os cristãos-novos eram numerosos. O desaparecimento, em 1578, do jovem rei D. Sebastião em Alcácer-Quibir, e a consequente união das coroas de Portugal e de Espanha, vão permitir e explicar o desenvolvimento da crença sebástica, isto é, da crença que D. Sebastião voltaria sob a forma do Encoberto anunciado e restauraria a glória passada, e em parte imaginária, de Portugal. No século XVII, o padre António Vieira retomará a defesa deste messianismo sebástico, transformando-o num “joanismo” que lhe valeu a acusação de “judaizar”. A Ordem de Jesus, de que ele foi um membro dos mais ilustres, levou para o Brasil a crença na vinda de um Encoberto, que traria a independência a um Portugal sob domínio espanhol, assim como a expansão, à escala do Universo, da religião cristã. Desde o final do século XVI que as Trovas do Bandarra circulavam no Brasil, o espírito messiânico que as caracteriza surgindo, séculos mais tarde, em movimentos como o de António Conselheiro, de Silvestre José dos Santos, de João António dos Santos e outros...
Hoje em dia, a herança desse messianismo, à partida lusitano, é ainda patente, sobretudo no nordeste do Brasil, e objeto de estudo, entre outros por parte de um dos meus doutorandos, oriundo dessa região, que vai defender muito em breve a sua tese e cujas conclusões me servirão de base para apresentar, na última parte do meu trabalho, a situação atual dos elementos sebásticos nas manifestações religiosas brasileiras, e, sobretudo, nordestinas.
ANA PAULA TORRES MEGIANI (Universidade de São Paulo) - “dicionário das antiguidades de portugal”: estudo e edição do manuscrito
O “Dicionário das Antiguidades de Portugal” é um manuscrito oitocentista pertencente ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro. Escrito por diversos autores e possivelmente iniciado no século XVII, o texto possui cerca de 600 verbetes, em ordem alfabética, que definem e explicam a origem de, predominantemente, nomes de família, títulos hierárquicos, nomes de cidades e localidades, moedas, tributos, cargos, entre outros assuntos. Recentemente localizamos uma outra cópia mais antiga, também manuscrita, na Academia das Ciências de Lisboa, datada de finais do século XVIII, a partir da qual o manuscrito do IHGB foi realizado. Esta comunicação dedicar-se-á ao cotejamento entre as duas versões da fonte, dando continuidade ao estudo crítico que temos realizado para fins de edição desse texto ainda pouco conhecido. Nesse sentido, destacamos a relevância da existência de pontes entre instituições brasileiras e portuguesas, por meio das quais alcançaremos a execução desse estudo e de seus resultados.
ANA PAULA WAGNER (Universidade Federal do Paraná) - moçambique e rio de janeiro: a trajetória do médico italiano luís vicente de simoni (1817-1881)
Em julho de 1817, o médico italiano Luís Vicente de Simoni desembarcou no Brasil. Cerca de dois anos depois, D. João VI expedia uma carta régia autorizando o exercício da “dita ciência médica nas cidades de Portugal e em qualquer parte dos meus reinos, senhorios e conquistas”. Em 1819, Simoni foi nomeado para ocupar o cargo de físico-mor na Ilha de Moçambique; dessa experiência, escreveu o Tratado Médico sobre Clima e Enfermidades de Moçambique. Em 1821, retornou ao Rio de Janeiro, onde permaneceu até sua morte. Com o estudo da trajetória deste médico italiano e da sua produção escrita, pretendemos observar e discutir as dinâmicas de circulação de pessoas e do conhecimento médico na primeira metade do oitocentos. Entendemos, assim, que se configuram pontes científicas que extrapolam os dois lados do Atlântico (Portugal-Brasil), envolvendo Itália (e o conhecimento europeu, de um modo geral) e Moçambique. Esta comunicação integra pesquisa financiada por Fundos Nacionais portugueses, através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do projecto HC/0121/2009, “Tratado Médico sobre o Clima e Enfermidades de Moçambique”, coordenado pela Dra. Eugénia Rodrigues, do Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa.
ANDERSON COSME GUIMARÃES MENEZES (Universidade Gama Filho) - o teatro de revista brasileiro entre plumas e lantejoulas portuguesas.
Sarcástico, irreverente e recheado de críticas, o embrião do Teatro de Revista Brasileiro teria ou não sofrido influência da revista portuguesa? E este teria culturalmente se imposto como um referencial na maneira do brasileiro lançar seu olhar pilhérico sobre seus problemas? Essas de fato são perguntas que precisam ser respondidas. Afinal de contas na historiografia brasileira, é exatamente quanto à contribuição portuguesa na formação da Revista Brasileira que se acabam os consensos.
Não há como negar tal contribuição. Informações pertinentes atestam tal influência cultural, desde a maciça presença de imigrantes portugueses no contexto social e político brasileiro daquele momento, passando pela apropriação e troca de hábitos e costumes culturais, artísticos e sociais que ocorriam, até se chegar à hipótese de um significativo volume de empresários e investidores portugueses que teriam se engajado na produção e no financiamento de inúmeras companhias teatrais brasileiras.
Sob esta ótica, uma ponte artística estaria então construída e o diálogo inter-atlântico estabelecido, bastaria agora sob a égide da comprovação científica se averiguar e medir o grau de tamanha contribuição das plumas, paetês e lantejoulas portuguesas.
ANDRÉ YUITI OZAWA (Universidade de São Paulo) - cesário verde e o duplo-olhar
O presente trabalho apresentará uma prévia discussão de trabalho em desenvolvimento no programa de pós-graduação em Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo. Através e no olhar, o poeta lisboeta Cesário Verde inova ao captar através de dicotomias, o próprio movimento do mundo: feito de dualidades e logo, efemeridade. Através, a partir da concepção já apontada por Fernando Pessoa de ter sido Cesário, o primeiro a "ver" em poesia portuguesa. No olhar, pois é o próprio olhar-duplo que constrói o corpo lírico do eu, cindido entre possibilidades que não se realizam, entre espaços que se contrapõe e ideias que se confrontam, criando assim, um olhar também fugidio. O "ver" e o se "representar" por tal visão, influenciou a linguagem e a abordagem da realidade de poetas brasileiros diversos, como Augusto dos Anjos e João Cabral de Mello Neto. Assim, na intenção da construção da "ponte literária", o trabalho irá mostrar de forma sucinta, como o olhar do poeta português abre possibilidades novas de construção poética nos autores mencionados, constituindo uma influência.
ANDRÉA LISLY GONÇALVES (Universidade Federal de Ouro Preto) - liberais e constitucionalistas: brasileiros nos processos políticos do reinado de d. miguel (1828-1834)
Os vínculos entre a história de Portugal e a do Brasil estiveram longe de se afrouxar nos anos que se seguiram à emancipação política da ex-colônia portuguesa na América. A observação é válida também para o curto período do reinado de D. Miguel (1828-1834). A presente comunicação apresenta os resultados parciais de uma pesquisa que investiga a atuação de brasileiros envolvidos em processos políticos abertos contra os que combateram o miguelismo em Portugal. No conjunto de quase um milhar e meio de processos, depositados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, que abarcam todos os anos do governo de D. Miguel, na capital Lisboa, encontrei 11 envolvendo brasileiros de diferentes partes do país: Pernambuco, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro. Na sua maior parte, eram homens comuns que, em reuniões em mercearias, boticas, barbearias, becos e ruelas invectivavam contra o usurpador do Trono, irmão mais moço de D. Pedro, através de cantos e hinos; da distribuição e leitura de panfletos, de gestos e de palavras. A atualidade do tema pode ser constatada pela presença, na sociedade portuguesa atual, de um conjunto de pessoas que se definem politicamente como realistas, herdeiras do legado de D. Miguel.
ANDRÉA LUÍSA DE OLIVEIRA TEIXEIRA (Universidade Nova de Lisboa) - as óperas de antónio josé da silva: do bairro alto em lisboa para o teatro de pirenópolis, brasil.
Pirenópolis, distante cento e cinquenta quilômetros de Brasília, e cento e vinte quilômetros da capital de Goiás, Goiânia, nasceu de um pequeno campo de mineração em 1727. Mais tarde, em 1853, passou a categoria de cidade através de sua prosperidade cultural. A antiga Nossa Senhora do Rosário de Meya Ponte conserva quase intacta seu aspecto original. É uma cidade que vive sob forte apego a seus valores, tradições e apresentações culturais. A música tem um forte papel social na cidade. Isto se deve ao fato da Família Pina ter conseguido guardar durante séculos, partituras diversas que viajavam de Portugal ao Brasil, em especial, as Óperas de António José da Silva, o Judeu, estreadas no Bairro Alto em Lisboa no século XVIII. A tradição das apresentações destas Óperas se mantiveram em Pirenópolis, que geograficamente estava muito longe dos grandes centros irradiadores de cultura e desenvolvimento da época. O fato da família Pompeu de Pina ter o controle muitas vezes político da cidade e de conservar as tradições teatrais e musicais que vinham da Europa, possibilitou a preservação de inúmeros valores culturais que ainda se mantém e que fazem parte do gosto da sociedade local.
ANDREA TRENCH DE CASTRO (Universidade de São Paulo) - sob o signo do folhetim: os moldes romanescos pela pena de teixeira e sousa e camilo castelo branco
No desigual processo de difusão do romance pelo continente europeu, é inconteste a importância da literatura francesa, bem como do influxo estrangeiro para as nações periféricas. Franco Moretti, estudioso da difusão do romance europeu, atesta o caráter conflituoso das relações de poder efetivadas na prática cultural e na circulação literária no século XIX. No entanto, se Portugal e Brasil configuram nações periféricas e à margem da produção literária concentrada nos países europeus centrais, não é lícito afirmar que suas produções literárias possam sempre ser entendidas como cópias do modelo do romance europeu, ou como “réplicas mal-resolvidas de alguns modelos bem-sucedidos” (MORETTI, 2003, p.206). Sendo assim, pretendemos apresentar algumas relações entre dois romances, um brasileiro e um português, escritos durante a voga do romance-folhetim francês, cujos grandes criadores foram Alexandre Dumas e Eugène Sue. Sob o signo do folhetim e de suas viagens pelos continentes, buscaremos apontar convergências e divergências entre o romance O Filho do Pescador (1843), de Teixeira e Sousa, e o romance Anátema (1851), de Camilo Castelo Branco, buscando verificar ou contestar a veracidade das afirmações de Franco Moretti.
ANGELA BRANDÃO (Universidade Federal de São Paulo) e MARALIZ DE CASTRO VIEIRA CHRISTO (Univ. Federal de Juiz de Fora) - modelos de mecenato e colecionismo artístico entre portugal e brasil
Os estudos histórico-artísticos tem indicado a importância do mecenato, como prática associada ao colecionismo, para se compreender os fenômenos artísticos. Interessa-nos transportar uma abordagem da história do mecenato e do colecionismo para o contexto luso-brasileiro. José Fernandes Pereira indicou a falta de estudos sistemáticos a respeito de um mecenato barroco em Portugal. Para o autor, o termo não havia encontrado ainda definição conceitual e metodológica adequada à produção artística do Setecentos português. Entendia que fora o clero a ter atuação mais importante e renovadora, em lugar da Corte. Foi bem compreendido o papel do mecenato por parte das irmandades leigas e ordens terceiras no âmbito das criações artistas de Minas Gerais do século XVIII. No entanto, não se deixou de relevar a importância, ainda que em menor medida, do mecenato proporcionado pelas Ordens Religiosas, e nem tampouco, pela atuação artística das dioceses. Aos modelos de mecenato e colecionismo ilustrado e religioso do século XVIII, sucedem-se práticas oitocentistas associadas ao gosto da Corte. Elementos de transformação e permanência podem ser observados na passagem dos modelos de mecenato e colecionismo de Portugal ao Brasil entre dois séculos.
ANGELA CUNHA DA MOTTA TELLES (Universidade Estácio de Sá) - a persistência de portugueses na liderança do comércio exterior no final do império e a construção de uma nova imagem de portugal no brasil.
Nas décadas de 1870-1880, vivenciava-se o processo final de desagregação do sistema escravista e o Rio de Janeiro, então capital e principal porto do Brasil, era a porta de saída do café (principal produto de exportação do país).Este era negociado por comerciantes portugueses, como Eduardo Lemos e Joaquim Ramalho Ortigão, que foram figuras de destaque na sociedade da época, sendo até mesmo, representantes do Império brasileiro em exposições internacionais divulgando o café. Além disso, ambos foram presidentes do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro. Na gestão de Eduardo Lemos, propositalmente, na semana do terceiro centenário de comemorações de Camões (junho de 1880), foi lançada pedra fundamental do prédio da biblioteca, que se transformou em marco arquitetônico de estilo manuelino português no Rio de Janeiro, numa evocação aos Descobrimentos. O Edifício do Real foi inaugurado em 1887, quando da presidência de Joaquim Ramalho Ortigão, irmão do escritor português José Ramalho Ortigão, que por sinal, registrou sua presença na festa inaugural, proferindo algumas palavras. Dentre as personalidades presentes no evento destacavam-se, a princesa Isabel e o conde d'EU, e Joaquim Nabuco, orador oficial do evento. Dessa forma, percebe-se não só, a persistência dos comerciantes portugueses no comércio exterior até o final do Império brasileiro, o lugar de destaque que ocuparam na sociedade imperial, bem como o afinco com que se dedicaram em imprimir uma nova imagem de Portugal no Brasil, vinculando língua e arte como elemento de união entre Brasil e Portugal, e emprestando a classe de comerciantes a nobre tarefa de serem os guardiões e propagadores da cultura lusófona no Brasil.
ANGELA MARIA ROBERTI MARTINS (UNIGRANRIO) - aspectos da vida e obra do português mota assunção e sua relação com a experiência libertária no rio de janeiro – algumas considerações
Este texto é parte de uma investigação sobre a experiência libertária do português Mota Assunção no Brasil entre os anos finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Militantes estrangeiros, com destaque aos portugueses fixados no Rio de Janeiro, marcaram presença privilegiada tanto nos movimentos políticos quanto nas mobilizações de cunho sócio-culturais, como foi o caso de Mota Assunção.
Sua experiência libertária, entretecida no cotidiano da cidade do Rio de Janeiro, apesar de breve, foi densa e sua obra bastante vigorosa. O trabalho aqui proposto pretende centrar a reflexão na contribuição desse imigrante português nos movimentos de luta política e nas mobilizações sócio-culturais implementadas pelo conjunto dos libertários, tomando por base alguns de seus textos, como artigos, livros, peças de teatro social, contos e folhetins. A análise objetiva tornar-se um olhar crítico sobre suas idéias, de forma a perscrutar sua experiência libertária como imigrante português no Rio de Janeiro.
ANITA CORREIA LIMA DE ALMEIDA (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) -entre o rio de janeiro e a ilha de moçambique: escritos de um médico letrado no oitocentos
Nascido em Novi (Gênova), Luís Vicente de Simoni, aos 24 anos e já formado em medicina, desembarcou em 1817 no Rio de Janeiro, onde trabalhou no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, até partir para Moçambique, nomeado físico-mor no Hospital Real da Ilha. Ainda em Gênova, foi sócio e secretário da Academia Literária dos Concordes. Na viagem do Rio de Janeiro para Moçambique, compôs alguns poemas; nas palavras do autor, escritos no oceano Atlântico. E, sobre Moçambique, escreveu um tratado a respeito do clima e das enfermidades da Capitania. De volta ao Rio de Janeiro, exerceu longa carreira na medicina, tendo publicado incontáveis artigos médicos, sem nunca abandonar a produção literária. Conectando experiências e saberes, europeus e tropicais, a trajetória do médico genovês pode ajudar a conhecer a história do saber médico e do estabelecimento deste campo no Brasil.
Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais portugueses, através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do projeto HC/0121/2009, Tratado Médico sobre o Clima e Enfermidades de Moçambique, coordenado por Eugénia Rodrigues, no Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa.
ANNIE GISELE FERNANDES (Universidade de São Paulo) - do portugal no brasil ao brasil em portugal: reflexões acerca do convívio intelectual na (e para a) afirmação da modernidade
Na viragem do século XIX para o XX, as relações entre Brasil e Portugal assumiram configuração muito interessante, sob vários aspectos: do ponto de vista político-econômico e do ponto de vista cultural, por exemplo, viam-se, de um lado, portugueses empenhados em reiterar a necessidade de retomada e de estreitamento de convívio entre os dois países irmãos, sob a perspectiva, ainda, de que éramos a colônia portuguesa que muito lucraria com a aproximação; de outro lado, a intelectualidade brasileira desejava não somente vincar o afastamento, mas, sobretudo, iterar a sua importância, com o natural argumento (herdado de nossos primeiros liberais e de nossos primeiros românticos) em favor do estabelecimento de uma Pátria brasileira e de tudo o mais que decorre desse sentido pátrio. Na Literatura, entretanto, se pode observar eloquente convívio intelectual que contribuiu de modo definitivo para o estabelecimento e para a afirmação da modernidade em ambos os países; pode-se, numa via de mão dupla, considerar como exemplares a participação significativa de Ronald de Carvalho em Orpheu e na presença de António Nobre e nos ecos de António Ferro na produção modernista brasileira. Desenvolver essa reflexão é a proposta dessa intervenção.
ANTONIO AUGUSTO NERY (Universidade Federal do Paraná) - o último eça na perspectiva “entre campo e cidade” de antonio candido
A obra completa de Eça de Queirós costuma ser compreendida por denominações que demarcam características distintas entre as primeiras obras produzidas pelo autor - como os textos coligidos postumamente nas Prosas bárbaras (1903) -, as ficções detentoras de características explícitas do Realismo - como O crime do Padre Amaro (1871) e O primo Basílio (1878) -, e os textos escritos em sua última década de vida - como A cidade e as serras (1901) e A ilustre casa de Ramires (1900). Tal compreensão crítica parece estabelecer-se quando os primeiros e os derradeiros textos produzidos por Eça são comparados com as ficções que o consagraram como o grande escritor do Realismo português. O presente trabalho pretende analisar essa compreensão, tomando por base a já clássica leitura da ficção de Eça de Queirós realizada por Antonio Cândido no artigo “Entre campo e cidade” (1964). Questionaremos especificamente o lugar ocupado pelos últimos escritos de Eça, expondo que uma divisão demarcada da obra queirosiana pode não prever que tais textos são detentores de inúmeras características críticas encontradas em outras obras canonizadas como sendo mais “representativas” do autor.
ANTÓNIO PEDRO PITA (Universidade de Coimbra) - antónio ramos de almeida: singularidades de uma leitura portuguesa da cultura brasileira
António Ramos de Almeida foi um intelectual, poeta, crítico e ensaísta português. Nasceu no Brasil (Olinda – Recife), em 1912 e morreu em 1961, na cidade do Porto.
A sua intervenção desenvolve-se na órbita do chamado “neo-realismo”, de que foi um dos corifeus.
Dedicou particular atenção à cultura brasileira, sobretudo à literatura produzida depois dos anos trinta, cujo conhecimento em Portugal promoveu intensamente.
A presente comunicação pretende:
primeiro, recordar a figura de António Ramos de Almeida, neste momento bastante esquecida e restituir os pontos de referência fundamentais do seu itinerário biográfico;
segundo, sumariar os aspetos essenciais da obra, que se desdobra pela poesia, o ensaio e a reflexão teórico-política, sem esquecer uma importante incursão no jornalismo cultural, através da criação do “Suplemento Literário” do Jornal de Notícias, importante jornal diário da cidade do Porto;
terceiro, analisar de que modo os pressupostos e o sentido da produção consagrada à cultura e à literatura brasileiras dão forma ao que podemos chamar a “mediação brasileira” do neo-realismo português.
Na economia de apresentação da comunicação será enfatizado o terceiro objetivo.
ANTONIO ROBERTO SEIXAS DA CRUZ (Universidade Estadual de Feira de Santana) eFABIANA SENA DA SILVA (Universidade Federal da Paraíba) - correio das modas e novo correio das modas: modos de ser mulher em lisboa e no rio de janeiro do século xix
O presente trabalho tem como objetivo tornar visível a representação de mulher nos jornaisCorreio das modas (1807), publicado em Lisboa, e o Novo Correio das Modas (1854), publicado no Rio de Janeiro. Embora haja distinção de períodos e da origem dos jornais, havia um modo comum de escrever e publicar as suas notícias próprias da época, o que possibilita estreitar as relações entre Lisboa e o Rio de Janeiro para situar a rede de comunicação que havia entre elas. Para tanto, esses jornais foram analisados na perspectiva da Nova História Cultural, a qual tem considerado os usos da escrita como uma fonte bastante significativa para compreender como comunidades ou indivíduos constroem suas representações de mundo e as investem de significação. Correio das modas e Novo Correio das Modas foram destinados às mulheres, e, ainda que apresentem as suas materialidades distintas, ambos os periódicos apontam semelhanças para orientar suas leitoras sobre modos e formas de ser mulher nos dois lados do Atlântico. Nesse sentido, os jornais supracitados ofereciam às leitoras de Lisboa e as do Rio de Janeiro, em épocas diferentes, instruções sobre a vida doméstica ao mesmo tempo em que as divertiam através de diversos gêneros literários no Oitocentos.
ANTÔNIO RODRIGUES DA SILVA (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) - a inversão parodística d'o primo basílio em memórias póstumas de brás cubas
O surgimento da obra O primo Basílio no Brasil revestiu-se de tamanha importância nos meios culturais do século XIX, a ponto de um periódico da época, a Revista Ilustrada, eleger a polêmica sobre o romance como uma das três mais sérias questões do momento para o País. Em artigo publicado na revista O cruzeiro, em abril de 1878, Machado de Assis faz duras críticas ao romance de Eça de Queirós, e vê no livro de estréia do escritor português, O crime do padre Amaro, um plágio do romance La Faute de l’Abbé Mouret, de Emile Zola. Se Machado, no âmbito da crítica, diz fugir das “generalidades do diletantismo literário” preferindo antes recorrer a “análise sincera”, como prova da lealdade de sua crítica e da sinceridade da sua admiração por Eça, no campo da ficção parece levar adiante essa tarefa crítica emMemórias póstumas de Brás Cubas. Inúmeras são as referências textuais nessa obra que permitem estabelecer uma relação de intertextualidade com a do romancista português.
AUGUSTO RODRIGUES DA SILVA JUNIOR (Universidade de Brasília) - meditações vieirianas: o catolicismo carnavalizado e a formação da cultura luso-brasileira
Padre António Vieira articulou cenas e ideias no Século XVII a partir dos seus escritos luso-brasileiros. Ampliando e renovando o catolicismo carnavalizado medieval português, suas intervenções discursivas fizeram dele um grande pensador de “lá e de cá”. Um ideólogo capaz de rivalizar intelectualmente com os grandes pensadores europeus (eclesiásticos ou não) deste período, tais como, Erasmo, Montaigne, Rabelais, Cervantes, Shakespeare e Pascal. Estabelecendo-se em uma profunda condição de performance social, ele fizera de seu púlpito um locus dramaticus para discussões que extrapolaram o campo religioso e que permitem mapear um pensamento simbólico do jesuíta sobre o rito e o estético, o ético e o polifônico, o literário-discursivo e a performance. Neste sentido, compreende-se o catolicismo carnavalizado, o pensamento de fronteira e a letra e a voz como perspectivas que incidiram diretamente na formação da cultura luso-brasileira no contexto da colonização e, consequentemente, das meditações vieirianas.
BEATRIZ HELENA DOMINGUES (Universidade Federal de Juiz de Fora) - modernismo presencista em portugal e modernismo antropofágico no brasil: uma abordagem comparativa
A proposta desta comunicação é uma análise comparativa entre o modernismo português e o brasileiro focando em duas vertentes, respectivamente a “presencista” em Portugal e a “antropofágica” no Brasil. No interior da primeira selecionei o pensador José Régio (1901-1969) e da segunda Oswald de Andrade (1898-1954). A ideia é verificar em que medida a combinação entre o ideal estético e o ideal ideológico, que caracteriza a antropofagia brasileira - e que dá o tom do Manifesto Pau-Brasil (1924) e do Manifesto Antropófago - (1928), também apareceu nas formulações de alguns modernistas portugueses ligados à Revista Presença, com destaque para alguns poemas de José Régio e para as “Páginas de doutrina e crítica da “Presença”. A comparação envolve também aspectos biográficos de ambos e se propõe a auxiliar nas reavaliações sobre a integração entre movimentos culturais no interior do mundo luso-americano.
BEATRIZ HELENA SOUZA DA CRUZ (Universidade Federal Fluminense) - pai passado, filhos futuro num mundo em construção
Em “Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya”, Jorge de Sena estabelece diálogo entre momentos de opressão ditatorial histórica e geograficamente afastados. A partir disto, esta comunicação se deterá sobre a aproximação entre filhos pelo mundo afora, a partir de um pai que, olhando para o passado, demonstra o seu temor pelo futuro daqueles que deixará no mundo, particularmente filhos portugueses e brasileiros de um mesmo pai poeta.
BEATRIZ MOREIRA ANSELMO (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-Araraquara) - teatro em caleidoscópio: os fragmentos de dramas de fernando pessoa
Com a fragmentação heteronímica, o poeta lusitano Fernando Pessoa (1888-1935) nos expressa a crise gerada pela impossibilidade de relação entre o sujeito moderno e aquele mundo que vivia sob as aparências de um pensamento direcionado ao enriquecimento material. Daí que o estilhaçamento, a dissociação, a fragmentação e a pulverização da identidade do sujeito seu contemporâneo se refletem não só nas personagens da heteronímia, mas também em textos dramáticos. Além da literatura destinada a compor o drama em gente, Fernando Pessoa escreveu textos destinados ao teatro e deixou muitos projetos fragmentados e inacabados. Seu único drama concluído foi O marinheiro (1915). Todavia, tanto nos textos inacabados como no próprio O marinheiro permanece o talento do poeta-dramaturgo em construir textos que têm a estética do fingimento herdada dos simbolistas como elemento imprescindível para a representação artística. Esse trabalho pretende tecer um estudo dos textos dramáticos fragmentados de Fernando Pessoa com o intuito de evidenciar elementos da estética dramática simbolista no processo peculiar de construção do teatro do autor português.
BENEDITO COSTA NETO FILHO (UNICURITIBA) - o "português" no brasil: três momentos históricos
A imagem dos portugueses no Brasil surge em variadas formas ao longo da História, acompanhando os discursos sobre o cidadão português, Portugal e a relação entre Brasil e Portugal. A literatura, como divulgação ou dissipação desses discursos, incorpora-os e os mostra à sua maneira. Ora temos a representação do tolo, ora a do espertalhão, ora ainda temos a representação de mais do que um mero indivíduo e, sim, a marca de identidade do Brasil. Nessa pesquisa, demonstra-se como a figura do português atravessa três diferentes produções literárias, em três tempos: “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo, poemas de “Oswald de Andrade”, como “A descoberta” e o romance “Os rios inumeráveis”, de Álvaro Cardoso Gomes. Temos, então, um arco histórico de cem anos, que possibilita uma investigação bastante profunda. A linha de pesquisa segue a do doutorado do autor: a relação entre a Literatura e a História. Mostrar-se-ão os discursos revisionistas sobre a relação Portugal-Brasil, com ênfase nas relações atuais, em particular as do romance de Gomes, em que uma “alma” portuguesa perpassa toda a história do Brasil, como se o Brasil tivesse “alma portuguesa”. A base teórica serão as questões discursivas em Mikhail Bakhtin e Michel Foucault.
BIANCA SANTOS COUTINHO DOS REIS (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - maria amália vaz de carvalho e o jornal do commercio do rio de janeiro
O Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, periódico tradicional da Corte brasileira, que já havia comemorado seu 50º aniversário de fundação, recebe, em 1878, uma escritora portuguesa que, “revestida do honroso cargo de folhetinista”, vem “falar às suas leitoras de aquém do Atlântico”. Este periódico que se declarava conservador, pois precisava afirmar-se como jornal forte, influente de uma elite fina, intelectual, letrada, rica, patriota e conservadora como se considerava a sociedade carioca da segunda metade do século XIX, passou a contar com a colaboração regular da escritora Maria Amália Vaz de Carvalho (1847–1921). Em seus artigos e contos podemos observar temas relacionados ao dito mundo feminino. Entretanto, ao longo de sua contribuição, que durou aproximadamente 40 anos, há a livre expressão de suas opiniões acerca da política, sociedade e literatura em um meio onde havia predominância masculina de articulistas. O presente trabalho busca apresentar um breve levantamento da sua colaboração ao periódico em questão e indicando, por ora, os temas mais frequentes sobre os quais se debruça.
BRUNO ANSELMI MATANGRANO (Universidade de São Paulo) - réquiens simbolistas: manifestações da tópica da morte na poesia de cruz e sousa e camilo pessanha
O presente trabalho pretende mostrar a importância do tema da morte na conjuntura da poética simbolista brasileira e portuguesa, ao mesmo tempo em que visa apontar como este topos se manifestou nas obras dos dois maiores expoentes do movimento simbolista de língua portuguesa: o brasileiro João da Cruz e Sousa (1861-1898) e o português Camilo Pessanha (1867-1826).
Através da leitura e análise de poemas de ambos os poetas, espera-se verificar como são produzidas atitudes distintas no que concerne à morte, atitudes em que se percebe a dúvida e a hesitação, oscilando entre a aceitação pacífica e a revolta diante do fim certo; entre a crença em uma transcendência e uma espécie de ceticismo. Além disso, pretende-se discutir os símbolos mais utilizados por Pessanha e Cruz e Sousa na representação do tema da morte em suas obras poéticas, na tentativa de mostrar suas semelhanças e diferenças no âmbito de um movimento melancólico como foi o Simbolismo.
BRUNO COSTA DE OLIVEIRA (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) - memória e literatura: encontros com saramago
O presente trabalho pretende discutir as possíveis relações entre a memória e a literatura, buscando potencializar a criatividade em detrimento das representações. Para tanto, nosso ponto de partida será o livro “História do Cerco de Lisboa”, do escritor português José Saramago, tendo como referencial teórico, principalmente, as leituras de Nietzsche e Benjamin. A problematização no campo da memória social a partir do citado romance histórico levantará algumas questões relativas a experiência do tempo, fazendo do passado algo não isolado do presente, bem como a estética da memória a partir de um futuro do pretérito e suas relações com a verdade e a mentira, e por fim, evidenciando o caráter ético e político de uma memória criativa.
BRUNO DA COSTA E SILVA (Univ. Federal de Minas Gerais) - ruy belo: hóspede e peregrino sobre o mundo
No cenário da poesia portuguesa, 2011 foi um ano marcado pela comemoração do cinquentenário da publicação de Aquele grande Rio Eufrates, livro de estreia de Ruy Belo. Diante disso, torna-se mais que oportuno revisitar a obra deste poeta que se consolidou como um dos nomes emblemáticos da lírica portuguesa pós-Pessoa. Assim sendo, esta comunicação tem como objetivo analisar algumas poemas de Transporte no tempo e Homem de palavra[s] sob a luz do estrangeiro, com a finalidade de mostrar que a questão pode ser uma linha de força bastante significativa da poética beliana. Para tanto, apoiaremo-nos em Julia Kristeva, com o intuito de aproximar o sujeito “hóspede e peregrino sobre o mundo”, que se inscreve em Ruy Belo, ao “estrangeiro para si mesmo”, na acepção da referida psicanalista e teórica da literatura.
BRUNO KAWAI SOUTO MAIOR DE MELO (Universidade Federal Rural de Pernambuco) -desagravos e glórias de um pernambucano a trajetória de d. domingos do loreto couto: igreja, governo e disciplina no império português (1696-1762)
A presente comunicação se propõe a analisar um dos importantes autores da literatura histórica pernambucana, Dom Domingos do Loreto Couto, autor da obra Desagravos do Brasil e Glória de Pernambuco, concluída em 1757. Nascido no Recife, provavelmente em fins do século XVII, ordenou-se Lisboa. Em Portugal, D. Domingos viveu durante oito anos empreendendo “atos escandalosos” fora do domínio de seus superiores, até que foi enviado para a Bahia, onde passou dois anos como apóstata, sendo preso no convento de São Francisco, recebendo concessão para retornar aos ares pátrios, onde passaria a residir vários anos na casa de seu pai e de suas irmãs viúvas. Em Pernambuco, não retornou a sua ordem religiosa, motivo pelo qual vinha sendo perseguido; pelo contrário, alegando “achaques”, conseguiu um Breve papal permitindo-lhe o trânsito da ordem de São Francisco para a de São Bento. A reconstrução da memória histórica de D. Domingos revela-se com uma possibilidade de investigação sobre o entendimento da dinâmica jurídica cultiva pela Igreja portuguesa em meados do século XVIII, o que será realizado a partir da trajetória singular de um Frei/Dom “escandaloso”, visitador da Diocese de Olinda e acadêmico supranumerário na Academia Brasílica do Renascidos.
CAIO GAGLIARDI (Universidade de São Paulo) - o brasil da 'presença'
Entre as muitas revistas culturais portuguesas da primeira metade do século XX, talvez seja aPresença aquela que mais tenha contribuído para estabelecer a crítica literária em Portugal. Deve-se à sua vocação ensaística a sensível ampliação do horizonte de recepção literária em seu país, com o início de uma divulgação textual e crítica do primeiro modernismo, que havia, já pelos anos 1930, caído em relativo esquecimento. Paralelamente, os presencistas foram responsáveis pela recepção de autores como Dostoiévski, Gide e Proust, tomados em suas páginas como exemplos de uma literatura de fundo psicológico bem explorado. Na mira dessa perspectiva revivalista, a literatura brasileira despertou o franco interesse dos jovens coimbrãos, configarando-se como uma importante – e ao mesmo tempo pouco explorada – referência literária do movimento. À luz dessa constatação, o objetivo deste trabalho é analisar o teor e o alcance da crítica presencista sobre a literatura brasileira, ao mesmo tempo que procurará, em contrapartida, especular a respeito de um possível influxo da literatura brasileira na articulação do ideário presencista.
CARLOS ANDRÉ SILVA DE MOURA (Universidade Estadual de Campinas) - debates político-religiosos entre intelectuais portugueses e letrados no recife (1910 – 1937)
Os debates entre intelectuais luso-brasileiros no início do século XX abordaram temáticas importantes para o desenvolvimento dos dois países, como as questões políticas, culturais e econômicas. Os diálogos transoceânicos foram fundamentais para a formação dos discursos político-religiosos no Brasil e em Portugal, que nesse instante passavam por mudanças que incentivaram as propostas que defendiam a intervenção do Estado para a formação de uma política forte e autoritária, baseados nas orientações da Sé Romana. Em nosso trabalho, analisaremos os debates entre os homens das letras que defendiam o projeto de Restauração Católica em Portugal e na cidade do Recife. Para isso, examinaremos as publicações que circularam nos dois países, como os jornais Brasil-Portugal, Brotéria e a revista Atlântida, observando a construção das ideias de recatolização no mundo luso-brasileiro. Também será importante perceber o envolvimento dos movimentos de massa com as instituições religiosas, valendo-se das relações do político com o religioso para a legitimidade de proposições que defendiam a sacralização da política.
CARLOS EDUARDO MENDES DE MORAES (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho - Assis) - desenvolvimento pela palavra: a primeira academia histórico-literária do brasil
Pensar o desenvolvimento do Brasil anterior à chegada da família real envolve pesquisa em diversas frentes. Destacamos a que se fundamenta na tentativa de registro histórico oficial de Portugal e de suas colônias, discutindo os desdobramentos da criação de um ambiente oficial de produção desses registros, a Academia Real da História Portuguesa (1720) e a consequente inserção da província do Brasil nesse contexto. A partir de uma perspectiva histórico-científica-literária-cortesã, criaram-se as duas primeiras academias de Salvador, frutos do desenvolvimento da ARH, as quais foram responsáveis, entre os anos 1720 e 1760, pela fundamentação dos pilares que originaram a expressão literária brasileira nas décadas seguintes, quer pela reunião dos papéis, quer pelo amadurecimento das relações desenvolvidas entre os membros da classe intelectual para cumprir o intento. Assim, unem-se dados das histórias militar, científica, antropológica, etc. aos fundamentos das artes retórica e poética, permitindo a difusão de trabalhos nos diversos campos da intelectualidade no Brasil e estabelecendo-se os fundamentos para a “inauguração” da sua literatura.
CARLOS HENRIQUE VIEIRA (Universidade Federal de São Paulo) - do lamento ao deboche: para uma leitura de adília lopes
A poetisa portuguesa Adília Lopes surge no apagar das luzes do século XX, 1985, transformando o banal e o cotidiano em matéria poética, evocando e rescrevendo em seus poemas os grandes nomes da tradição lírica não apenas portuguesa, mas mundial, ditos populares e até mesmo slogans publicitários, lançando mão de elementos autobiográficos e de um humor debochado, que beira a crueldade, e que na maioria das vezes é utilizado contra si mesma.
Desde a sua estreia, Adília vem provocando uma série de controvérsias, tanto entre os críticos e estudiosos de poesia quanto entre o público. No contato com a sua obra há aqueles que enxergam uma singularidade única, enquanto outros diante do estranhamento causado pela escrita da “poetisa pop” chegam até mesmo a se questionar: mas isso é poesia?
Pretendemos analisar algumas das principais características da poesia de Adília Lopes e que podem ser identificadas em poemas como “Meteorológica”, entre outros; poema esse que fora reunido na Antologia (2002), título responsável por apresentar uma parte da poesia adiliana ao público brasileiro, lançada através de uma parceria entre as editoras 7 Letras e Cosac & Naify na Coleção Ás de colete no ano de 2002.
CARLOS ROGERIO DUARTE BARREIROS (Universidade Presbiteriana Mackenzie) -princípios formais e processos sociais: para a análise das literaturas portuguesa e brasileira
Para Boaventura de Sousa Santos, o estruturante básico da experiência coletiva portuguesa é a condição semiperiférica, na qual o país figurava, simultaneamente, como centro de um império colonial e como periferia da Europa. Para Roberto Schwarz, a experiência brasileira está marcada pelo descompasso entre ideologias – oriundas de países centrais – e realidade nacional concreta, em que aquelas não têm cabimento e acabam por ser subsumidas por práticas que lhes dão nova feição e as invalidam.
Semiperiferia e descompasso: acreditamos que a leitura de Roberto Schwarz, destinada à investigação da obra de Machado de Assis, pode servir de modelo para a leitura para as relações entre processos sociais e formas literárias portuguesas, partindo dos estudos de Boaventura de Sousa Santos. As finalidades da apresentação serão, pois: a) estabelecer alguns pontos de contato entre as experiências sociais e históricas dos dois países, especialmente no que diz respeito a suas condições intermediárias, a partir dos estudos de Boaventura de Sousa Santos; b) investigar de que forma Roberto Schwarz estabelece a relação entre processos sociais e forma literária do romance machadiano; e c) apresentar exemplos dessa relação em romances portugueses dos séculos XIX e XX, na especificidade lusitana da sociedade e dos temas e imagens literários.
CAROLINA BECKER KOPPE COSTA (Universidade Federal do Paraná) - desejos e descobertas: a inquietação no falso estado de plenitude
O ‘outro’ é aquele que desencadeia um movimento de superação do processo de homogeneização e de permanência em direção ao espaço da diferença, proporcionando uma inquietação em que o ‘mesmo’ passa a ser contestado. Através da leitura e possível aproximação entre duas obras literárias, uma pertencente ao contexto português e outra ao brasileiro – Todos os nomes e Pequena biografia de desejos – o recorte escolhido foi o de aproximar os seus personagens centrais a partir da construção de suas subjetividades e identidades. O desejo de mudança de um estado anônimo e estático é impulsionado e/ou intensificado pela figura da mulher idealizada em ambos os casos.
CLAUDETE DAFLON (Universidade Federal Fluminense) - a ciência na pena do poeta
O processo de reforma educacional em Portugal no século XVIII esteve diretamente relacionado à promoção das ciências modernas no contexto luso-brasileiro. Uma vez que as diretrizes dadas à educação repercutiram na formação de representantes das letras setecentistas na colônia, a discussão sobre os caminhos dados às relações entre literatura e ciência no Brasil passa, num primeiro momento, pela consideração da participação de brasileiros nos quadros da ilustração portuguesa. Nesse sentido, o exercício da poesia encomiástica por autores como Manuel da Silva Alvarenga (1749-1814) constituiria uma opção derivada da condição de ilustrado comprometido com o desenvolvimento da ciência e com o progresso. Em outras palavras, expressaria a indissociabilidade da atuação como poeta, matemático e professor, visto que a exemplaridade do louvor, o seu caráter cívico e patriótico assim como seu valor pedagógico justificariam sua importância para a consolidação de um projeto político-ideológico associado à difusão do conhecimento científico.
CLÁUDIO DE SÁ CAPUANO (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) - dois estrangeirados e suas (possíveis) relações com o brasil: alexandre de gusmão e luís antonio verney
É possível pensar aspectos sócio-político-econômicos e também culturais do século XVIII português como fatores determinantes dos rumos que a então vasta colônia brasileira tomaria já em fins de setecentos. Nesse sentido, sob uma mentalidade iluminista bem peculiar em Portugal, a atuação de vários intelectuais, seja na Política Externa, na Medicina, nas Artes Literárias ou na Educação pode render interessantes reflexões a respeito das relações luso-brasileiras naquele século. Assim sendo, privilegia-se no presente trabalho a abordagem de dois nomes, Alexandre de Gusmão e Luis Antonio Verney, com o intuito de apontar de que forma suas atuações ecoaram no Brasil e determinaram rumos sócio-políticos cujos ecos se fazem perceber até o presente.
CRISTIANE D'AVILA LYRA ALMEIDA (Fundação Oswaldo Cruz) - atlântida, o “abraço espiritual” e a política de lusitanização do atlântico sul
A revista luso-brasileira Atlântida, criada pelo jornalista e cronista carioca Paulo Barreto (João do Rio) e por seu sócio e amigo português João de Barros, em 1915, foi pensada não apenas para agir como uma ponte intelectual, aproximando Brasil e Portugal. Mais que fruto de um rasgo poético, o nome simbolizava o elo extraterritorial entre as duas nações e propagava um projeto político luso-brasileiro, justamente em um momento no qual se formavam impérios ultramarinos fortalecidos por possessões coloniais, e o domínio do Atlântico e das rotas marítimas significava poderio militar, econômico e comercial.
CYBELLE SALVADOR MIRANDA (Universidade Federal do Pará) - o hospital d. luiz i da beneficência portuguesa em belém-pa e a transferência de modelos artísticos entre mares
O Hospital D. Luiz I da Beneficência Portuguesa de Belém, datado de 1877, foi projetado em linhas neoclássicas pelo Arquiteto português Frederico José Branco, o qual participou na edificação do Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro. Sabe-se que a criação das Beneficências no século XIX foi de particular importância para o desenvolvimento da sociedade brasileira, produto do intenso fluxo migratório português para o Brasil, no século XIX, com destaque para o Pará. Estes migrantes trouxeram consigo ideais estéticos que, mesclados as influências locais, também retornaram a Portugal, como é visível no caso do Hospital da Beneficência do Rio de Janeiro, que serviu de modelo ao Hospital de Fafe, afirmando a transferência de padrões do Brasil a Portugal, reforçando os laços circulares de idéias entre os dois oceanos. Esta pesquisa integra o “Inventário Nacional do Patrimônio da Saúde: bens edificados e acervos” na cidade de Belém, Pará.
DAIANE CRISTINA PEREIRA (Universidade de São Paulo) - o espaço das pensões: o mandarim e père goriot
As comparações com Balzac são sempre inevitáveis no que concerne o autor português Eça de Queirós. Em O Mandarim, no entanto, esta comparação além de inevitável, pode ser uma boa chave de interpretação para o livro. Neste trabalho, analisaremos os espaços da pensão Vauquer e da hospedaria da dona Augusta, tentando ler como ambos nos ajudam a entender a construção das personagens Rastignac e Teodoro. Tratando-se de personagens que pretendem ascender socialmente, tentaremos observar como a estruturação do ambiente nos permite conhecê-las e nos dá elementos para que possamos criar um horizonte de expectativa com relação aos destinos que Balzac e Eça de Queirós escreveram para suas personagens.
DANIEL ESSENINE TAKAMATSU ARANTES (Universidade Estadual de Campinas) - língua e literatura na revista brasileira (1895-1899)
A Revista Brasileira (1895-1899) se notabilizou pela abordagem de assuntos científicos, políticos, culturais e artísticos durante os anos em que foi editada e por reunir um dos mais seletos grupos intelectuais do final do século XIX no Brasil. De cunhagem ufanista, é a primeira fase a declarar preferência aos assuntos referentes ao país e romper com a colaboração de intelectuais portugueses. Ao observar suas páginas, notamos que a preferência pelo “Brasil e as cousas brasileiras” se dá sobretudo através da literatura, campo intimamente ligado ao programa editorial, principalmente, por recuperar escritores tidos como símbolos nacionais e pela divulgação de literatos regionalistas ou aqueles que privilegiassem de alguma forma temas intimamente ligados ao país (como Afonso Arinos, Valdomiro Silveira, Manuel de Oliveira Paiva, entre outros) para valorização brasileira. Não obstante, em algumas oportunidades uma importante discussão surgiu nas páginas da Revista Brasileira e que também se relacionava tanto ao campo literário como à proposição editorial de valorização nacional e combate ao pensamento português: a questão da língua portuguesa.
DANIEL VECCHIO ALVES (Universidade Federal de Viçosa) - identidades sob raízes e frutos: botânica e romance no "colóquios dos simples e drogas da índia" (1563) de garcia da orta
A obra que este trabalho vem tratar é o "Colóquios dos Simples e Drogas da Índia" publicada em Goa no ano de 1563, escrita pelo viajante e médico de capitães e reis, Garcia de Orta. Sem a preocupação retórica de obter uma linguagem ornada, os "Colóquios" escritos em português revelam certo ceticismo por meio dos diálogos entre o médico e Ruano, dicente de medicina. Pelos muitos continentes que viajou, Garcia da Orta valoriza diversos aspectos das culturas orientais, inferiorizando as culturas ocidentais que viviam sob forte influência de uma cultura humanista que trocara a Bíblia Sagrada pelos livros dos antigos. Em diálogos ficcionais, Orta expõe e integra instâncias culturais opostas, tornando seu texto um importante exemplar da construção dialógica entre culturas em pleno século XVI, fornecendo seus diálogos, como o crescimento das plantas, vários ramos, flores e frutos discursivos que se integram num mecanismo de ironias, no qual são contrastadas religiões, ciências e pensamentos divergentes, proporcionando ao leitor o reconhecimento de um verdadeiro embrião do construto da prosa romanesca através de uma crítica elaborada sobre as matérias médicas e as autoridades repressivas de seu tempo.
DANILO RODRIGUES BUENO (Universidade de São Paulo) - cesariny e piva: facetas do surrealismo em portugal e no brasil
O presente trabalho tem por objetivo aproximar criticamente a obra do renomado poeta português Mário Cesariny e a do poeta brasileiro, recentemente desaparecido, Roberto Piva, mediante uma análise sumária da importância do Surrealismo em Portugal e no Brasil, investigando suas repercussões literárias em cada um dos países.
DENISE MARIA RIBEIRO TEDESCHI (Universidade Estadual de Campinas) - o sistema de abastecimento de água no setecentos: a construção do aqueduto das águas livres de lisboa e do aqueduto de mariana, capitania de minas gerais
O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados obtidos na pesquisa realizada no Mestrado, na área de História Cultural na Universidade Estadual de Campinas. O fornecimento das águas constituiu uma questão importante para a gestão das vilas e cidades do Brasil-colônia. O Senado da Câmara, órgão responsável por administrar a municipalidade, esteve encarregado de garantir o abastecimento de água à população, despendendo parte de suas receitas para garantir tal serviço. Nesta comunicação abordaremos como foi construído e administrado o sistema de abastecimento de água em Mariana, Capitania de Minas Gerais. Conhecida como capital religiosa das Minas por abrigar o Bispado da Capitania, a única cidade das Minas neste período não contava com uma rede hídrica até 1749, quando foi construído um aqueduto subterrâneo e chafarizes públicos no seu espaço urbano. A partir de uma perspectiva comparativa, nosso objetivo consiste em apresentar a formação desse circuito das águas na cidade, observando as particularidades e semelhanças em relação ao processo construtivo do Aqueduto das Águas Livres de Lisboa, edificado na primeira metade do século XVIII.
DENISE ROCHA (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) - ferreira de castro (1898-1974) e a diáspora portuguesa na amazônia: história e ficção
Entre os vários emigrantes anônimos portugueses na Amazônia, destaca-se José Maria Ferreira de Castro (Ossela, Oliveira de Azeméis, 1898 - Porto, 1974), que aos 12 anos de idade, com permissão de sua mãe viúva, viajou para Belém do Pará, em busca de melhores condições de vida. Na época do declínio da riqueza proveniente da borracha, o menino conseguiu trabalho, somente, no Seringal Paraíso, apesar de ser letrado. Sua difícil vivência de quatro anos na labuta da selva, à margem do rio Madeira, junto com os migrantes cearenses e maranhenses, explorados pela engrenagem do sistema capitalista internacional, refletiu-se em toda sua vida e no romance A Selva (1930), obra precursora do Neo-Realismo, na qual apresenta a faceta radiante de um português enriquecido no comércio de Manaus, entre outros aspectos.
DILENE RAIMUNDO DO NASCIMENTO e MATHEUS ALVES DUARTE DA SILVA (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz) - a peste bubônica nas relações portugal-brasil
Até 1899, a visão que a população brasileira, em especial a da Capital da República, tinha a respeito da peste bubônica, era aquela presente no imaginário ocidental, relacionada, diretamente, às terríveis cenas presentes nas crônicas medievais e modernas. No entanto, em agosto daquele ano, a doença se fez ameaçadoramente próxima. Isto porque, na cidade do Porto, em Portugal, com a qual o Brasil, especialmente o porto do Rio de Janeiro, mantinha um intenso fluxo de imigrantes e de mercadorias, eclodiu uma epidemia de peste.
Diante dessa notícia, as primeiras medidas tomadas pelo governo brasileiro para impedir que o mal chegasse ao país foram extremamente danosas para as relações luso-brasileiras: o Porto foi considerado infecto e os outros portos portugueses declarados suspeitos; os navios saídos desses portos deveriam se submeter à quarentena de 20 dias; e mercadorias vindas de Portugal foram proibidas de entrar no Brasil.
Essas medidas, no entanto, não foram suficientes para evitar a chegada da doença ao Brasil. Em outubro do mesmo ano, pela primeira vez no país, se notificou um caso de peste, em Santos, litoral paulista e em 7 de janeiro do ano seguinte, a peste chegou à capital brasileira.
DIOGO BALLESTERO FERNANDES DE OLIVEIRA (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - camões e vicente: cantemos!
O presente trabalho, Camões e Vicente: cantemos!, seguirá a releitura, promovida pelo poeta santista Vicente de Carvalho, do soneto camoniano que tem por incipit: Eu cantarei de amor de tão docemente, através do soneto, presente em Poemas e Canções, que tem por incipit: Eu cantarei de amor tão fortemente. Neste trabalho de intertextualidade do poeta santista, ver-se-á que a sua reescritura é fundamentalmente de tom, mas que a intenção, ainda que em Camões com mais gentileza, é absolutamente a mesma: a conquista da amada.
EDIMARA LISBOA AGUIAR (Universidade de São Paulo) - palavra e utopia: esperanças de vieira
O padre Antônio Vieira é figura que vem a propósito quando o assunto são as relações luso-brasileiras. No passado foi dos escritores portugueses mais ilustres a escrever no Brasil – e se aqui grafo seu nome com acento circunflexo e não agudo é por entender que um brasileiro falando de Vieira aposta sempre em um autor nacional. No presente, Vieira é o inesquecível personagem de Palavra e Utopia, um dos títulos mais conhecidos do cineasta português Manoel de Oliveira. Nesta comunicação pretendemos discutir os textos e ideias vieiristas presentes neste e em outros filmes de Oliveira, em especial a questão do Quinto Império. A crença de que o mundo chegaria a um estado de paz universal tem sua versão portuguesa a partir de Vieira, que reinterpreta as profecias de Daniel em conjunto com as Trovas de Bandarra, e perpassa os tempos na pena de artistas e filósofos, como Garrett, Sampaio Bruno, Fernando Pessoa e Eduardo Lourenço. Oliveira traça uma relação entre o Quinto Império e a União Europeia, a partir da qual se determina um laicismo e burocracia universais, comando único para todos os territórios europeus, utopia que é como farol a guiar os navegantes, sem o qual não é possível vislumbrar o futuro à frente.
EDNA DA SILVA POLESE (Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba) - movimentos messiânicos e sebastianistas na produção ficcional – as nuances do mito
Entre os séculos XIX e XX, o Brasil vivenciou vários movimentos messiânicos, cujas características podem unir os aspectos do messianismo, do milenarismo e do sebastianismo. Os movimentos que trazem traços do sebastianismo são os seguintes: Pedra Bonita (1836-1838) Canudos (1895), Contestado (1912-1916) e Cidade do Paraíso Terrestre (1923-1925). Esses movimentos inspiraram a escrita de alguns romances, entre os mais conhecidos, O romance da pedra do reino, de Ariano Suassuna. Quaderna, personagem ficcional, descobre-se bisneto do rei da Pedra, o famigerado João Ferreira, responsável por um dos episódios mais sangrentos que marcou esse movimento de cunho messiânico e sebastianista ocorrido no sertão de Pernambuco no ano de 1836. Nos romances é possível perceber a exploração do tema ou sua refutação, como o caso de A casca da serpente, de cunho pós-moderno, que não retoma o tema do sebastianismo. Em outros, a figura de D. Sebastião é associada a de São Sebastião, apontando para uma espécie de hibridismo do mito. O intuito é mostrar as várias nuances do mito sebástico na produção romanesca da segunda metade do século XX.
EDSON SANTOS SILVA (Universidade Estadual do Centro-Oeste - Paraná) - do drama à mágica: o repertório dramático português nos palcos paulistanos (1864-1898)
A cena teatral brasileira, quase inexistente no século XIX, conviveu com um vasto repertório português que vai de 1864, ano em que sobem à cena, no Teatro São José, dramas de Augusto César de Lacerda, Ernesto Biester e José Maria de Bráz Martins, até 1898, quando a Companhia de Ópera Cômica, Opereta e Comédia, de Moreira Sampaio, apresentou, entre outros espetáculos, mágicas e operetas de Eduardo Garrido.
O Teatro São José foi aberto ao púbico em quatro de setembro de 1864, com a peça A Túnica de Nessus, de Sizenando Nabuco, e dias depois, o drama em três atos Aristocracia e Dinheiro, do escritor português Augusto César de Lacerda (1829- 1903), tem sua primeira representação no palco desse teatro.
O objetivo do trabalho é confrontar essas duas formas dramáticas: o drama, com todo o risco que a palavra implica, mas cujo significado dá-se, aqui, no contexto do Romantismo, e a mágica, elaborada como alguns críticos afirmam por carpinteiros teatrais. E a partir desse confronto responder à questão: por que a mágica e as operetas de Eduardo Garrido eram, diferente do que ocorria com alguns dramas, sinônimo de sucesso de bilheteria?
EDUARDA REGINA DRABCZYNSKI DA MATTA (Universidade Federal do Paraná) - eu e meu modo de narrar: um diálogo entre os romances aparição e dom casmurro
A voz que costuma nos acompanhar no desenvolvimento dos romances é carregada de estratégias norteadoras de sentido e posição. É sobre esta voz, portanto, que este trabalho será desenvolvido, levando em conta a relevância da figura do narrador na obra que está sendo construída. A partir de uma leitura comparada entre os romances Aparição, de Vergilio Ferreira, e Dom Casmurro, de Machado de Assis, pretendemos, pois, direcionar nossos olhos aos seus respectivos narradores, traçando uma relação entre ambos, bem como desenvolvendo uma análise referente às suas estratégias de narrar. Para tanto, discorreremos também, com base nestas conclusões, sobre o ponto de vista adotado pelos narradores, e os seus próprios caminhos, tanto como personagens como produtos do texto, no decorrer da obra que narram.
ELISABETH FERNANDES MARTINI (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - tempo de glória: o conde de ficalho e a “memória sobre a malagueta”
A carência de temperos no continente europeu, a distância dos pontos de comercialização, o altíssimo valor de mercado das especiarias e a natural superioridade tecnológica lusa nos séculos XV e XVI foram os deflagradores do período conhecido, até nossos dias, como as Grandes Navegações. Os desdobramentos alçaram Portugal à sua “era de ouro” e demarcaram o início da história moderna.
Em 1878, Francisco Manuel de Melo Breyner, o Conde de Ficalho, retoma, por meio de um projeto intitulado “Memorias sobre a influencia dos descobrimentos portuguezes no conhecimento das plantas” e cujo primeiro e único volume é batizado como “Memoria sobre a Malagueta”, o debruçar-se lusitano sobre o desconhecido e as pontes que se criaram entre Portugal, África e Brasil.
A narrativa breyneana promove o reencontro do leitor com o império em sua glória e deixa à vista os liames entre o Seiscentos e o Oitocentos. Há que desvelar na obra de Ficalho os enlaces entre ficção e não ficção, assim como sua intenção em reconduzir a nação ao centro dos acontecimentos mundiais e ao protagonismo de origem.
ELISAMA FERNANDES ARAÚJO (Universidade Federal do Pará) - o projeto estético realista português: a sociedade lisboeta pelas lentes de eça de queirós em o primo basílio
A referente comunicação que se visa apresentar foi fruto de um artigo feito para a disciplina “Literatura Portuguesa Moderna”. Nele apresento, sob a luz dos estudos de Eduardo Lourenço, todo o contexto histórico de Portugal antes do movimento realista e, consequentemente, os fatos que desencadearem o surgimento de tal movimento discorrendo, assim, sobre aspectos inerentes ao realismo. Utilizo, para tanto, a obra “O primo Basílio” de Eça de Queirós, a fim de destacar os principais aspectos que nortearam os rumos do movimento. Para tanto, têm-se como metodologia a exposição oral do conteúdo, um material de apoio – que consiste em trechos da obra e observações críticas dos livros - e slides.
EMERSON DA CRUZ INÁCIO (Universidade de São Paulo) - poesia para além da crítica
O artigo visa refletir sobre a relação entre crítica literária e os fenômenos poéticos portugueses e brasileiros da contemporaneidade, considerando a recorrente dispensa da crítica acadêmica de seu papel de mediadora, posição defendida por muitos dos poetas da atualidade.
ESEQUIEL GOMES DA SILVA (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho – Assis) - teatro português no rio de janeiro: o repertório, o público, a crítica
No livro Ideias teatrais (2001), João Roberto Faria chama atenção para a presença das companhias dramáticas europeias nos palcos do Rio de Janeiro, no século XIX. Essas empresas vinham da França, Itália, Espanha e Portugal e não se intimidavam nem com a travessia do Atlântico, nem com os riscos da febre amarela. Por conta dessa presença, os espectadores brasileiros tinham oportunidade de ver uma grande parte do que havia de melhor no teatro europeu, tanto no que se refere aos intérpretes quanto à produção dramática. Para esta comunicação, no entanto, interessa-nos apenas a presença de artistas (Furtado Coelho e Lucinda Simões) e de companhias portuguesas (companhia dramática d. Maria II) que aqui estiveram em 1885 e 1886. Nosso ponto de partida são os textos da seção “De palanque”, assinada por Artur Azevedo e publicada no Diário de Notícias, bem como os da seção anônima “Foyer”, do mesmo periódico, nos quais se fazia a crítica aos espetáculos teatrais da capital do Império. Nosso objetivo é apresentar um breve panorama do repertório e da recepção de público e de crítica dos referidos espetáculos, que poderiam desempenhar um importante papel na formação do gosto de um “público indiferente”, sobretudo em matéria de arte, como pensava Artur Azevedo.
ESTELA MARIS SARTORI MARTINI e FERNANDA CRISTINA DA ENCARNAÇÃO DOS SANTOS (Universidade Estadual de Santa Catarina) - diálogos sobre a formação da universidade no brasil: pontes históricas com portugal e institucionalização do ensino superior brasileiro
Este artigo pretende traçar uma panorâmica geral da instituição da Universidade no Brasil, assumindo a Universidade como o ponto central do ensino superior, já que as demais instituições não-universitárias sempre se posicionaram com relação a ela e podem, portanto, ser estudadas tomando-a como referência (MENDONÇA: 2000: 132). A afirmação da não existência de universidades, durante o período colonial, tem sido recorrente entre os diferentes autores que em distintas épocas e contextos vêm se debruçando sobre a história do ensino superior no Brasil. O significado dessa inexistência, suas implicações e suas causas têm sido, entretanto, objeto de interpretações divergentes (CUNHA: 2007). Algumas tentativas sistematicamente frustradas de estender aos colégios jesuítas às prerrogativas universitárias deram conta da intencionalidade da coroa portuguesa de manter a dependência em relação à Universidade de Coimbra, a rigor, a única universidade existente em Portugal. A implementação da instituição universitária, no Brasil, é tardia. Só no período que vai de 1920 a 1968, anos críticos para a história dessa instituição, a universidade efetivamente se institucionaliza enquanto tal e vai assumindo a sua configuração atual (MENDONÇA: 2000: 132).
ESTHER CALDAS BERTOLETTI (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) - projetos resgate e reencontro
“O conjunto de documentos manuscritos relativos ao período colonial e imperial existente principalmente em Portugal e em outros países europeus e também nos Estados Unidos foi o objeto de trabalho do PROJETO RESGATE DE DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICO BARÃO DO RIO BRANCO, ao longo dos últimos 25 anos. Os resultados alcançados: documentos reorganizados, re-encontrados, microfilmados, digitalizados, elaboração de verbetes-resumos, publicação de Catálogos e Guias de Fontes em um total de quase 70 volumes estão modificando o acesso à informação contida nos referidos documentos, espalhados em centenas de instituições das principais cidades européias e norte-americanas. Por outro lado, a localização no Brasil de documentos de interesse para a história colonial comum, sua organização, microfilmagem e publicação em catálogos fez com que diversos conjuntos documentais espalhados pelos dois continentes ficassem harmonizados, permitindo assim a pesquisa urbi et orbi. Os resultados alcançados pelo PROJETO RESGATE e pelo PROJECTO REENCONTRO que se pretende divulgar, e que decorreu do esforço de pesquisadores e instituições tanto brasileiras como portuguesas e de outros países, permitirão cada vez mais o maior conhecimento e acesso às fontes manuscritas consideradas “patrimônio comum” pela UNESCO. Um legado comum que se coloca à disposição dos pesquisadores das mais diversas áreas, permitindo novas pontes para um melhor conhecimento do presente”.
FABIANA SENA DA SILVA – vide ANTONIO ROBERTO SEIXAS DA CRUZ
FANIA FRIDMAN (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - a cidade no brasil colonial e imperial. algumas reflexões sobre o rio de janeiro
O trabalho trata do passado das vilas e cidades brasileiras nos períodos colonial e imperial. Com foco no atual estado do Rio de Janeiro, são privilegiadas duas abordagens: a primeira, referida à morfologia, onde apresenta-se a “escola urbanística portuguesa”; e a segunda, que procura verificar quais teriam sido os critérios de fundação e de organização dos assentamentos imperiais. Dado que as aglomerações coloniais eram criadas como um um serviço prestado à coroa interroga-se, através do papel exercido pelas urbs e por seus agentes construtores, se a partir da independência reproduziram-se os modelos reinóis.
Serão apresentados o levantamento da localização e da classificação dos diferentes tipos de povoados, recuperando-se alguns dos traçados mais característicos dos espaços formalizados do poder e aqueles combatidos por este mesmo poder - os espaços da exclusão - ; a legislação normativa e urbanística e a análise do processo da urbanização fluminense.
FERNANDA CRISTINA DA ENCARNAÇÃO DOS SANTOS – vide ESTELA MARIS SARTORI MARTINI
FERNANDA V. BOTTON e FLAVIO F. BOTTON (Universidade do Grande ABC) - calabar: a verdade não dita
Escrita em 1858 pelo dramaturgo brasileiro Agrário de Menezes, a peça teatral Calabar retrata o momento histórico da Invasão Holandesa em Pernambuco. Ambientada, portanto, entre os anos de 1630 e 1635, época em que Calabar alia-se aos portugueses e posteriormente aos holandeses, o drama histórico em questão aproveita-se da paixão amorosa do mulato Calabar pela índia Argentina para discutir as escolhas do indivíduo pela liberdade. Construindo uma ponte entre Literatura e História, o trabalho pretende observar as possíveis relações entre o tempo da escrita da peça e o tempo da ação.
FILIPE REBLIN (Universidade Federal do Paraná) - pathé-baby: o viajante cronista descobre portugal
As grandes navegações ultramarinas – que colocam Portugal como exemplo de pioneirismo no processo de expansão marítima – alcançaram, além de toda glória vivenciada pelo Reino Português no seu auge, um porto seguro. Com a colonização da nova terra, o Império conseguiu de uma só vez matéria-prima, mão de obra e mercado consumidor, transformando de forma consistente a relação com a Colônia (que viria mais tarde a alcançar status de Império). Dessa forma, os laços que ligam Portugal e Brasil são mais estreitos e mais profundos do que a grande maioria possa supor. A literatura portuguesa influenciou fortemente a formação literária brasileira, incorporando hábitos e ampliando o horizonte literário. Com a chegada do século XX o panorama se modifica: Brasil não é mais Colônia, Portugal não é mais um reino monárquico. Porém, as relações continuam próximas (não somente entre Portugal e Brasil, mas do Brasil com os grandes centros europeus de uma forma geral). É essa proximidade, ou essa visão de alguém ‘de casa’ que perpassa o livro de crônicas Pathé-Babyde Alcântara Machado. Nesse trabalho nos deteremos no capítulo sobre Lisboa, tentando captar essa proximidade, percebendo quais e como se estabelecem as influências entre Portugal e Brasil.
FLAVIA MARIA FERRAZ SAMPAIO CORRADIN (Universidade de São Paulo) - projeto autor por autor: madame e despertar do ensino da literatura
A presente comunicação trata da peça Madame (1997), de Maria Velho da Costa. Essa “digressão cênica”, nas palavras da autora, trava diálogo intertextual com Os Maias, de Eça de Queirós (1888) e D. Casmurro, de Machado de Assis (1900), enfocando primordialmente “o encontro de duas personagens maiores do imaginário ficcional em língua portuguesa”: Maria Eduarda e Capitu. Portanto, ao escrever Madame, Maria Velho da Costa pretende, como ela mesma afirma “a viva recomendação dos romances originários, para maior fruição e proveito do que aqui [na peça] possa haver”, ideia reiterada, quando explicita: “talvez isso leve as pessoas à curiosidade do texto original”. Tal proposta insere-se nos objetivos do Projeto Autor por Autor: a Literatura e História portuguesas à luz do teatro. Para tanto, pretendemos ainda apontar como Maria Velho da Costa releu os romances de dois dos maiores escritores de língua portuguesa, examinando como foram apresentadas Maria Eduarda e Capitu.
FLÁVIA VIEIRA DA SILVA DO AMPARO (Universidade Federal Fluminense) - presença de portugal em machado de assis
África, Portugal e Brasil estão firmemente entrelaçados na formação de Machado de Assis. De ascendência africana e portuguesa, o escritor brasileiro revelou desde seus primeiros esboços as tensões entre o nacionalismo e o cosmopolitismo da literatura do século XIX.
Assim, a absorção de diversas culturas, autores e obras foi desde sempre uma tendência machadiana. Porém, os críticos destacaram primordialmente a influência de escritores de língua estrangeira na obra de Machado de Assis e, mais recentemente, tem-se realizado uma releitura machadiana a partir de sua afro-descendência. Apesar da ampliação do olhar da crítica, pouco se tem estudado sobre a importância de autores portugueses na formação machadiana.
Esse trabalho tem por objetivo analisar as pontes literárias entre Portugal e Brasil na vida e na obra do escritor Machado de Assis.
FLAVIO F. BOTTON – vide FERNANDA V. BOTTON
FRANCISCO CLAUDIO ALVES MARQUES (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Assis) - pedro malasartes e os anti-heróis da literatura de cordel
De acordo com Câmara Cascudo, no folclore português há um duplo Pedro Malas Artes: “O primeiro, mais antigo, é ardiloso, astuto, enredador e sempre vitorioso. Deste teria nascido a aplicação do nome como sinônimo demoníaco. [...] O segundo é um João Tolo, João Bobo, trapalhão, idiota, infeliz em palavras e atos. É nesta encarnação que Malas Artes se popularizou mais vastamente em Portugal. Reúne muitas “estórias” famosas pela imbecilidade congênita do personagem e incurável asnidade funcional”. Nossa comunicação pretende estabelecer uma relação entre o Pedro Malasartes que migrou para o Brasil – “um Malasarte vivo, inquieto, ávido de aventuras, inesgotável de recursos e tramas, vencedor infalível de todos e de tudo” – e Cancão de Fogo e João Grilo, anti-heróis da literatura de cordel.
FRANCISCO MACIEL SILVEIRA (Universidade de São Paulo) - projeto autor por autor: florbela sob o olhar brasileiro de alcides nogueira
Transformado em Disciplinas na Pós-Graduação da Faculdade de Letras da USP sob os títulos A Literatura Portuguesa à luz do teatro e O Teatro da História na História do Teatro, o Projeto Autor por Autor objetiva traçar seja uma história da Literatura Portuguesa, seja examinar um fato histórico, partindo do enfoque crítico apresentado por textos teatrais, poéticos ou ficcionais. Graças à polifonia decorrente desta perspectiva intertextual, confrontar-se-á a visão crítica de um teatrólogo ou poeta ou ficcionista com a apresentada pela bibliografia dedicada tanto ao movimento histórico e literário como ao autor estudado. A presente comunicação visa a exemplificar o referido Projeto, examinando a figura de Florbela Espanca à luz da peça Florbela, escrita pelo dramaturgo brasileiro Alcides Nogueira.
GABRIEL DÓRIA RACHWAL (Univ. Federal do Paraná) - conversa entre gonçalo tavares e luís de camões
O premiado autor Gonçalo Tavares, em seu livro Uma viagem à Índia, insinua a realização de uma reescritura do clássico Os Lusíadas. Valendo-se da estrutura em cantos e estrofes como a da obra de Luís de Camões, mas transformando as oitavas em versos livres que beiram a prosa, o livro conta a viagem de Bloom em vez da de Vasco da Gama, impondo, além da relação com Camões, a relação com Ulisses, de James Joyce. As referências a outros clássicos da literatura ocidental não param por aí e parecem buscar uma certa exaustão das referências, que passam ainda pelo Fausto e por Édipo. O intento de Tavares parece ser o de explicitar o caráter de palimpsesto da sua obra, o que, dado o tédio que assola a viagem do seu herói, aponta para um esgotamento da própria tradição literária, criando uma cenário algo apocalíptico para o século XXI, tempo em que se inserem tanto o herói como a publicação do livro de Tavares. Nesse sentido, a comunicação que aqui se propõe busca entender o percurso, sugerido pela obra, que se inicia com o tratamento dado por Camões aos feitos portugueses no período das navegações – símbolo do movimento de globalização que o mundo ocidental vem descrevendo – até o significado e, em alguma medida, o resultado disso para o século XXI. Se o próprio Camões já reconhecia as navegações como feitos do passado, como demonstra, por exemplo, Cleonice Berardinelli em um de seus estudos sobre o poeta, Tavares imprime à sua visão desse mundo ocidental um tom ainda mais desencantado.
GABRIELA CARDOSO HERRERA (Universidade Federal do Paraná) - “cada indivíduo é o resultado de toda a gente”: um possível diálogo entre almada negreiros e paulo venturelli
De acordo com Peter Gay, em 'Modernismo', um dos atributos fundamentais compartilhados por todos os modernistas é “o compromisso com um exame cerrado de si mesmos”, seja de forma individual ou socialmente. A antiga pergunta “Quem sou eu?” torna-se uma obsessão para estes artistas. Em meio ao turbilhão da experiência modernista do início do século XX, o português Almada Negreiros e seus companheiros da Geração de Orpheu estão entre os escritores que mais se interessam pela temática do autoconhecimento. Enquanto Fernando Pessoa trata de um eu- múltiplo e Mário de Sá-Carneiro de um eu-cindido, Almada trabalha com um eu-depurado, “resultado de toda a gente”. Na conferência “Direcção única”, ele faz apontamentos sobre a relação indissociável entre sujeito e coletividade e afirma que primeiro o indivíduo tem que experimentar a multiplicidade para depois chegar ao seu eu individual e único. No início do século XXI, o escritor brasileiro Paulo Venturelli desenvolve de forma semelhante a questão do sujeito. Analisar as aproximações entre os dois escritores, especialmente entre os textos ensaísticos de Almada e o “Poema XXXIII” da obra 'A morte' (2006), de Venturelli, é o objetivo deste trabalho.
GABRIELA FERNANDES CARVALHO (Universidade Federal da Bahia) - a geração pós saramago desembarca no brasil
Se existe um elo que aproxime as culturas portuguesa e brasileira, sem dúvidas, que este passa pela língua, que permite, dentre outras coisas, a socialização das respectivas literaturas. Em diferentes momentos, um país influenciou o outro com sua arte. No entanto, qual o espaço da literatura portuguesa no cenário contemporâneo brasileiro? Quais mecanismos fazem com que a relação literária Portugal/Brasil se estreite? Os escritores portugueses publicados no Brasil representam um fortalecimento das relações lusófonas ou são as tendências de uma literatura mais globalizada? Após Saramago, e seu grande feito ao ganhar o Nobel de literatura, surge uma geração de autores que vêm se destacando por apresentarem uma escrita considerada inovadora. De alguma forma, os brasileiros estão “descobrindo” e sendo “(re)descobertos” pelos recém chegados autores portugueses. Propomos pensar como esses escritores vêm ganhando prateleiras e leitores no Brasil e quais são os signos que nos fazem afirmar que esse “desembarque literário” tende a aumentar a cada dia.
GERMANA MARIA ARAÚJO SALES (Universidade Federal do Pará) - letras portuguesas em periódicos paraenses: pontes do passado
Durante o século XIX a publicação de textos em prosa de ficção nas colunas literárias jornalísticas constituiu uma prática da história cultural brasileira. Nesse período, a imprensa se estabeleceu como uma importante ferramenta para a circulação de textos literários. Esse movimento percorreu todo o país e, particularmente no Pará, houve um significativo número de obras presentes em jornais, tanto nas colunas ao pé da página, aos moldes do romance-folhetim, quanto em notícias de vendas de livros dos pontos comerciais para este fim. Tendo em vista as exposições das produções literárias em periódicos, observa-se a expressiva presença de autores portugueses entre os textos divulgados. Para tanto, esta comunicação pretende apresentar o destaque dos prosadores portugueses que lideravam as colunas literárias e reclames nos jornais.
GIULIANO LELLIS ITO SANTOS (Universidade de São Paulo) - um pouco confiável
A relação que o narrador de A Ilustre Casa de Ramires mantém com o protagonista influencia na forma como o leitor recebe a narrativa. Por isso é importante entender essa relação para compreendermos a mensagem do romance. Muitas vezes o narrador se confunde com o protagonista, essa estrutura demonstra a adesão do primeiro ao discurso do segundo, porém, em outros momentos, temos um distanciamento através de alguns ditos jocosos que o narrador faz de Gonçalo. Neste trabalho a intenção é problematizar, através desta relação, a formação da imagem do aristocrata escritor ao longo da narrativa.
GRACIELE BATISTA GONZAGA (Univ. Federal de Minas Gerais) - diálogos poéticos entre alexandre o’neill e joão cabral de melo neto: uma leitura dos poemas “saudação a joão cabral de melo neto” e “catar feijão”
Este texto tem como objetivo a promover uma interlocução entre as poéticas de Alexandre O’Neill e João Cabral de Melo Neto. Alexandre O’Neill, poeta português contemporâneo, traça, em sua obra, uma espécie de recorte da poesia brasileira moderna, de Bandeira a Cabral. Em seus poemas, O’Neill deixa marcado elementos que apontam sua experiência como leitor, revelando as aspirações que norteiam sua escrita poética e sua paixão pela literatura brasileira, sendo uma espécie de ponte literária entre Portugal e Brasil. Isto fica evidente no diálogo poético em “Saudação a João Cabral de Melo Neto”, escrito para o poeta brasileiro, sendo uma reflexão sobre a poesia prosaica de Cabral que, por sua vez, dedica o poema “Catar feijão”, de Educação pela pedra, que é uma analogia ao processo de composição poética. Melo Neto é um escritor muito revisitado pela crítica literária e por outros escritores, por ser considerado um dos melhores poetas brasileiros e por ser um dos expoentes da “Geração de 45”, que tem como desejo a renovação da forma poética. É interessante notar que os poemas citados refletem sobre o processo poético a partir da própria poesia, promovendo, assim, uma interlocução entre a poesia portuguesa e a brasileira.
GUSTAVO AUGUSTO MENDONÇA DOS SANTOS (Universidade Federal Rural de Pernambuco) - entre a américa e portugal: a legislação contra as transgressões do clero secular na américa portuguesa
O Presente trabalho analisará a forma como a legislação portuguesa foi adaptada à realidade americana com o intuito de controlar as transgressões praticadas pela sociedade colonial, assim analisaremos as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia e as Ordenações Filipinas e como elas visavam controlar as práticas da sociedade na América portuguesa, voltando nossa atenção principalmente nos casos de transgressões que poderiam ser praticadas por clérigos seculares. Este trabalho se justifica pela necessidade de se compreender dentro dos padrões da época como foram estruturadas as normativas aplicadas à população da colônia de modo a contribuir para o entendimento da aplicação da justiça na América e para quais práticas ela estava voltada. Nossa metodologia tem por base a consulta direta aos artigos das Constituições Primeiras e das Ordenações Filipinas e a inserção destes nos debates atuais sobre legislação, comportamento e clero na América portuguesa.
GUSTAVO LOPES DE OLIVEIRA e MARIA DA CONCEIÇÃO CARVALHO (Universidade Federal de Minas Gerais) - diálogos sobre as minas setecentistas: a correspondência entre o escritor e bibliógrafo eduardo frieiro e o filólogo rodrigues lapa
As cartas trocadas entre o escritor e bibliógrafo mineiro Eduardo Frieiro e o filólogo português Manoel Rodrigues Lapa cruzaram o Atlântico por mais de quatro décadas (1938-1976), intercaladas por uma amigável convivência durante o período em que o segundo esteve exilado no Brasil. Esta comunicação pretende analisar criticamente uma parte dessa correspondência inédita resgatando os bastidores das investigações histórico-literárias sobre o século XVIII mineiro realizadas por Rodrigues Lapa que culminaram com a publicação das obras Obras Completas de Tomás Antônio Gonzaga (1957) e As Cartas Chilenas: um problema histórico e filológico (1958), assim como o papel de Frieiro como bibliógrafo na localização e divulgação de documentação até então dispersa e pouco conhecida.
HELENA BUESCU (Faculdade de Letras de Lisboa) - o projecto literatura-mundo em português
O projecto Literatura-Mundo em Português, por mim coordenado no âmbito do Centro de Estudos Comparatistas (Faculdade de Letras de Lisboa), teve início em Janeiro 2011. Propõe-se a publicação de 3 antologias em português (literaturas em português; literatura europeia em tradução; literatura-mundo em tradução)que, em conjunto, possam constituir uma perspectiva mundial da literatura vista de dois ângulos: o que se escreve em português; a posição geo-estratégica de Portugal. O diálogo Portugal-Brasil entra nesta rede de forma muito especial.
HELIO DE ARAUJO EVANGELISTA (Universidade Federal Fluminense) - câmara portuguesa de indústria e comércio do rio de janeiro faz 100 anos!
O trabalho analisa a constituição da rede representada pelas várias câmaras espalhadas no país através do destaque de que cada uma não ficou restrita a uma função empresarial, voltada à satisfação dos seus sócios, coube um esforço em fincar, defender e promover a memória, a identidade e a cultura portuguesa no Brasil. Em seguida, procuramos reforçar este aspecto a partir do papel desempenhado pela Câmara portuguesa de industria e comércio situada no Rio de Janeiro. Para tanto, tendo em conta o centenário recente da Câmara portuguesa de indústria e comércio no Rio de Janeiro, mais exatamente 16 de setembro de 2011, trabalhamos nosso objeto de estudo a partir do acervo que nos possível conhecer e sistematizar sobre esta câmara quando da elaboração de nosso livro – Rio de Janeiro, uma cidade portuguesa com certeza !
HUGO LENES MENEZES (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí) -herculano, garrett e o brasil: pontes literárias
Os diálogos entre a cultura estético-escrita no Brasil e a arte da palavra no exterior sempre se mostraram acentuados. Não esqueçamos que, entre nós, a criação artístico-verbal é um legado do colonizador europeu. Daí nossas manifestações literárias nativas terem sido encaradas como ressonância da produção nas metrópoles do Velho Mundo. Semelhante fato terminou por originar a interessante terminologia literatura luso-brasileira, a qual determinados estudiosos utilizaram, por exemplo, na classificação de um grupo de obras aqui publicadas durante o período da tutela do império português, mas impregnadas de motivos brasileiros. Alguns de seus autores, mesmo tendo origens lusas, como o Padre Antônio Vieira e Tomás Antônio Gonzaga, de tal modo se identificaram com nossos valores, que podemos considerá-los integrantes de um patrimônio comum aos dois países. Embora os diálogos entre as literaturas em causa diminuíssem diante da maior penetração das letras francesas na metade dos Oitocentos, observamos que Brasil e Portugal continuam parceiros, em particular, mantendo pontes literárias. Assim sendo, no trabalho que ora propomos, objetivamos enfocar os lusitanos Herculano e Garrett em suas relações com nossa cultura letrada.
ILCA VIEIRA DE OLIVEIRA (Universidade Estadual de Montes Claros) - os fios e os bordados: imagens de gonzaga na ficção literária brasileira
Este trabalho apresenta uma análise das imagens do poeta Tomás Antônio Gonzaga na ficção literária brasileira. A imagem do poeta inconfidente Tomás Antônio Gonzaga adquire novos traços em textos da literatura brasileira. Através de um processo intertextual, os leitores-escritores da ficção romântica, modernista e contemporânea, reescrevem a imagem metafórica do sujeito bordando o “vestido”, presente na lira XXXIV, parte 2, de Marília de Dirceu. Tal imagem, que se constituíra a partir de um auto-retrato, ao descrever o estado físico e íntimo em que se encontrava na prisão, na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, entre 1789 e 1792, terá continuidade na peça de teatro Gonzaga ou a revolução de Minas, de Castro Alves, noRomanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, nos romances: A barca dos amantes, de Antônio Barreto, e Boca de chafariz, de Rui Mourão. A imagem de Marília bordando pode ser considerada como um desdobramento da metáfora da bordadura e se encontra presente nos textos de Joaquim Norberto, Cecília Meireles e Antônio Barreto.
IRENE FIALHO (Univ. de Coimbra) - sub tegmine fagi – visões de eça de queirós sobre o brasil do seu tempo
Se Eça de Queirós nunca visitou o Brasil, a sua vida literária não pode ser separada de uma atenção constante a tudo quanto dizia respeito ao que se passava do lado ocidental do Atlântico Sul. Criticado na juventude por uma ter n’ As Farpas uma visão preconceituosa e redutora do brasileiro (quando tratava apenas do português de torna-viagem), Eça cedo viria a redimir-se das suas impressões. Iremos encontrá-lo explicando esse olhar, que denomina «romântico», no «homem material» d’O Brasileiro Soares.
Caído o Império, a nova república brasileira merece-lhe reflexões e previsões que, por uma vez, se revelam falhadas. Na mesma Revista de Portugal onde publica as «Notas do Mês» sobre a política no Brasil, escreve o seu grande amigo Eduardo Prado, sem dúvida influenciador do antirepublicanismo queirosiano. Afinal, uma das cartas de Fradique Mendes, deixada inédita pelo escritor português, é dirigida a Prado: nela se discute ainda o Império e se faz o elogio de um Brasil futuro, onde reinasse uma civilização só brasileira, que nada devesse às paternalistas influências da Europa e dos seus «três mil anos de excessos» mas afastando-se de um idealismo de dormência bucólica.
ÍRIS FILOMENA MENDES DE OLIVEIRA e NORMA SANDRA DE ALMEIDA FERREIRA(Universidade Estadual de Campinas) - autores portugueses de livros infantis e juvenis: ilustres desconhecidos no mercado editorial brasileiro?
Esta comunicação pretende apresentar e divulgar os autores portugueses de livros infanto-juvenis disponíveis para compra nas grandes livrarias brasileiras, que tenham sido publicados entre os anos de 1970 e 2010. Os dados foram obtidos, principalmente, através de fontes eletrônicas de informação, sendo este levantamento parte da pesquisa de mestrado intitulada “Diálogo lusófono sobre o livro e seu contexto: obras contemporâneas de literatura infantil e juvenil portuguesa no Brasil”, ora em andamento.
A relevância do trabalho se justifica pela ausência de pesquisas acadêmicas sobre a presença e circulação destas obras em espaços de formação de leitores no Brasil, como bibliotecas e livrarias. A análise está ancorada nos pressupostos teórico-metodológicos da obra de Darton (1992), Burke (1992), Chartier (2001,1999,1996), Barreto (2002,1998) e Coelho (2002).
A pesquisa está vinculada ao grupo “Alfabetização, Leitura e Escrita” - ALLE, da FE/ UNICAMP, São Paulo.
JANAINA TELES (Universidade do Porto) - “corpo des-mapeado”: experiências poéticas sobre as representações da mulher brasileira no imaginário português
Esta comunicação é parte da tese de Mestrado em Design da Imagem da Universidade do Porto, em Portugal. No estudo por meio da parte prática constrói-se um discurso poético, utilizando o corpo como ferramenta artística, por meio da performance em espaço público, vídeo-performance, fotografia e intervenção urbana, tendo como base temática as representações sociais que cercam a mulher brasileira no cotidiano da sociedade portuguesa. O processo de construção do trabalho apresenta características subjetivas a partir das vivências da autora na condição de mulher, de nacionalidade brasileira, antropóloga, artista, designer e pesquisadora, compartilhando provisoriamente o quotidiano português. Conceitualmente o estudo aborda questões de gênero, identidade, cultura, arte e especificamente os processos de migração e suas implicações. O trabalho parte da questão: Pode a intervenção artística suscitar questionamentos sobre os estereótipos construídos sobre a mulher brasileira em Portugal? Para isto o estudo participa de uma “corpografia”, envolvendo o corpo da pesquisadora e o espaço que o circunda propondo uma desterritorialização do corpo feminino brasileiro ao ampliar olhares referencias que vão além deste universo imaginado que interfere na vida quotidiana de muitas brasileiras que vivem em Portugal.
JAQUELINE DA SILVA RIBEIRO (Universidade Gama Filho) - mergulhando na cultura brasileira pelas influências portuguesas
A arte popular brasileira foi marcada principalmente pela influência portuguesa em sua essência. Festas populares foram trazidas ainda na época do descobrimento quando os portugueses aqui chegaram. Até que ponto essas festas se interligaram ao cotidiano do povo brasileiro e como tais influências portuguesas vieram a contribuir para a formação no nosso folclore, elo dos diversos atores sociais?
Tais mitos folclóricos foram peças fundamentais na criação de uma memória nacional, imagens como a da cuca (coca como conhecida em Portugal) e do bicho papão, bem como das cantigas de roda estiveram presentes no imaginário de muitas crianças e embutidas no cenário escolar como atores fundamentais para a perpetuação de uma cultura. O cenário escolar pode propiciar junto a reformulação desses mitos uma identidade própria, uma unidade nacional, assim como os portugueses que aqui chegaram e trouxeram consigo uma cultura arraigada incorporando suas crenças, histórias, seus hábitos e costumes.
Torna-se fundamental saber até que ponto nossos patrícios contribuíram para a formação de nosso folclore e como o povo brasileiro foi se adaptando a esses costumes.
JEANNIE DA SIVA MENEZES (Universidade Federal Rural de Pernambuco) - a justiça “bastarda” – uma leitura da negociação de autoridade sob o olhar de gregório de matos
Celebrizado por uma ‘língua afiada’ quando estavam em pauta os modos de ser da sociedade baiana no século XVII, Gregório de Mattos também espalhou a sua marca por outros espaços coloniais, mexendo com os brios de grupos que assentavam os pilares da boa ordem. A caricatura que ele elaborou além de uma afronta, também pode revelar leituras que se afinam com as novas percepções sobre os comandos da ordem nos seu nível local, como é o caso de Pernambuco. Elegemos para nossa discussão as suas falas sobre a justiça bastarda, filiando-a aos comandos de um sistema de normas fluído e uma noção de autoridade comprometida com a negociação política. Gregório tinha conhecimento apurado da ordem jurídica, porém a sátira que acompanha a sua escrita tem sido apropriada nas descrições da desordem colonial propriamente dita. Neste trabalho, proponho um olhar diferente sobre o relato satírico, dele nos apropriamos como indício das engrenagens desse universo jurídico na América Portuguesa na busca de uma compreensão mais profunda de seus mecanismos reguladores.
JESSICA LIMA DA SILVA (Universidade Federal do Pará) - saramago e lispector: uma reflexão sobre a pós-modernidade
O trabalho consiste em uma proposta de reflexão sobre a sociedade pós-moderna a partir das obras, Ensaio sobre a cegueira e A hora da estrela, de José Saramago e Clarice Lispector, respectivamente. A fluidez da identidade, a busca vã pela essência, a individualidade e a invisibilidade do ser humano em meio à sociedade, são evidenciadas por meio de diferentes linguagens, que possuem, porém, a mesma excelência em escancarar sutilmente, o que fingimos não ver. Ambas as narrativas propõe uma visão da problemática da perda de consciência do existir dignamente, despertando assim inúmeros questionamentos acerca da sociedade pós-moderna, tão contraditória e multifacetada quanto o homem pós-moderno. Portanto o que se pretende é um acordar para o que significa realmente a identidade ou se já a perdemos de vez.
JOÃO AMADEU OLIVEIRA CARVALHO DA SILVA (Universidade Católica Portuguesa) - a poesia de herberto helder entre os índios caxinauás e a contemporaneidade brasileira
Pela obra poética de Herberto Helder, pretendemos compreender relações de proximidade entre os dois povos, continuidades e desdobramentos num diálogo cultural produtivo e, todavia, complexo. Debruçar-nos-emos sobre duas realidades distintas, mas confinantes, contributos pertinentes para a compreensão do que são as raízes mais profundas do pensamento contemporâneo e da sua língua falada. Num primeiro momento, recorreremos a um poema dos índios Caxinauás, habitantes entre o Perú e o Brasil, mudado por Herberto Helder (“A criação da Lua”, in Ouolof, Lisboa: Assírio & Alvim, 1997), a partir da recolha de João Capristano de Abreu (A Língua dos Caxinauás, Rio de Janeiro: Leuzinger, 1914). No segundo momento, recorreremos a textos poéticos de Herberto Helder com uma construção frásica e uma sonoridade brasileira, publicados em Ofício Cantante (Assírio Alvim, 2009). Sobre o primeiro texto, interessa-nos o aproveitamento que o poeta faz do mito, da origem, da depuração e assunção de uma língua pessoal e restrita, fundada num ambiente simbólico e alquímico; a partir do segundo, procuraremos ainda essa língua pessoal no espaço da comunicação de massa, globalizada e sem sujeito, reduzida muitas vezes a diálogos sem substância.
JOÃO TIAGO PEDROSO DE LIMA (Universidade de Évora) - existência e ficção ou o brasil como "personagem" na escrita de eduardo lourenço
A partir de uma reflexão acerca da especificidade do ensaio tal como Eduardo Lourenço o pensa e o pratica, designadamente nas suas relações com a ficção, procura-se ver qual o lugar e a importância que o Brasil como tema, pretexto, imaginário - em suma, como "personagem" - ocupa nos diversos lugares do ensaísmo de Eduardo Lourenço. A comunicação começa assim pela explicitação de dois postulados prévios. Assim, efectua-se uma revisitação da leitura que Eduardo Lourenço realiza, a partir de Montaigne, da existência como vida escrita. Depois, visa-se explorar como, em Eduardo Lourenço, a experiência intransitiva da escrita configura a descoberta da existência como ficção (F.Pessoa). A seguir, pretende-se mostrar como o Brasil constitui um elemento protagonista na experiência ensaística de Eduardo Lourenço. Desde uma primeira imagem forjada a partir do contacto com os romancistas brasileiros nos anos de Coimbra, passando depois pela própria estadia na Bahia (finais dos anos 50) que se viria a revelar decisiva para as reflexões acerca de Portugal como destino, para terminar provisoriamente na ideia do Brasil visto como "futuro de si mesmo".
JOSÉ CÂNDIDO DE OLIVEIRA MARTINS (Universidade Católica Portuguesa, Braga) - miguel real e as narrativas do “ciclo brasileiro”
Algumas narrativas deste ficcionista português contemporâneo, Miguel Real (Lisboa, 1953), unem-se pela inspiração histórica brasileira – desde “Memórias de Branca Dias” (2003), centrado numa judia de Pernambuco com seus rituais judaicos até “A Guerra dos Mascates” (2011), que se inspira e continua o romance homónimo de José de Alencar. Neste intervalo cronológico, ainda outras narrativas: “A Voz da Terra”, com a personagem Julinho vindo do Brasil à procura de Violante Dias e a sofrer o Terramoto de 1755; “O Último Negreiro”, história do baiano Félix de Sousa, o último mercador de escravos e da Revolta dos Alfaiates em São Salvador; e “O Sal da Terra”, história romanceada de Pe. António Vieira. Recriando figuras, cenários e entrechos brasileiros; e, ao mesmo tempo, revelando certas dominantes temáticas, estas narrativas configuram um prolongado e expressivo ciclo romanesco de temática brasileira.
JOSÉ CARLOS SEABRA PEREIRA (Universidade de Coimbra) - pilares modernos da ponte camoniana
Mecenas e estudiosos, efemérides e órgãos, entre Brasil e Portugal: de Carvalho Monteiro a Zeferino de Oliveira, do Círculo Camoniano ao Arquivo Camoniano, de Joaquim de Araújo a Afrânio Peixoto, do Centenário de 1880 ao Centenário de 1924. Devoções ao mito camoniano e explorações cívico-culturais do inerente capital simbólico.
JOSÉ LUIZ MARQUES (Faculdade de Tecnologia de Indaiatuba) - a internacionalização da língua portuguesa: o caso do novo acordo ortográfico
Este trabalho discute a importância do novo acordo ortográfico (2008) ante as atuais políticas linguísticas (Orlandi, 2010), enfatizando alguns de dos aspectos políticos, sociais e econômicos para as relações internacionais do Brasil e de Portugal. Nesse sentido, apresenta dados que revelam a procura pela língua portuguesa como língua estrangeira nos últimos dez anos, e analisa, a partir desses dados,os lugares de destaque que o português tem alcançado diante dessa procura e diante das negociações internacionais com o Brasil e com Portugal.
JOSÉ OTÁVIO MOTTA POMPEU E SILVA (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - viagens ao brasil: passagens de josé saramago e egas muniz em terras brasileiras
Este trabalho visa relatar algumas passagens em terras brasileiras dos únicos portugueses que ganharam o prêmio Nobel. O médico, cientista, escritor, político Egas Moniz viajou ao Brasil em 1928, quase 20 anos antes de ser agraciado com o prêmio Nobel de medicina, esta viagem foi marcante para ele e também estreitou seus laços com cientistas e literatos brasileiros. O primeiro português ganhador do Nobel em 1949 fez demonstrações cirúrgicas no Rio de Janeiro e em São Paulo e foi recebido na Academia Brasileira de Letras e na Academia Nacional de Medicina. A polêmica em torno da lobotomia polemizou sua biografia e muitos chegaram a esquecer que antes de José Saramago ganhar o prêmio Nobel de Literatura em 1998, outro português tinha ganhado o prêmio. Egas Moniz também foi outorgado membro honorário da Academia Nacional de Medicina e foi sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras. José Saramago teve um longo contato com o Brasil, desde viagens para promover seus livros, participar do fórum social mundial, até o convite para ser sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras, este trabalho narrará passagens destes dois portugueses pelo Brasil, com transcrição de falas e trechos de suas obras.
JOSÉ ROBERTO DE ANDRADE (Universidade Federal da Bahia) - sabores portugueses: culinária em eça de queirós, o paladar do passado como ponte para o presente
Este trabalho tem o objetivo de destacar, na obra de Eça de Queirós, a importância da culinária na representação crítica da sociedade portuguesa e discutir essa representação como ponte para as possibilidades de compreensão do passado e do presente. Em artigo de 1893, Eça escreveu “Dize-me o que comes, dir-te-ei o que és” (Obra Completa, Vol. III, p. 1226). A máxima foi tomada muito a sério pelo escritor. A leitura da fortuna crítica e os estudos que venho realizando de suas obras demonstram que cozinha e refeições não são tema menor e decorativo. Eça “dispensa-lhe o desvelo de um aficionado à nona arte e a atenção de um discípulo do realismo” (QUEIROZ, Maria José, 1994, p. 200). Sentar à mesa com Eça não significa somente saborear os pratos de uma sofisticada culinária, mas também conhecer a dinâmica do processo complexo e, muitas vezes, contraditório de representação da sociedade. A leitura da relação entre a cozinha, literatura e sociedade mantém vivo o interesse pela obra de um dos escritores mais representativos da literatura portuguesa e permite saborear o passado e o presente na dinâmica do processo de permanência e de transformação. Parafraseando Eça: somos o que comemos ontem e o que podemos saborear hoje.
JOSY KELLY CASSIMIRO RODRIGUES DOS SANTOS (Universidade Federal da Paraíba) - o estilo jocoso e as artimanhas retóricas das cartas amorosas de o carapuceiro.
Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa de Iniciação Cientifica, pertencente ao Projeto de pesquisa “A escrita epistolar nos periódicos do século XIX e a constituição do campo literário brasileiro (1838 -1881)” e tem como objetivo analisar as cartas amorosas do jornal O Carapuceiro, de Pernambuco. A pesquisa fundamenta-se na articulação da retórica e das regras que norteavam e regiam a escrita epistolar do período com as pesquisas em jornais e periódicos da época. Analisamos treze cartas amorosas, cujo foco é a relação da mulher com o casamento, sendo esta sempre tratada de forma jocosa. Analisa-se o artifício dasimulation empregado pelo padre Miguel do Sacramento Lopes Gama, para assumir o discurso feminino nas epístolas do jornal.
JULIANA GESUELLI MEIRELLES (Universidade Estadual de Campinas) - o teatro de s.joão: o lócus artístico da monarquia portuguesa
Faremos uma breve análise da importância da estruturação e vigência do Teatro de S. João no início do século XIX, no Rio de Janeiro, como lócus artístico institucionalizado de espaço público. Nosso enfoque destaca as principais pontes de diálogos socioculturais e políticas com a influência do teatro português, sobretudo o Teatro de S.Carlos,de Lisboa. A ponte com o presente se dá na discussão da permanência de alguns valores artísticos que vigoram na atualidadfe, sobretudo voltados para a concepção moral da carreira artística.
JUSSARA SANTOS PIMENTA (Fundação de Apoio à Escola Técnica) - revista portugal feminino: laços tecidos entre os dois lados do atlântico
Desde o século XIX, algo mais que a simples partilha da língua portuguesa contribuiu para intensificar o interesse dos intelectuais portugueses e brasileiros em permutarem impressões e experiências, ainda que não se possa precisar até que ponto esta necessidade de aproximação tenha sido deliberadamente arquitetada. A articulação pretendida nos níveis governamental, político e econômico concretizou-se, entretanto, na esfera cultural, através de estratégias tais como a publicação de periódicos que tinham como projeto o intercâmbio e o estabelecimento de uma comunidade luso-brasileira. Entre tantas revistas literárias de dupla cidadania existentes no período, tomamos como fonte documental o periódico Portugal Feminino que passou a circular em fevereiro de 1930, contando com a colaboração de mulheres de renome e de destaque nos círculos ilustrados da sociedade lisboeta da época tais como Tereza Leitão de Barros, Ana de Castro Osório, Fernanda de Castro, Branca de Gonta Colaço, Sara Afonso, entre outras. Neste trabalho conferimos especial atenção à questão da promoção do intercâmbio luso-brasileiro entre o público feminino, entremeado a temas culturais, pedagógicos, sociais e políticos que ocuparam a centralidade das temáticas veiculadas nas páginas do periódico.
LEONARDO DE CARVALHO AUGUSTO (Pontifícia Universidade Católica - Rio) - história do cerco de lisboa – cerco à história do brasil: a historiografia como invenção da narrativa em josé saramago e oswald de andrade
A consideração da realidade como algo construído ficcionalmente não é nova. No entanto, esta ideia pode ser sentida de maneiras diversas no contexto da história como disciplina académica e no campo da literatura, no qual o desafio de repensar o paradigma objetivista da verdade não preside propriamente as preocupações dos leitores, que atribuem uma importância maior aos fenômenos urdidos na trama a partir da presença de um narrador. No caso da historiografia, espera-se que o leitor aceite tacitamente o pacto de ler o texto como uma espécie de espelho do real, descrito e representado por um ausente – o historiador – sob uma clave determinada – o passado – refletido em sua narrativa. Ocorre que, tanto numa forma de escrita quanto na outra, “o que de fato aconteceu” dificilmente pode ser aceito como uma entidade preexistente, concreta e coerente per se. A proposta de discussão para este colóquio centra fogo nos “efeitos de real” produzidos pelo uso de duas modalidades de detalhes. O “não” propositalmente oposto pelo revisor Raimundo Silva e a oralidade e o gestual dos cronistas portugueses por ocasião da descoberta do Brasil. Aparentemente insignificantes, promovem uma crise de credibilidade no leitor e iniciam uma interessante revisão historiográfica, na qual a dimensão pretérita passa a ser vista como outra, tanto no caso português quanto brasileiro.
LEONARDO FERREIRA KALTNER (Universidade Federal Fluminense) - o humanismo renascentista português: reflexos no brasil
A partir de uma análise do movimento cultural e literário conhecido por Humanismo renascentista, que, em Portugal, se desenvolveu com a chegada do humanista Cataldo Parísio Sículo em 1485 à corte de D. João II, evidenciaremos os reflexos deste movimento no Brasil quinhentista, tendo como escopo de nosso trabalho a crítica literária do primeiro livro escrito no Brasil: o poema épico "Sobre os feitos de Mem de Sá" (De Gestis Mendi de Saa), escrito em latim por José de Anchieta e publicado inicialmente em 1563 na Tipografia de Coimbra. Analisaremos os desdobramentos do Humanismo renascentista português na corte de D. João III, com a reforma da Universidade de Coimbra em 1537 e com a criação do Real Colégio das Artes em 1548, o que teria influenciado a formação de José de Anchieta, e que, por sua vez, marcaria, esteticamente, a primeira obra literária escrita no Brasil a ser publicada.
LICIA REBELO DE OLIVEIRA MATOS (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - choques culturais: o exótico presente em portugal e no brasil
A colonização exercida por Portugal durante séculos, principalmente no Brasil e nas nações africanas, rendeu ao país inúmeras pontes culturais que se manifestam até hoje. O contato com outros povos, reforçado in loco nas últimas décadas, devido às imigrações de habitantes das ex-colônias para o que acreditavam ser um país estável, corroborou essa presença do exótico na cultura portuguesa. Tal característica é marcante no país, e frequentemente abordada pela literatura, como no conto “A mulher que prendeu a chuva”, de Teolinda Gersão. O Brasil, com mais intensidade do que Portugal, absorveu influências de povos e etnias diferentes ao longo de sua história. Embora existam manifestações culturais padrão – segundo Boaventura de Sousa Santos, no ensaio “Entre Próspero e Caliban”, o multiculturalismo se baseia na disputa entre a identidade dominante e as subalternas –, aprendemos a conviver com o exótico, seja nas religiões, nas festas populares, ou em contos pertencentes ao folclore local. O romance Macunaíma¸ de Mário de Andrade, é um exemplo da literatura brasileira que aborda a convivência entre diferentes culturas numa mesma cidade e pode servir de análise para o elemento exótico no Brasil, em comparação ao conto de Gersão, que enfoca Portugal.
LIGIA CRISTINA MACHADO (Univ. Estadual de Campinas) - a presença portuguesa na "revista popular"
No século XIX, principalmente depois da chegada da família real à colônia portuguesa, a circulação de impressos aumentou intensivamente. Com a independência o fluxo cresceu ainda mais juntamente com as tipografias, livreiros e editores que se instalavam, sobretudo na capital da Corte brasileira.
Em meados do século um dos livreiros-editores da Corte, Baptiste Louis Garnier, ganhou destaque. No decorrer das décadas tornou-se famoso por editar livros dos mais conceituados escritores da época, como José de Alencar e Machado de Assis. Ainda em 1859 Garnier se propôs a publicar um periódico: a Revista Popular. Verificamos que tal revista, publicada em um importante momento de discussão da literatura nacional entre os letrados, possuía além da presença de escritores brasileiros uma considerável presença de escritores portugueses. Na seção de folhetim, ao lado dos tradicionais romances franceses encontramos o romance de um português. Fernando Castiço foi o único que conseguiu obter uma forte expressão na revista sendo publicado durante vários meses. A Revista contou também com outros colaboradores portugueses em suas diversas seções, com poesias, crônicas, crítica literária e contos.
LUCIA MARIA PASCHOAL GUIMARÃES (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - para além de uma revista literária: as dimensões políticas e econômicas da aproximação luso-brasileira nas páginas da atlantida (1915-1920)
A propósito de estimular o sentimento de luso-brasilidade, o escritor carioca Paulo Barreto – o popular João do Rio – juntou-se ao poeta, político e pedagogo português João de Barros no projeto de criação da Atlantida, uma revista literária de caráter binacional, que circulou entre 1915 e 1920. As matérias editadas pela Atlantida, todavia, não se restringiam apenas ao domínio das letras ou ao âmbito dos assuntos culturais. A comunicação pretende analisar aspectos pouco explorados do conteúdo do periódico, que levantou problemas de natureza geopolítica envolvendo Brasil e Portugal e trouxe para o primeiro plano a importância das dimensões econômicas do relacionamento entre os dois países.
LUCIA RICOTTA VILELA PINTO (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) - matrizes do primeiro romantismo brasileiro
A presente comunicação visa comparar a matriz francesa, prescrita pelo historiador literário Ferdinand Denis,e as orientações que Almeida Garret e Alexandre Herculano apontam para o programa romântico brasileiro. Para tanto, busca-se considerar a pertinência de termos contrapostos, como "imitação" e "imitação servil", para referendar a passagem do que se entende por "clássico" e por "espírito romântico".
LUCIANA PESSANHA FAGUNDES (Fundação Getúlio Vargas – CPDOC) - presidentes e reis: sobre rituais de hospitalidade nas relações luso-brasileiras.
Este artigo analisa as relações diplomáticas luso-brasileiras, no início do século XX, através de um ritual específico: as visitas de chefes de Estado. Além das relações luso-brasileiras, analisamos as representações que se faziam de ambos os regimes políticos, com intuito de pensar as relações entre Repúblicas e Monarquias. Selecionamos três visitas: a do rei D. Carlos ao Brasil, em 1908; e as visitas dos presidentes brasileiros, Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa, a Portugal, em 1910 e 1919. Tais eventos trazem uma contribuição impar para a temática proposta, a visita de D. Carlos, por exemplo, apesar de não ter ocorrido, deixou registrado todo o esforço da República brasileira para receber a realeza portuguesa. Já a de Hermes da Fonseca, ocorreu durante a proclamação da República em Portugal, e a de Epitácio Pessoa caracterizou-se como uma primeira oportunidade para afirmação de laços de solidariedade, entre Brasil e Portugal, como “Repúblicas irmãs”.
LUCIANA SALLES (PPRLB – RGPL) - de assassinos, estrangeiros e montanhas: sobre uma viagem à índia
Uma Viagem à Índia, de Gonçalo M. Tavares, é um exercício de intertextual diálogo com outras viagens, outras Índias, em que diferentes e intransponíveis montanhas se cruzam num grande entrelaçamento de assassinatos - literais e literários - sem outra justificativa que não o mero desafio ao tédio, ao excesso de liberdades, de rotas, de escolhas e caminhos possíveis. Texto que se constrói a partir de muitos textos, sua leitura, observando alguns desses diálogos e alguns dos itinerários propostos pela literatura portuguesa contemporânea, é a proposta deste trabalho.
LUCIENE MARIE PAVANELO (Universidade de São Paulo) - a literatura brasileira sob o olhar do escritor português oitocentista: pontes e polêmicas
Muito se estudou sobre a importância dos autores portugueses para a formação da literatura brasileira, seja a partir de sua influência nas obras de nossos escritores, seja, por outro lado, através de sua negação, provocada pelo sentimento antilusitano que aqui imperou após a independência. A impressão que temos, ao verificarmos a historiografia literária, é que o diálogo entre aquém e além-mar se deu somente no sentido Europa-América, e que a literatura brasileira era completamente ignorada em solo português durante o século XIX. No entanto, ao analisarmos algumas polêmicas protagonizadas por autores lusos - dentre os quais destacamos Camilo Castelo Branco -, percebemos que os escritores brasileiros eram conhecidos pelos portugueses, que se manifestaram acerca de suas produções de maneira por vezes positiva e, muitas vezes, negativa. É nosso objetivo, nesta comunicação, depreender as possíveis causas desses juízos, procurando mostrar a relevância de se estudar as pontes entre Portugal e Brasil nas duas direções.
LUÍS BUENO (Universidade Federal do Paraná) - selva e seiva: o estrangeiro, a floresta e o romance social
A compatibilidade de A selva com o romance social brasileiro se evidenciou em 1934, em duplo sentido. No Brasil, em março, Jorge Amado se vale de uma resenha sobre aquele romance para afirmar o valor de Cacau, publicado no ano anterior, que desempenharia papel fundamental na proeminência que teria o romance social. Em Portugal, em setembro, Ferreira de Castro publica o artigo que, na prática, apresentará a nova literatura do tempo ao público português. Três anos depois, o escritor paraense Osvaldo Orico publicaria Seiva, que, como A selva, era ambientado na Amazônia a partir de Belém e igualmente interessado na posição do estrangeiro face à floresta. Isso tudo com a particularidade de o autor propor uma forma alternativa de romance sobre aquela região já que, em alusão a autores como Jorge Amado – lembre-se que o uso do palavrão em Cacau alimentou grande polêmica – manifesta a pretensão de levar a cabo uma “reação do estilo contra o calão em que está degenerando a linguagem escrita”. Neste trabalho estudaremos a figuração do olhar do estrangeiro sobre a Amazônia em A selva, de Ferreira de Castro, e Seiva, de Osvaldo Orico a partir das diferenças das perspectivas sobre literatura que os animam.
LUÍS FERNANDO CAMPOS D´ARCADIA (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho - Assis) - o romanceiro de antônio da fonseca soares: uma proposta de edição
Antônio da Fonseca Soares (1631-1682) foi uma das principais figuras da poesia barroca portuguesa. Como um bom letrado do século XVII, sua pena se exercitou em diversos gêneros e formas poemáticas. Escreveu desde a poesia épica de louvor aos feitos portugueses na Guerra de Restauração, passando pela poesia lírica cortesã galante e engenhosa, até à sátira mais desbragada e pornográfica. Sua obra, como é comum aos poetas de sua geração, em sua maior parte, não foi editada, e corre sério risco de perder-se nos arquivos e bibliotecas. Apresentamos aqui os primeiros passos de uma proposta de edição, nos moldes afixados pela Crítica Textual moderna, dos poemas que se apresentam na forma de romance, a qual é usada em suas poesias de circunstância. Objetivamos apresentar os problemas relacionados à collatio de seu romanceiro, a qual reunirá o acervo manuscrito do autor conservado em códices da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, a Biblioteca da Ajuda e a Biblioteca Nacional de Portugal. A partir desse esforço, pretendermos dar o primeiro passo no sentido de preservar essa parte importante da cultura lusófona, além de procurar esclarecer um vazio na História da Literatura Portuguesa.
LUIZ DOMINGOS DO NASCIMENTO NETO (Universidade Federal de Pernambuco) - entre a fé, a arte e o ofício: a irmandade de santa cecília e a prática musical no recife (séculos xviii e xix)
As associações religiosas leigas que se apropriaram e adaptaram normas e regras do catolicismo tridentino são exemplos de instituições que atravessaram o Atlântico e chegaram à América Portuguesa agregando-se a estrutura social. É fato, que algumas destas irmandades católicas atuaram também como verdadeiras corporações de ofício viabilizando inserção de seus confrades em um mercado de trabalhos livre emergente nas urbes coloniais e imperiais. Partindo destes pressupostos, este trabalho se propõe a discutir o papel da Irmandade de Santa Cecília, como responsável em articular os diversos atores envolvidos na prática musical e suas ações, entenda-se de trabalho, tendo a execução da música como mote. Ressaltaremos a essencialidade dessa atividade para as mais diversas celebrações tomando-se como lócus o Recife, e suas freguesias contíguas. Nossa reflexão direciona-se a uma discussão que privilegia o cotidiano do trabalho livre, mas também especializado e imbricado com a prática devocional católica, ceara de pesquisa que só nos últimos anos tem recebido a atenção e os estudos merecidos.
LUIZ EDUARDO MACIEL DE AZEVEDO (Pontifícia Universidade Católica - Rio) - a paisagem na reprodução das identidades portuguesas.
A comunicação apresenta como objetivo principal interpretar a paisagem da cidade do Rio de Janeiro, tendo em vista as identidades portuguesas produzidas e representadas na cidade do Rio de Janeiro. Neste sentido, uma alternativa as representações, portanto passível de intencionalidade. A motivação para tratar de reprodução das identidades, advém do “RE”, presente na sociedade, este reconstitui novas identidades, paisagens, reorganiza, recomeça em outra parte, em outra dimensão. A tentativa é pensar na reprodução da identidade, “a reprodução dos processos” sobre a ótica intrassocial (MORIN, 2001), portanto, a formulação da identidade e as relações de conflito, sobrevivência e afirmação. A vantagem reside na geração /produção de si ininterrupta “a organização viva” que indica: “organização que se reorganiza a si própria, uma reorganização que se organiza a si própria; é uma organização que se organiza a si própria porque é uma reorganização que se reorganiza a si própria” (MORIN, 2001). Portanto, há de se conceber o RE na “reprodução de um outro ser e autoprodução da qualidade do sujeito”,“em termos de produção de alteridade”, “ em termos de complexidade reorganizadora, regeneradora, reprodutora” (MORIN, 2001).
MÁGNA TÂNIA SECCHI PIERINI (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho - Araraquara) - os pescadores e as ilhas desconhecidas: proporcionando diálogos entre passado e presente
Por muito tempo Os Pescadores e As Ilhas Desconhecidas não receberam a devida atenção da crítica e foram consideradas como menores em relação às demais obras de Raul Brandão. Estudos surgidos em meados da década de 80 têm redirecionado as reflexões em torno da importância desses títulos no conjunto das produções do escritor portuense. Mesmo publicadas no início do século XX, época de efervescência dos ideais modernistas, essas obras são compostas por elementos da tradição histórica e literária portuguesa como o relato de viagem e valores da estética simbolista, por exemplo. Esses elementos se constituem, predominantemente, por meio de uma linguagem poética e mítica que proporciona a atualização e o retorno desses ideais de estéticas tradicionais. Sendo assim, apresentaremos a constituição dessa linguagem literária híbrida em Os Pescadores e As Ilhas Desconhecidas e refletiremos sobre o estabelecimento dos diálogos entre passado e presente que são decorrentes da configuração mítica nas obras.
MAIURI FIGUEIREDO DE BRITO TEIXEIRA (Universidade Federal do Rio de Janeiro) -memórias de um pseudo-diário. uma leitura de bolor, de augusto abelaira
Como o próprio título sugere, Bolor retrata a degeneração, o desgaste das relações cotidianas, narrando um suposto triângulo amoroso. A tessitura da obra apresenta-se em forma de um pseudo-diário, exibindo uma narrativa não linear e suscitando incertezas quanto a sua autoria, se unívoca ou plural. Nessa criação literária portguesa, nota-se que há uma recorrência de lembranças semelhantes e, também, de recordações emaranhadas que alude a momentos oprimentes da história de Portugal e, ao mesmo tempo, sugere uma inquietante busca por uma reconfiguração humana e social. Analisa-se o romance considerando os registros do pseudo-diário como recursos deveras significativos, uma vez que são utilizados como artifícios para que o romance recrie, através das memórias, a opressão vivida pela sociedade portuguesa e desempenhe o seu caráter literário engajado.
MANOEL MESSIAS RODRIGUES SANTOS (Universidade Federal da Bahia) - solidão, fim de quem ama: as faces do amor homoerótico em al berto e silviano santiago
O Amor no Ocidente consolidou-se, desde a tradição platônica, sob o signo da ausência, da falta e, portanto, da busca pelo outro como forma de se alcançar o ideal de completude perdida. O desejo nasce não só da falta e da carência, mas também de um sentimento de pesar diante de algo que se perdeu. É nesta condição que emergem as personagens de “Lunário” do português Al Berto e de “Keith Jarret no Blue Note” do brasileiro Silviano Santiago. Seres cuja experiência homoerótica é, de um lado, marcada pela busca, objetivando preencher este vazio num fluxo constante que se alimenta do desejo do desejo do outro, mas que, por outro lado, acabam sendo conduzidos a uma solidão avassaladora que os domina e revela não só a condição de ser, mas também a liquefação das relações humanas. Assim, o que se pretende, aqui, é analisar de que forma a experiência do amor homoerótico se coloca numa situação permanente de desamparo, melancolia e solidão.
MANUELINA MARIA DUARTE CÂNDIDO (Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias) - relações brasil-portugal na museologia contemporânea
Durante os estudos de doutoramento em Museologia na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (Lisboa) assim como ao longo de quase 15 anos de visitas a Portugal para conhecer museus e participar de eventos científicos, construímos forte elo com a Museologia portuguesa. Ao mesmo tempo ficou patente que a ponte entre este campo científico em Brasil e em Portugal era das mais sólidas e profícuas.
Entretanto percebemos que importantes colaborações na Museologia contemporânea entre os dois países poderiam não ser muito conhecidas fora deste âmbito específico, de forma que apresentar esta reflexão em um colóquio pluridisciplinar abre diversas possibilidades de reverberação do que tem sido feito na área.
Os dois países têm contribuído fortemente com a discussão do papel social dos museus e uma inflexão destes a uma Museologia cada vez mais participativa. Têm também fortes tradições de formação acadêmica na área de Museologia, ainda que a partir de modelos bastante distintos, souberam se conjugar em colaborações mútuas com a expertise seja na troca de professores, seja nas publicações. Queremos com este trabalho aprofundar e dar mais visibilidade a estas importantes pontes científicas criadas pela Museologia luso-brasileira.
MARALIZ DE CASTRO VIEIRA CHRISTO – vide ANGELA BRANDÃO
MARÇAL DE MENEZES PAREDES (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) - relações luso-brasileiras: modos de relacionamento cultural
Este trabalho aborda os modos de entendimento do relacionamento cultural luso-brasileiro. Concentra-se nos intelectuais brasileiros dos finais do século XIX e início do século XX, tendo especial atenção para a forma como foi mobilizada a história e os vínculos culturais entre Portugal e Brasil. Explora a obra de autores como Manoel Bomfim, Sílvio Romero, Araripe Jr, Gilberto Freyre, Mario de Andrade e Oswald de Andrade, entre outros, buscando delimitar a maneira como a “herança portuguesa” foi mobilizada no processo de construção na nação brasileira. Através da análise são delimitadas linhas de interpretação do relacionamento luso-brasileiro, quais sejam: a derivação, a convergência e a condenação. Assim sendo, a pesquisa aborda as relações luso-brasileiras na sua historicidade, pondo em destaque os mecanismos intelectuais que operam escolhas, orientam leituras e demarcam opções de interpretação.
MARCELLO MOREIRA (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) - a representação da "nobreza da terra" no corpus poético atribuído a gregório de matos e guerra
Objetiva-se discutir a composição do gênero "retrato" no corpus poético atribuído a Gregório de Matos e Guerra, centrando-se a análise especificamente nos retratos em que se propõs pintar a dita "nobreza da terra", chamada nas didascálias dos sonetos em que se dela fala "Caramurus". Como se sabe, há no corpus gregoriano três sonetos dedicados aos "principais da Bahia", chamados os "Caramurus", formando o conjunto um tríptico ecfrástico de tipo prosopográfico, talvez o mais engenhoso no âmbito da poesia seiscentista brasileira. Tentar tornar explícitos os vários referenciais discursivos presentes nos retratos para que se possa interpretá-los filologicamente é um dos objetivos a que se visa aqui.
MARCIA ARRUDA FRANCO (Universidade de São Paulo) - o camonismo de afranio peixoto
A presente comunicação pretende abordar o camonismo de Afranio Peixoto, relatando a sua liderança nas comemorações do quarto centenário do nascimento do Poeta, em 1924/5, assim como algumas de suas interpretações de imagens eróticas camonianas, logo homologadas pela camonologia.
MÁRCIA HELENA MENDEZ FERRAZ e VERA CECÍLIA MACHLINE (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) - o escorbuto na "relação cirúrgica e médica" de joão cardoso de miranda
Embora ainda ignorados pela historiografia anglo-saxônica, diversos ibéricos participaram da empresa de explicar e sanar o escorbuto. Entre esses, no século XVIII, incluem-se licenciados em cirurgia nascidos em Portugal que vieram para o Brasil. Deste grupo, destaca-se João Cardoso de Miranda (?-1773), que se envolveu em diversas contendas por conta de uma receita de sua lavra contra o escorbuto. Tais contendas, que se estenderam pelo menos até 1725, tiveram início com uma carta em que ele solicita ao então físico-mor do Reino que licenciasse sua fórmula. Datada de 6 de dezembro de 1731, essa epístola foi transcrita no Tratado XII do Erário Mineral, saído do prelo em 1735, de autoria do também cirurgião lusitano Luís Gomes Ferreira. A mesma carta integra a “Relação cirúrgica e médica” de Miranda, vinda à luz em 1724. Neste livro, a epístola de 1731 fecha o Capítulo 1, que é dedicado ao escorbuto. Em complementação à sua carta, Cardoso de Miranda agora tece várias considerações sobre o escorbuto, ou “Mal de Loanda”. Propõe, inclusive, causas para essa enfermidade. Neste trabalho, serão enfocadas tais causas, assim como uma das fontes mencionadas por Miranda: o médico espanhol Francisco Suárez de Rivera (c. 1680-1754).
MÁRCIA MANIR MIGUEL FEITOSA (Universidade Federal do Maranhão) - a vivência do exílio em ferreira gullar e miguel torga: um olhar sobre a paisaigem da memória
Sob o enfoque da teoria da percepção da paisagem, fundamentada nos estudos fenomenológico-existencialistas da Geografia Humanista Cultural, objetiva-se a análise da temática do exílio na poesia do poeta brasileiro Ferreira Gullar, recentemente laureado com o Prêmio Camões, e na obra em prosa do renomado contista português Miguel Torga. Constituirão objeto de análise o consagrado Poema sujo, de Ferreira Gullar e a narrativa OSenhor Ventura, de Miguel Torga, em função da importância de ambos os textos no tocante à representação da paisagem na sua relação íntima com a vivência do exílio, experienciada tanto pelo eu-lirico de Ferreira Gullar, quanto pelo personagem principal de Torga em O Senhor Ventura. À luz dos postulados da Geografia Humanista Cultural, alicerçados nas obras Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente (1980) e Espaço e lugar: a perspectiva da experiência (1983), do geógrafo chinês Yi-fu Tuan, o presente trabalho procurará estabelecer a inter-relação entre a representação literária e a cosmovisão geográfica.
MARCIA REGINA CAPELARI NAXARA (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Franca) - brasil/portugal: presente e passado entre história e imaginação [ou] imaginação histórica
Tenho por objetivo colocar em diálogo alguns aspectos dos escritos de Oliveira Martins e Manoel Bomfim a propósito da relação Brasil/Portugal que, embora partam de um viés primordialmente histórico, encontram-se relacionados de perto à ciência, à literatura e à imaginação, na perspectiva de constituírem interpretações explicativas das relações das antigas colônia e metrópole e de suas respectivas histórias. Imaginação histórica, na forma como elaborada por Collingwood, em que os acontecimentos ganham força de interpretação e concretude, na medida em que compõem imagens equivalentes a pinturas, que guardam verossimilhança e veracidade com o que se conhece ou com as reflexões já estabelecidas sobre períodos ou épocas. Escritos que estabelecem pontes, ligação e, mesmo, passagem através do Atlântico; pontes, entre passado e presente, em que otimismo e pessimismo cambiam, triangulando Brasil, Portugal e África.
MARCIO JEAN FIALHO DE SOUSA (Universidade de São Paulo) - a escrita de si: uma prática asceta na literatura oitocentista de eça de queirós
A prática cristã da ascese, exercida nos primeiros séculos do cristianismo, apresenta, como elemento fundamental, a escrita dos movimentos e ações pessoais, tais como nos mostra os ensinamentos de Santo Antão (Séc. IV). Dentro outros aspectos, a escrita de si aparece, nessa prática, como um companheiro na solidão, além de exercer também, conforme nos afirma Michel Foucault (1969), um papel muito próximo ao da confissão espiritual, que deve revelar os movimentos da alma. Segundo Mikhail Bakhtin, o homem tem uma necessidade estética do outro que, no contexto da solidão pode-se fazer por meio da escrita que por si pressupõe potencialmente um leitor. Dessa forma, o que se pretende nessa comunicação é analisar como o narrador protagonista de d’A Relíquia, de Eça de Queirós, assume essa função de autor como uma possível herança das práticas cristãs dos primeiros séculos.
MÁRCIO RICARDO COELHO MUNIZ (Universidade Federal da Bahia) - dizer o sentimento alheio: sobre a profissão do “escrivão de cartas”
Praça do Pelourinho, Lisboa, séc. XVI. Estação de trem da Central do Brasil, Rio de Janeiro, séc. XX. Espaços e tempos distintos, mas cenários de uma mesma prática profissional popular: a de escrivão de cartas. Esta “profissão” é o mote para a construção de duas obras distantes no tempo e com linguagens diferentes: o anônimo português “Auto dos Escrivães do Pelourinho” e o filme brasileiro “Central do Brasil”. O primeiro, recorrendo à estrutura teatral da parataxe, faz desfilar um grupo de personagens que ao relatarem seus pequenos dramas pessoais, a que temos acesso por meio das cartas redigidas pelos escrivães, acabam por pintar com tintas de realismo um quadro das classes populares da Lisboa quinhentista. O segundo, valendo-se de estratégia narrativa semelhante, relata a história de uma “escrivã de cartas” que exercendo sua “profissão” na maior estação de trem da cidade do Rio de Janeiro cruza com moradores, imigrantes vindos do interior do país, que ao recorrerem aos serviços da escrivã constroem um retrato do Brasil interiorano, pouco conhecido da maioria de sua população, predominantemente urbana. Da análise das duas obras, pretendo construir pontes de significados dessa prática profissional tão longeva.
MARCIO ROBERTO PEREIRA (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho - Assis) - representações do exílio na obra os grão-capitães, de jorge de sena
A proposta desta pesquisa é discutir as representações do exílio na produção narrativa de Jorge de Sena (1919-1978), mais especificamente na obra Os Grão-capitães: uma sequência de contos, a partir de uma perspectiva em que a linguagem age como uma instância de reflexão e ação que subverte o apagamento da identidade e das memórias frente a espaços de solidão ou angústia. Para tanto a definição de passagem, termo-chave na obra de Walter Benjamim, propõe a uma discussão sobre a posição do narrador na obra seniana e sua organização do espaço, na tentativa de compreensão de um mundo caótico, marcado principalmente pelas representações do exílio. Assim, a relação entre o narrador e o espaço, na prosa de ficção de Jorge de Sena, revela, por meio de uma linguagem ora centrada pelo simbólico ora pelo compromisso com a realidade, os impasses de heróis que procuram compreender um mundo fragmentado, delineado pela violência do salazarismo. Por meio da confissão e das relações com espaços públicos, que anulam a individualidade, os narradores de Jorge de Sena, em meio às catástrofes do cotidiano, faz um contraponto entre sua condição de exilado e os processos de representação de identidade fragmentadas num mosaico de contos que ganham um contorno maior a partir de testemunhos que transformam-se numa biografia obliqua.
MARIA CECILIA DE MAGALHÃES MOLLICA (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - o presente no passado: de "no mais das vezes" para "muitas das vezes"
O estudo a ser apresentado atesta a origem da expressão popular "muitas das vezes", hoje encontrada na fala e na escrita do Português Brasileiro e do Português Europeu, de acordo com os achados de Mollica (no prelo), em expressões arcaicas como "mais das vezes", "no mais das vezes", "o mais das vezes". A expressão em foco, que encontra explicações no mecanismo do cruzamento sintático e no fenômeno da hipercorreção, constitui inovação de "baixo para cima" e apresenta uma taxa baixa de uso em relação ao seu par variante "muitas vezes", que já existia desde os primórdios do idioma. A forma inovadora "muitas das vezes" ingressa na língua apenas no século XX, após intensa competição com as formas antigas, ganhando finalmente espaço,deixando, no entanto, resíduos ainda em Portugal. Pode-se supor que o fenômeno em tela seja outra evidência para reafirmar o famoso lema laboviano segundo o qual o presente explica o passado das línguas, a vida pregressa dos idiomas, que, por sua vez, via de regra projeta seu futuro.
MARIA DA CONCEIÇÃO CARVALHO – vide GUSTAVO LOPES DE OLIVEIRA
MARIA DO SOCORRO FERNANDES DE CARVALHO (Universidade Federal de São Paulo) -notas sobre a poesia portuguesa escrita no século xvii
Objetivo recolocar em cena, ainda que em pequena escala e na eventualidade do presente Colóquio - alguns temas da poesia escrita em língua portuguesa em Portugal no século XVII apresentando alguns livros publicados na primeira metade dessa centúria e ainda pouco conhecidos pelos leitores da língua portuguesa de nossos dias. Sugiro uma apresentação breve e global dos autores selecionados e de alguns poemas representativos de seus livros impressos ainda no Seiscentos, mostrando que, como a publicação individual era prática pouco comum no período - esses autores mostraram-se epígonos importante naquele universo letrado.
MARIA DO SOCORRO SIMÕES (Universidade Federal do Pará) - índices de imaginário e memória lusitanas em narrativas amazônicas
O presente trabalho destina-se a dar conta do que se tem constatado em depoimentos de contadores, da Amazônica paraense, o quanto há indiciado da literatura e de manifestações da cultura lusitana em cada novo contar. O numeroso acervo do projeto de recolha de narrativas amazônicas, na Universidade Federal do Pará, surpreende pela riqueza de informações e inventiva locais, contudo o que mais chama a atenção de pesquisadores, que se têm debruçado sobre este material, é a ênfase com que se colocam, na voz do contador, elementos da literatura, imaginário e de manifestações culturais de sabor lusitano. Não há como desconhecer a impressiva presença amazônica nas narrativas recolhidas, mas a presença do colonizador surpreende por ser tão vívida e marcante, não se tratando tão-somente de vozes submersas, que venham a emergir, passados mais de seis séculos; é muito mais que isto, são nítidas ressonâncias lusas em meio ao discurso, às vezes, com tintas de fantástico ou a aceitação tácita do maravilhoso regional.
MARIA EUNICE MOREIRA (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) - josé de alencar e a crítica portuguesa do século xix
Análise da recepção da obra de José de Alencar pela crítica portuguesa do século XIX, em textos publicados em periódicos na segunda metade do século, com destaque para a passagem do romancista brasileiro em Portugal, no final da vida, e sua recepção pela intelectualidade lusitana. Homem de poucas viagens, Alencar deslocou-se para a Europa no final de vida, em busca de remédio para a sua doença. Depois de Londres, esteve em Lisboa e embora tenha sido recebido sem pompas, sua obra parece ter provocado um efeito contrário. Este estudo enfoca essas questões, procurando discutir a autonomia pretendida pelo romancista brasileiro e sua relação com o pensamento português.
MARIA GABRIELA SILVA MARTINS DA CUNHA MARINHO (Universidade Federal do ABC) -a psiquiatria brasileira e o nobel português. apontamentos acerca das relações entre pacheco e silva e egas moniz
A comunicação pretende analisar as relações estabelecidas entre dois médicos, o psiquiatra paulista Antonio Carlos Pacheco e Silva e o neurologista e neurocirurgião português Antonio Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia em 1949. A literatura especializada assinala como decisiva a mobilização de Pacheco e Silva para a concessão do Nobel a Egas Moniz, que recebera quatro indicações anteriores, respectivamente em 1928, 1933, 1937 e 1944, todas negadas. A indicação e subseqüente premiação resultaram do desenvolvimento da leucotomia pré-frontal, intervenção amplamente praticada no Hospital do Juquery , instituição psiquiátrica dirigida em São Paulo por Pacheco e Silva. Único cientista português agraciado com o Nobel, Egas Moniz manteve uma relação fecunda com o Brasil. Nesse sentido, Pacheco e Silva pode ser considerado um discípulo leal que difundiu e praticou a leucotomia, sobretudo no Juquery. A intervenção tornou-se mais tarde amplamente condenada, a ponto de se constituir um movimento internacional pela cassação do Nobel a Egas Moniz. Antonio Carlos Pacheco Silva foi, por sua vez, um dos responsáveis pela constituição e difusão da Psiquiatria de base organicista no Brasil. Criou e dirigiu diversas instituições, entre as quais o Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Articulado às forças conservadoras, desde a década de 1930, e aos militares do aparelho repressivo, a parir dos anos 1950 e ao longo da ditadura militar, esteve diretamente envolvido com grupos e movimentos anticomunistas de São Paulo.
MARIA ISAURA RODRIGUES PINTO (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) -perspectivas monoculturais e lugares de ausência: a literatura de cordel do brasil e de portugal
O presente trabalho tem por objetivo apresentar alguns resultados do projeto de Pós-doutoramento Culturas em diálogo: um estudo comparativo do entre o cordel do Brasil e o cordel de Portugal, realizado no Centro de Estudos Culturais da Universidade de Coimbra, cujo objetivo principal foi refletir sobre processos relacionais entre a literatura de cordel do Brasil e a de Portugal. Busca-se chamar atenção para as perspectivas monoculturais definidoras dos enfoques comparativos entre essas duas práticas literárias e, com isso, tomando um caminho reverso, lançar um olhar questionador para as invisibilidades e para os lugares de ausência, que protagonizam o vínculo a normas legitimadoras de regimes do discurso hegemônico. O estabelecimento desse ponto de vista implica adotar uma atitude crítica de caráter revisor que consiste em pensar os fatores de interação entre o cordel do Brasil e o de Portugal fora do âmbito da razão dualista do Mesmo e do Outro própria da tradição ocidental, por meio da qual eles têm sido considerados, de maneira mais ou menos detida, para, dando lugar a outra ótica, observar as experiências de deslocamento caracterizadoras do percurso diferenciado da produção de cordel brasileira e portuguesa, as quais trouxeram em sua esteira elementos articuladores de cumplicidades e de conflitos responsáveis por hibridismos culturais.
MARIA IZILDA SANTOS DE MATOS (Pontifícia Universidade Católica-SP) - na espera da mala postal: cartas e correspondências de imigrantes portugueses (1890-1930)
Esta investigação pretende discutir a presença dos imigrantes portugueses (homens, mulheres e crianças, particularmente vindos do Norte de Portugal) em São Paulo. Os processos de deslocamento incluíram uma diversidade de trajetórias e multiplicidade de experiências, processos diferentes e simultâneos que compõem a trama histórica. Dessa forma, esta proposta visa abrir um leque de possibilidades de reflexão, incorporando à análise da temática a perspectiva cultural, Assim, se pretende discutir os vínculos estabelecidos, as redes de sustentação nos países de saída e de acolhimento, os sonhos e expectativas construídos nesses processos, as tensões e frustrações, contatos mantidos, vínculos rompidos, retornos e possibilidades de reencontros.
A pesquisa estará centrada na análise das cartas e correspondências inéditas localizadas no arquivo do Memorial do Imigrante de São Paulo (antiga Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo) e em arquivos portugueses como o do CEPESE - Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade da Universidade do Porto e o Arquivo de Braga.
MARIA REGINA BARCELOS BETTIOL (Sorbonne Nouvelle Paris III) - pintando escrevendo, escrevendo pintando: o retratar da literatura e da pintura nas obras de josé saramago e luis antonio assis brasil
Neste ano de 2012, em que celebramos o Ano de Portugal no Brasil, tencionamos através de uma análise comparatista estabelecer uma ponte literária entre os dois países lusófonos refletindo sobre os livros Manual de Pintura e Caligrafia de autoria do escritor português José Saramago e O Pintor de Retratos escrito pelo brasileiro Luiz Antonio de Assis Brasil.
Os dois livros em discussão são basilares para repensarmos a relação interdisciplinar entre pintura e escritura pois para os respectivos autores não há uma fronteira rígida entre as duas artes: o fazer pictórico e o literário são ficcionais, o olhar do pintor/escritor ou do escritor/pintor interpreta o mundo através de sua subjetividade, o pintor e o escritor não retratam propriamente a realidade mas inventam realidades possíveis.O dilema que o pintor enfrenta com seu pincel diante da tela branca é o mesmo dilema vivenciado pelo escritor com sua caneta diante da página em branco, o traço da caligrafia é um desenho e da imagem emergem palavras. Em suma, as duas obras convergem na tese de que pintar é uma forma de escrever e escrever é uma forma de pintar, o ofício do pintor e do escritor é retratar seja com cores, seja com palavras, a humanidade com suas alegrias, dores e conflitos.
MARIANE TAVARES (Universidade Federal de São Paulo) - o exílio brasileiro da poesia de jorge de sena
A motivação para este estudo foi desenvolver a relação entre literatura e exílio, com o objetivo de pesquisar as problemáticas da história de Portugal e analisar como se dá a sua influência na escrita do poeta Jorge de Sena, principalmente quando estava sob ditadura e depois sendo obrigado a exilar-se,no Brasil, para a partir daí explicar como surge a relação histórica e geográfica entre individuo, pátria e sociedade.
Diferente de outros escritores exilados,Sena enxergou o exílio como a possibilidade de ser reconhecido como o intelectual de diversas modalidades que era. No Brasil, produziu, num período de seis anos, cerca de 120 poemas, quatro peças e ensaios e artigos inumeráveis. Também trouxe consigo o tema da pátria, tanto a que o desterrou quanto a que o recebeu, mas enquanto de maneira extremamente agressiva fez críticas a Portugal e à sua sociedade, soube reconhecer o que de bom o Brasil fez por si. Sena transformou a dificuldade que o exilado tem de se relacionar com as artes e a cultura de fora num artifício que enriqueceu a sua poesia porque, mesmo que tenha vivido e publicado fora de Portugal, sua identidade permaneceu clara como portuguesa, logo o diálogo Portugal-Brasil foi uma constante em sua poesia.
MÁRIO DA SILVA SANTOS NETO (Universidade Federal do Pará) - o erotismo como transgressão da mulher em olga savary e florbela espanca
A poesia de Olga Savary e Florbela Espanca desnudam os desejos femininos mais reprimidos pelos tabus impostos pela sociedade. Representando a mulher como sujeito ativo no ato sexual, as poetas transgridem os moldes tradicionais e revelam um universo latente de desejos mascarados pelo pudor. A mulher ultrapassa os limites de ser apenas objeto sexual para agora sentir, tocar o outro, e ter prazer. As duas escritoras, portanto despem e gritam o gozo mais escondido da intimidade feminina.
MARYLLU DE OLIVEIRA CAIXETA (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho) -hipotrélico: a anedota do bom português
Tutaméia – terceiras estórias de João Guimarães Rosa é considerada uma obra peculiar pela ênfase no humor e nas inovações estruturais, entre elas quatro prefácios distribuídos entre quarenta minicontos. O segundo prefácio, intitulado “Hipotrélico”, apresenta e discute o significado do título temático: a intolerância ao neologismo por hábito ou respeito à língua herdada. Depois de glosar o tema do neologismo, antes de finalizar o prefácio cita como exemplo respeitável, “motivo e base desta fábula diversa”, um caso vindo do “bom português” equivocamente referido como homem muitíssimo inteligente de bem, cidadão de Portugal e também àquele outro sentido glosado no prefácio: o de pureza vernacular. Bom português, “mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas”, inventor do termo “hipotrélico” que serve como título temático do prefácio reescrito pelo prefaciador para imitar a pronúncia dos portugueses: “hiputrélico”. Ao empregar numa roda o neologismo “hipotrélico”, que designa indivíduos intolerantes a neologismos, o português interpelado sobre a inexistência do termo reagiu “ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta” declarando primeiro que a enunciação já dá existência à palavra e depois, como a designação pertinente prova a realidade do termo inventado, a anedota é arrematada com o português qualificando o interlocutor como “hiputrélico”. Propomos uma análise desse prefácio na qual consideraremos as diferentes recepções do neologismo no Brasil e em Portugal no período em que Tutaméia foi editada pela primeira vez (1967).
MATHEUS ALVES DUARTE DA SILVA – vide DILENE RAIMUNDO DO NASCIMENTO
MATTHEWS CARVALHO ROCHA CIRNE (Universidade Federal do Amazonas) - uma experimentação irônica nas tisanas de ana hatherly
A poesia contemporânea portuguesa do século XX procurou inovar continuamente a arte poética através de reinvenções da escrita e de experimentações diversas. Nesta comunicação serão apresentados textos poéticos de Ana Hatherly, construídos por meio da ironia, conforme identificação feita por Floriano Martins na antologia A idade da escrita e outros poemas, e que pode ser entendido como a experimentação com a linguagem, que sugere a ironia socrática e a humoresca. A argumentação será respaldada com os estudos publicados por Lélia Parreira Duarte e estará concentrada em fragmentos poéticos ou antifábulas chamadas Tisanas, onde Hatherly expande as releituras de seu próprio grafismo irônico pela desconstrução de sentido existente nesses textos que dialogam diretamente com o leitor, este incitado pela dúvida e a curiosidade em desvendar o sentido quase inexistente nos escritos dessas narrativas poéticas. Esta pesquisa faz parte dos trabalhos do Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas.
MAURO ROSSO (Pontifícia Universidade Católica - Rio) - machado de assis e os portugueses: influências e intertextualidades
Machado de Assis manteve, desde o começo de sua vida literária,estreitas relações e ligações com portugueses, no Brasil, recebendo deles acentuada e decisiva influência literária. Toda sua obra é povoada de citações, referências, recorrências e intertextualidades com escritores portugueses, inclusive em sua biblioteca pessoal. O trabalho expõe, cenariza, mapeia e organiza esses elementos, e apresenta a par de diversas matrizes-raisonnés dessas interações, um ensaio crítico interpretativo tendente a gerar matéria acadêmica, editorial, material para apropriação educacional e submissão em colóquios, simpósios, seminários.
MICHELE DULL SAMPAIO BERALDO MATTER (Centro Federal de Educação Tecnológica - RJ) - de josé lins do rego a carlos de oliveira: fogo, sombras e ruínas em romances de decadência e crise
Partindo da já assinalada relação do Neo-Realismo literário português com o grupo nordestino brasileiro dos anos 30, essa comunicação pretende uma análise comparativa de romances brasileiros e portugueses que apresentaram em sua diegese uma atmosfera de mudanças sociais que geraram a decadência e o declínio de certas estruturas de poder. Deseja-se uma leitura de Fogo Morto, romance do paraibano José Lins do Rego, e de Casa na Duna, do português Carlos de Oliveira, ambos publicados pela primeira vez em 1943, procurando explorar imagens e estratégias de narração que ali encenam o desajuste do homem com a realidade em um tempo de transição econômica e social. Ressalta-se aqui, mais uma vez, o cuidadoso investimento dos autores no exercício eminentemente estético de uma ética compromissada com o humano.
MOIZEIS SOBREIRA DE SOUSA (Universidade de São Paulo) - amor de perdição no século xxi
Na quinta edição do Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco faz um balanço da recepção desse romance, desde a publicação até final da década de 1870 e início da década de 1880, quando o prefácio é escrito. Uma das questões que o romancista coloca, de forma manhosamente cética, é a voga de sua obra no século XXI. A partir desse dado, pretendemos traçar um panorama do modo como Camilo Castelo Branco, em especial, Amor de Perdição, emblema da produção camiliana, permanece no cânone literário brasileiro. Para tanto, tomaremos por base informações acerca da utilização dessa obra no ensino médio e superior, bem como as adaptações para televisão, destacando as semelhanças e diferenças que há em relação ao tratamento dado ao texto em Portugal.
Com essa proposta, pretendemos estudar uma forma como Portugal, por meio do Amor de Perdição, está presente no Brasil contemporâneo.
MÔNICA GENELHU FAGUNDES (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - vidas escritas em palimpsesto: dois romances de biógrafos
Barco a seco (2001), do brasileiro Rubens Figueiredo, e Gêmeos (2004), do português Mário Cláudio, têm como personagens estudiosos que se dedicam a pesquisar a vida e a obra de pintores espanhóis (um fictício Emilio Vega e o histórico – mas muito ficcionalizado – Francisco de Goya y Lucientes). No trabalho de composição destas biografias de artistas, porém, vão-se imiscuindo e reinventando as existências dos biografados e de seus biógrafos, em jogos de espelhamento e simulação que põem em questão as noções de falso e verdadeiro, identidade e alteridade, real e simulacro.
MÔNICA IMPÉRIO SIMISCUKA (Universidade de São Paulo/Uninove) - as confidências do abismo: o imaginário diálogo inter-atlântico entre os diaristas bernardo soares e lima barreto
A fim de reforçar a importância e incentivar a continuidade do intercâmbio cultural entre Portugal e Brasil, esse trabalho cria uma ponte imaginária entre as obras de duas personalidades de destaque nas literaturas portuguesa e brasileira: Fernando Pessoa e Lima Barreto, respectivamente.
No Livro do Desassossego, narrativa ficcional em prosa poética, atribuída aos semi-heterônimos pessoanos Vicente Guedes/Bernardo Soares, e em Diário Íntimo, escrito autobiográfico de Lima Barreto, publicações póstumas e organizadas a partir de apontamentos esparsos dos autores, há o registro de impressões acerca da condição existencial, de si mesmo e dos outros, colhidas por observadores que compartilharam divagações comuns a uma época, já que foram contemporâneos, mas com molduras particulares, seja pelo lado do Atlântico em que cada um se estabeleceu, pela motivação da escrita ou por suas idiossincrasias.
A apreciação desse pretenso diálogo, no qual a desagregação íntima, o desencanto e a autocomiseração dos diaristas dividem espaço com descrições poéticas notáveis, pode inspirar, quem sabe, futuramente, o cotejo de outras semelhanças entre Pessoa e Barreto.
NAIRA DE ALMEIDA NASCIMENTO (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) - ascensão e queda do herói de valmares
O trabalho pretende construir uma leitura do romance da escritora Lídia Jorge, A manta do soldado (2003), título da edição brasileira para o volume O vale da paixão (1998). A partir do drama vivenciado na casa de Valmares, procura-se tecer uma homologia entre os dois modelos paradigmáticos da história portuguesa, a saber: o agricultor e o navegador. Considera-se ainda as relações contextuais do romance ao período salazarista e à crise colonial portuguesa.
NELSON SCHAPOCHNIK (Universidade de São Paulo) - o futuro do passado: cultura letrada e gabinetes de leitura luso-brasileiros
O propósito desta conferência é compreender como se deu a instalação de gabinetes de leitura pela comunidade lusitana instalada em diversos pontos do Império brasileiro (Rio de Janeiro, São Luís, Recife, Salvador, Rio Grande, Belém, Santos, Manaus). A partir da recuperação das trajetórias institucionais singulares, pretendo discutir a repercussão do trinômio informação, deleite e instrução na formação dos leitores, com especial atenção para com a difusão da literatura portuguesa e das celebrações que contribuíram para a reforçar a presença simbólica de Portugal nestas terras.
NEUSA GONZAGA DE SANTANA PRESSLER (Universidade da Amazônia) - a mediação e a contribuição portuguesa no ensino do jornalismo no brasil
Na contemporaneidade, o ensino de jornalismo no Brasil tem referenciado de diferentes formas vários autores portugueses do campo da ciência da Comunicação, em especial na área de jornalismo. O presente trabalho é parte de pesquisa de tese de doutorado e evidencia a contribuição portuguesa para o debate do estudo de jornalismo no Brasil. O ponto de partida é a análise e publicações das obras de Eduardo Meditsch e Felipe Pena que discutem a contribuição portuguesa para a teoria do jornalismo no Brasil. A proposta desse trabalho é ampliar o conhecimento acerca desse debate não só nos autores referenciados como também no acesso a suas obras, seja por meio dos livros, da produção online ou do intercâmbio de pesquisadores, instituições de pesquisas e universidades. Em termos de mediação é importante reconhecer E destacar o papel da Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação que tem possibilitado o acesso a estudos e artigos de Nelson Traquina, Jorge Pedro Sousa, João Pissarra Esteves, Adriano Duarte Rodrigues, dentre outros. Esses autores têm se dedicado a área da ciência da comunicação com ênfase no jornalismo e linhas teóricas e abordagens sobre o estudo dos medias, da teoria do agendamento e da opinião pública. Nesse sentido, é importante a elaboração de uma plataforma para dar continuidade e ampliar essa interlocução com visão do ponto de vista dos estudos multidisciplinares entre pesquisadores portugueses e brasileiros.
NOELLY GOMES DA SILVA (Universidade Federal Rural de Pernambuco) - regulamentação das cerimônias públicas em pernambuco (1750-1808)
As abordagens que versam sobre as cerimônias, principalmente sobre as festas relacionadas com os atos públicos na América Portuguesa, voltam-se mais para o lado cultural e festivo dessas celebrações. Nelas, são exaltados o luxo, a pompa, o ornamento, as transgressões, dentre outros elementos que compõem as festividades. Observamos que ainda há uma ausência de investigações que façam uma conexão entre a representação político-institucional dos participantes e a festividade, principalmente para Pernambuco. Nossa investigação tem como foco as cerimônias públicas, eventos ordenados e regulamentados através de órgãos do Estado, nos seus níveis régio, colonial e local no período de 1750-1808. Pensamos que o estudo do cerimonial público permite análises diversas, dentre elas uma perspectiva institucional. Através desse viés, podemos ampliar nosso campo de visão acerca da organização político-administrativa dessas celebrações, as estratégias utilizadas pelas instâncias envolvidas na regulamentação dos atos públicos festivos, bem como uma aproximação dos anseios dos indivíduos ao atuar nesses festejos.
NORMA SANDRA DE ALMEIDA FERREIRA – vide ÍRIS FILOMENA MENDES DE OLIVEIRA
PATRÍCIA DA SILVA CARDOSO (Universidade Federal do Paraná) - paraíso e artifício emhelena de almeida garrett
A propósito da relação que os portugueses estabeleceram com a natureza no início de sua presença no Brasil, Sérgio Buarque observa que o elemento dominante era a associação do que aqui havia de diferente com o já conhecido, o familiar: “o que buscavam os portugueses era, tanto quanto possível, a réplica fiel das imagens ancestrais”, num movimento revelador de um desejo de prolongar a terra antiga na nova, igualando-as. Com o tempo, diz o autor, “quando esse processo de integração de nossa paisagem natural e social no mundo da civilização portuguesa estiver aparentemente terminado, é que alguns espíritos mais esclarecidos começarão a compreender o quanto há de irregular e tosco nessa mesma integração”. Particularmente interessante é a conclusão de seu raciocínio, que associa a base dos movimentos de defesa da autonomia da então colônia ao desejo de apagar a “diferença específica” brasileira, promovendo-se não uma libertação da Europa, mas um melhor ajuste “à sua imagem ideal e remota”. Diante destas transformações, é interessante pensar no modo como, em Helena, Garrett erige seu paraíso brasileiro, nos sentidos possíveis para a construção de uma casa que encena uma aldeia suíça no interior baiano.
PATRICIA SANTOS HANSEN (Universidade de Lisboa) - edições para crianças de portugal ou do brasil? o passado de uma relação construída e desfeita pela lusofonia.
No final do século XIX, alguns tradutores de livros para crianças publicados no Brasil acentuavam em notas o fato daqueles livros serem, efetivamente, traduções brasileiras, pelo uso de vocábulos mais compreensíveis às crianças desta nacionalidade. Do mesmo modo, o responsável por compilações e adaptações de contos incluídos em livros como Histórias da Carochinha ou do Arco da Velha, Figueiredo Pimentel, sublinhava que aqueles eram destinados às crianças brasileiras. Em todos os casos, a ênfase sobre o público de determinada nacionalidade, como destinatário específico daquelas edições, significava que se tratava de uma novidade, a qual se contrapunha então de maneira bastante óbvia ao fato de que até aquele momento as leituras de que as crianças brasileiras dispunham em língua portuguesa eram predominantemente produzidas ou traduzidas tendo em vista o público português. Já no século XX, a autora portuguesa Ana de Castro Osório idealizou uma “grande aliança” entre Portugal e Brasil, na qual os livros teriam um importante papel a cumprir. Contrariando a tendência expressa desde o século anterior, a autora ainda logrou ter um de seus livros aprovado e comprado pelas autoridades de instrução públicas do estado de Minas Gerais. Não obstante, o projeto como um todo foi fracassado.
O que se pretende com este trabalho é investigar alguns possíveis nexos entre identidade nacional e ideologia, de um lado, e livros para crianças e a ideia de “leitor implícito”, de outro. Com este objectivo serão analisados os casos citados acima, assim como outros casos de sucesso ou fracasso de empreendimentos editoriais dirigidos às crianças brasileiras e portuguesas entre os séculos XIX e XX.
PAULO ESTEIREIRO (Universidade Nova de Lisboa) - pontes entre madeira e brasil no domínio musical: ecos nos periódicos madeirenses (1854-1977)
Em investigações realizadas sobre a história da música na Madeira ao longo dos séculos XIX e XX tornou-se evidente a constante presença de referências ao Brasil nos periódicos madeirenses consultados. A partir destas referências colocou-se a hipótese da existência de várias pontes no domínio musical entre esta região portuguesa e o Brasil a vários níveis. Após uma organização da informação recolhida concluiu-se que estas pontes foram mais marcantes nos seguintes elementos: a passagem em tournées de artistas na Madeira na rota Europa-Brasil-Europa; a influência de repertório brasileiro no quotidiano madeirense (por exemplo, a prática de géneros inexistentes na Madeira como o Maxixe); a realização de eventos e festas derivadas de visitas de individualidades (ministros, embaixadores ou membros de aristocracia); a referência à crítica da imprensa brasileira para defender a qualidade de alguns artistas de passagem na Madeira; a relação com emigrantes madeirenses radicados no Brasil; a influência ao nível da construção dos instrumentos (o caso curioso do instrumento “brinquinho”, o atual instrumento mais turístico da Madeira).
Neste conjunto de referências na imprensa madeirense, o momento alto parece ter ocorrido em 1922, tendo a ligação aérea entre Portugal-Brasil sido impulsionadora de várias demonstrações de afeto na região madeirense pelo Brasil, com a realização de várias comemorações coletivas. Muitas das pontes criadas no período aqui em estudo mantêm-se ativas na atualidade – repertório, músicos, emigrantes, visitas de personalidades políticas –, sendo talvez a mais marcante as comemorações do Carnaval no pós-25 de Abril de 1974.
PAULO MOTTA OLIVEIRA (Universidade de São Paulo) - entre telas e quadrinhos: eça de queirós no brasil do século xxi
Antonio Candido publicou, em Ecos do Brasil, um texto em que mostra, de forma inconteste, a importância da obra de Eça de Queirós para a sua geração e para outras, que atingiram a vida adulta na primeira metade do século XX. O crítico considera que o exito de Eça se deveu ao fato de ele ter atingido não só os leitores cultos, mas também “os semicultos ou até os incultos”. Isso lhe garantiu uma grande penetração, e um sucesso que durou muitas décadas.
Certamente Eça não possui hoje o papel preponderante que possuía na cultura brasileira dos últimos dois séculos. Se ainda continua a ser um autor incontornável para os que, por prazer ou por ofício, têm o hábito de ler romances, seu nome acaba por ser mais conhecido do grande público graças a adaptações de suas obras para outros meios. O objetivo de nossa comunicação é o de refletir sobre três dessas adaptações – A minissérie Os Maias, exibida pela Rede Globo entre 9 de janeiro e 23 de março de 2001, o filme O primo Basílio e a história em quadrinhos A relíquia, ambos lançados em 2007. Poderemos assim pensar um pouco sobre as características desse outro Eça, que foi reconstruído pelas mãos de brasileiros na primeira década deste novo século.
PRISCILLA CABRAL DE ARRUDA e ROGÉRIO SANTANA DOS SANTOS (Univ. Federal de Goiás) - lírica e sociedade em camilo pessanha e augusto dos anjos: pontes que se encontram
O simbolismo, movimento literário de origem francesa, influenciou não só a literatura de países europeus, mas também de outros países fora desse continente. Em Portugal foi um movimento decadentista que teve profundo diálogo com Mallarmé, Baudelaire e Verlaine, permitindo surgir grandes poetas como António Nobre, Augusto Gil e Camilo Pessanha. No Brasil não foi diferente. No início da década de 1890, um grupo de jovens insatisfeitos com a corrente literária do momento adere às ideias francesas surgindo, assim, nomes como Da Costa e Silva e Augusto dos Anjos.
Partindo de tais pressupostos, este trabalho tem como objetivo estabelecer relações entre dois grandes poetas, o brasileiro Augusto dos Anjos e o português Camilo Pessanha. Embora tenham uma estética e uma posição social diferentes, em determinado momento se unem não só pela época e movimento literário, mas também pela poesia lírica que sai da subjetividade para a objetividade, do individual para o universal. Nosso propósito é evidenciar diferenças em um mesmo movimento de grande importância em Portugal e no Brasil, considerando a obra poética de Augusto dos Anjos e Camilo Pessanha.
RAFAEL SALES ROSA (Universidade Veiga de Almeida) - "o valeroso lucideno": memórias do frei manoel calado acerca do brasil holandês (1630-1654)
Dentro de uma perspectiva de História das Mentalidades e do Imaginário e a partir da obra do frei Manoel Calado do Salvador (doravante Calado), "O Valeroso Lucideno e triunfo da liberdade" (doravante Lucideno), pretendo mostrar como foi formado e constituiu-se a memória e o imaginário deste luso-brasileiro acerca do Brasil Holandês, período este no qual os neerlandeses tiveram domínio de grande parte do nordeste brasileiro, durante os anos de 1630 até 1654. Calado foi um religioso nascido em Vila Viçosa, região do Alentejo, Portugal, porém, através de seus superiores, radicou-se no Brasil, no início da década de 1620, quando passou a viver na cidade de Salvador, transferindo-se, posteriormente, para Recife em 1624, em face da ocupação holandesa da Bahia. A análise da obra de Calado dá-se porque a mesma constituiu-se em um importante e destacado material para a construção dessa parte da História do Brasil Colônia. Constantemente Lucideno é citado nos livros de José Antônio Gonsalves de Mello, Evaldo Cabral de Mello, Francisco Antônio de Varnhagem, Ronaldo Vainfas, Leonardo Dantas da Silva, Marcos Galindo, todos, em maior ou menor grau, historiadores especialistas do período do Brasil Holandês.
RAFAELA FRANKLIN DA SILVA LIRA (Universidade Federal Rural de Pernambuco) -confessores e penitentes na américa portuguesa: a influência da obra de azpilcueta navarro na educação jesuítica no mundo do açúcar do século xvi
Esta comunicação tem por objetivo apresentar a difusão do confessionalismo tridentino através do Manual de confessores e penitentes de Martim Azpilcueta Navarro, publicado em 1560, na sociedade urbana açucareira da América portuguesa. Estudamos a estrutura ibérica que permitiu o surgimento do barroco e os meios que possibilitaram sua circulação na América portuguesa, através de escritos e da movimentação de indivíduos. Professor em Coimbra, Navarro oferece na obra características que se fizeram presentes nos moldes da educação jesuítica, por exemplo, o dirigismo. Utilizamos Jose Antonio Maravall para definir o conceito de barroco em nossa pesquisa como estrutura cultural e mental que estabelecia as relações sociais entre os indivíduos na Península Ibérica. A partir de uma abordagem sociocultural procuramos analisar a cultura barroca através do manual e descrever sua utilização por meio da observação das representações coletivas e do imaginário que permeava a sociedade, empregamos as noções de representação oferecidas por Roger Chartier e o método indiciário de Carlo Ginzburg. Observamos o manual como um instrumento de auxílio à padronização da conduta da elite açucareira que oferecia orientação espiritual e moral.
RAPHAEL LISBOA DE AZEVEDO (Universidade Federal Rural de Pernambuco) - para o povo que há muito padece: uma história da alimentação no recife setecentista
No presente trabalho, resultado parcial de pesquisa de iniciação científica, buscamos analisar a dinâmica do abastecimento da vila do Recife durante o governo de Tomás José de Melo, Governador Capitão-General que em sua administração tomou diversas medidas em combate à escassez de alimentos nesta praça nas duas últimas décadas do século XVIII. Suas diversas ações serão analisadas com base na moderna historiografia que trata sobre a dinâmica dos governos nas colônias portuguesas, onde a autonomia local dialogava com o controle central metropolitano. Para tal, nos pautaremos, entre outros, nos trabalhos de Manuel Hespanha e Fernanda Bicalho, tomados como baliza para compreendermos as questões mais gerais, bem como, as mais específicas que trataram do combate à carestia dos gêneros necessários ao sustento desta possessão ultramarina, entendendo que a atitude muitas vezes autônoma e arbitrária do Governador respondia, em última instância, a defesa dos interesses metropolitanos, pois buscava possibilitar não apenas a manutenção da colônia, mas de sua imanente função de produção.
RAQUEL CRISTIANE MUNIZ FLORÊNCIO (Prefeitura da Cidade do Recife) - olhares para a morte
Este trabalho volta os olhos para a religiosidade ibero-católica nos séculos XVII e XVIII do Pernambuco colonial, visando investigar as ações catequizadoras da Igreja Católica do período, no tocante a evangelização dos escravos em relação à morte. No percurso, pretendemos observar o encontro dessa visão de origem europeia com a cultura centro-ocidental africana trazida pelos escravos. Certamente, a fim de investigarmos o assunto em tela devemos levar em conta que, no entorno do século XVII a cultura centro-africana já entrava em combinação significativa com a cultura européia. Tendo chegado ao Brasil os africanos cativos provenientes dessa região, o processo de misturar as culturas prosseguiu. E essa miscelânea cultural, nos grupos de centro-africanos na América portuguesa, demonstra a ancoragem da tradição, assim como, também a tradição da adaptação dos grupos envolvidos. Para alcançarmos o nosso intento, observaremos uma literatura de época, como os sermões do padre Antonio Vieira, relacionada à historiografia existente para o tema. Para uma análise teórica nos apoiaremos nas reflexões do historiador Serge Gruzinski quando aborda o desafio das misturas dos seres humanos e dos imaginários.
REBECA LEITE FUKS (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - narrando a infância perdida: aproximações entre clarice lispector e antónio lobo antunes
A comunicação pretende abordar a crônica “Uma carta para Campo de Ourique”, presente noLivro de Crónicas (ANTUNES, 1998) do escritor português António Lobo Antunes, e o conto “Restos de Carnaval”, escrito pela brasileira Clarice Lispector, publicado na coletânea Felicidade Clandestina (LISPECTOR, 1971). Nos interessamos por aproximar as narrativas principalmente por haver uma afinidade temática em torno delas. Ambos os textos partem de um olhar melancólico e nostálgico de um adulto que deseja recuperar episódios da infância. A infância é vista como um relicário das vivências felizes, um tempo onde se foi indecentemente feliz. É notório que a memória representada nos dois casos se apresente como um passado que não passa. Rememorar se trata aqui de um ato involuntário e persistente. Apresentaremos como pressupostos teóricos os livros Tempo passado, de Beatriz Sarlo, e Mitologia da Saudade, de Eduardo Lourenço, além do artigo Os domingos cinzentos de António Lobo Antunes, de Carlos Reis. Esta comunicação está associada à elaboração de uma Dissertação de Mestrado, orientada pela Professora Ângela Beatriz de Carvalho Faria (UFRJ) e vincula-se ao Projeto de Pesquisa sobre a ficção portuguesa contemporânea do séc. XXI.
RICARDO KUBRUSLY (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - descalço no infinito: do inesperado esperado ao inesperado inesperado
Quando se anda descalço sobre as pedras quentes ou sobre o limo, entendemos mais do mundo do que lendo mil livros, mas o que se busca quando descalço no infinito? Como caminhar no abstrato dos números transfinitos, nas cardinalidades crescentes dos conjuntos, sem esperar inesperados. Nesse mundo sem mundo, nada nos surpreende verdadeiramente, cada susto satisfaz nossas expectativas e nossos desejos. Como ao assistir um filme de terror, esperamos inesperados quando o infinito acontece. O inesperado inesperado, que se deu em 1931 com as incompletudes de Gödel persiste dentro de nós e, diferentemente dos eventos e das lógicas e de novas descobertas, não se mostra nem se revela, existindo sempre em paradoxos, dentro e fora dos acontecimentos.
ROBERTA MARIA FERREIRA ALVES (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) -sermões: mistérios a serem decifrados
O seguinte trabalho pretende estabelecer alguns pontos de aproximação entre Portugal e Brasil através das palavras do Padre Antônio Vieira no “Sermão da Sexagésima” e as de Raduan Nassar em Lavoura Arcaica. As parábolas religiosas utilizadas como fonte por Vieira e Nassar possibilitam um ponto de observação inicial entre o sermão e o romance. A partir do momento que delineamos a crença de Vieira de que todo texto era possuidor de um mistério a ser decifrado, e que essa forma de discurso pressupunha haver uma relação essencial e não convencional entre a palavra e a coisa significada, e notamos que esse é o principal artifício usado por Iohána, personagem nassariano, ao desenvolver seus sermões e deixá-los de herança para seu filho André, estabelecemos o caminho que será tomado pelas discussões que serão apresentadas.
ROBERTO LOUREIRO JÚNIOR (Faculdade CCAA / PPRLB) - eça e o exame de consciência de sara bernhardt em “aos estudantes do brasil”
Eça de Queirós escreveu durante dezessete anos para o jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro. Nas páginas do extinta publicação carioca, o escritor narrou e analisou acontecimentos variados para os leitores brasileiros. No último ano dessa colaboração publicou o texto “Aos estudantes do Brasil” em que o autor analisa as memórias da célebre atriz oitocentista sobre a sua “missão civilizadora” nas Américas.
RODRIGO ALEXANDRE DE CARVALHO XAVIER (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) - pontes literárias: a questão da identidade e a crítica literária no brasil e em portugal pela lente de gonçalves de magalhães, almeida garret e alexandre herculano
Após a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a tomada de outras medidas dedicadas ao aprofundamento dos estudos comparativistas dentro do universo da Lusofonia, a redescoberta de textos representativos do diálogo entre as literaturas desses países têm adquirido significação especial, já que há muito se fazem necessárias a atualização, compilação e divulgação de material crítico produzido pelos próprios ficcionistas e poetas. A presente investigação, que integra atualmente as pesquisas realizadas pelo Grupo de Pesquisas em Estudos Lusófonos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, tem por objetivo resgatar textos críticos de Gonçalves de Magalhães, Almeida Garrett e Alexandre Herculano, autores representativos do período romântico para os estudos literários sob perspectiva lusófona, de modo que se levantem questões acerca da contribuição desses autores dentro do universo de crítica literária, tangenciando novas leituras para o conceito de literatura, língua e cultura no Brasil e em Portugal, bem como sua contribuição na construção da identidade lusófona.
RODRIGO CORRÊA MARTINS MACHADO (Universidade Federal de Viçosa) - macunaíma e a jangada de pedra: uma viagem cultural
Macunaíma de Mário de Andrade configura-se como uma obra de estudo e exposição da multiplicidade de caracteres presentes no território brasileiro, além de representar um reconhecimento quanto à pluralidade de povos e culturas formadores do Brasil. Já A Jangada de Pedra de José Saramago problematiza uma discussão quanto à entrada de Portugal para a União Europeia, mas que extrapola esses limites e vai em direção à problematização da relação entre povos, defendendo a aproximação entre culturas e não meramente econômica. Tendo em vista os aspectos ressaltados, buscamos no presente trabalho aproximar duas obras importantes tanto para a literatura quanto para a cultura brasileira e portuguesa. Para tanto, utilizaremos os pressupostos da Literatura Comparada.
ROGÉRIO BARBOSA DA SILVA (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais) -literatura em rede: breve estudo das parcerias luso-brasileiras através da ópera eletrônicaalletsator, de pedro barbosa e luiz carlos petry
Considerando que as criações artísticas hipertextuais em si mesmas relativizam a instancia autoral quanto sugerem um plano de co‑autoria a partir da manipulação material disponibilizado na criação do objeto poético, propomos discutir a Ópera eletrônica Alletsator, de Pedro Barbosa, feita a partir de um libreto de ópera estruturado sobre texto eletrônico sintetizado em computador. Na concepção dos autores Luiz Carlos Petry e Pedro Barbosa a Alletsator seria “uma produção hipermediática, ao estilo de uma ficção científico-fantástica, que discute os destinos da humanidade no limiar das viagens espaciais do terceiro milênio”. Buscam, portanto, articular ao texto base, composições baseadas em matrizes sonoras e visuais em filmes 3D, as quais vão se metamorfoseando, na medida em que o “leitor” /espectador navega.
Nesse sentido, o objeto poético eletrônico criado colaborativamente nos leva a discutir aspectos relevantes não só no âmbito da autoria, mas também da criação eletrônica hipertextual, da convergência de mídias e da tradução em hipermídia, entre outras, já que se trata de uma transposição do drama teatral para o ambiente de hipermídia.
Ainda nesse contexto, vale a pena observar que o projeto levado a cabo por um grupo de pesquisadores/artistas constitui também uma ponte de aproximação entre os dois lados do atlântico, um diálogo que os poetas de linhagem experimental no Brasil e em Portugal iniciaram e que agora parece mais efetivo tanto no terreno da produção criativa e crítica quanto no consumo dessas produções por leitores falantes da língua portuguesa, em especial.
São esses aspectos relativos à produção colaborativa e ao estabelecimento de redes de leitores e criadores nos dois lados do atlântico que procuraremos discutir, tendo como objeto a poétida da ópera eletrônica Allesator.
ROGÉRIO SANTANA DOS SANTOS – vide PRISCILLA CABRAL DE ARRUDA
ROMANA VALENTE PINHO (Universidade de Lisboa) - a língua portuguesa: universalidade e regionalismos. a partir de antónio sérgio e fernando pessoa
Em 1913, quando Fernando Pessoa ainda nem sequer tinha escrito uma das suas frases mais reconhecidas (“Minha pátria é a língua portuguesa”), António Sérgio escrevia, no Rio de Janeiro: “A Pátria, para mim, tem um significado exclusivamente humano e ideal: é uma comunidade de língua, de poesia, de história, de costumes, de sentimentos, de vo[nta]des; o meu patriotismo é como o dos Judeus, que não têm esse vínculo da terra. Nascidos ou não em Portugal,(...), são para mim verdadeiros portugueses todos os súbditos d’el rei Camões”. A questão que visamos discutir, partindo deste trecho, é a natureza da universalidade da língua portuguesa e a inevitabilidade dos seus regionalismos, tão realçada pelos autores portugueses, nos inícios do séc. XX. A nossa reflexão pretende também aludir a outros autores de língua portuguesa como Guimarães Rosa, Ariano Suassuna e Mia Couto, já que os mesmos também debatem o dilema aqui exposto.
RONALDO NONATO FERREIRA MARQUES DE CARVALHO (Universidade Federal do Pará) - a construção da identidade luso-paraense: taipa como "lugar de memória"
A presença nos centros históricos de cidades paraenses de construções residenciais cuja técnica construtiva utiliza a terra em forma de taipa ou tabique tem sido pouco estudada. Herança lusa adaptada ao solo brasileiro, em razão da facilidade de execução por mão-de-obra pouco culta, bem como devido a abundância do material natural, a taipa suscita o entendimento de suas origens e transposições, uma vez que, embora seja pouco usada na arquitetura urbana contemporânea, permanece viva na arquitetura rural de nossa região. Diante da necessidade de preservação de exemplares da arquitetura pretérita em centros históricos de cidades como Belém, Bragança, Cametá, cidades homônimas às de Portugal, sua caracterização técnico-estético-histórica representa a oportunidade de torná-la também “lugar de memória”, na concepção de Pierre Nora. A valorização da taipa de mão serve a manutenção de um modo de construir e de viver que relaciona o Pará a suas origens, fazendo emergir seu valor de antiguidade e contribuindo para a restauração não só do objeto arquitetônico, mas de um saber fazer em sua relação com a tradição.
RONI CLEBER DIAS DE MENEZES (Universidade de São Paulo) - o método de ensino da leitura de joão de deus e a propaganda republicana em portugal no último quartel do século xix
Talvez o método de ensino da leitura de maior alcance em Portugal no século XIX – ao lado doMethodo Portuguez de Castilho – o método de João de Deus, assim como seu criador, foram associados à propaganda republicana então em curso no reino nas últimas décadas do século XIX. A partir de 1882 a divulgação do método é impulsionada pela criação da Associação das Escolas Móveis pelo Método João de Deus, instituição composta majoritariamente por comerciantes e publicistas republicanos ligados à maçonaria e ao positivismo. Se na ação das missões móveis – integradas por professores “formados” pelo próprio João de Deus e enviadas pela Associação a diversas regiões do país a fim de alfabetizar crianças e adultos – não se observa explicitamente a veiculação de valores republicanos, a atuação dos componentes da Associação nos jornais portugueses do período apresenta o método de de João de Deus não apenas como um artefato pedagógico, mas sobretudo como um instrumento político, que pedagogiza os campos social e político da sociedade portuguesa oitocentista, associando a regeneração do país via instrução com a mudança do regime político. Pretende-se, assim, investigar os matizes da associação de João de Deus ao movimento republicano português.
ROSANE GAZOLLA ALVES FEITOSA (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho - Assis) - eça de queirós na gazeta de notícias (rio de janeiro): a função mediatizadora do jornal.
Será feito um comentário acerca da colaboração de Eça de Queirós na "Gazeta de Notícias" (Rio de Janeiro), escrita diretamente para o público brasileiro, na fase do último Eça (1888-1900). Em alguns destes textos Eça faz reflexões acerca da mediação que o jornal exerce na sociedade, particularmente na européia meridional. Acreditamos que nesses textos, haja manifestações e traços de natureza doutrinário-programática, que se revestem também em uma espécie de história da imprensa, podem ser percebidos aspectos/características/nuances/metaliterários por meio de reflexões acerca de diversos aspectos do fazer literário queirosiano e da própria literatura. Produtos de sua colaboração no referido jornal de 1880 a 1897, estes textos queirosianos de imprensa, que reafirmam sua popularidade no Brasil, estão hoje reunidos em Textos de Imprensa IV- da Gazeta de Notícias, volume que integra a edição crítica da obra de Eça de Queirós, realizada por Elza Miné e Neuma Cavalcante e coordenada por Carlos Reis. O estudo desses textos deverá contribuir, quer para a análise e interpretação de sua obra ficcional, quer para a sua própria obra jornalística.
SAMUEL JOSE GILBERT DE JESUS (Universidade de São Paulo) - dor deliciosa de um cruel espinho: presença da saudade na fotografia lusófona contemporânea
A saudade continua de constituir, ainda hoje, um dos maiores símbolos em relação as culturas e identidades lusófonas, evocando uma profunda “dor do coração”. Este sentimento singular, dificilmente traduzido, surge assim da separação, da ausência ou da perda dos seres ou lugares que nós são particularmente queridos.
Estado da alma universal, a saudade estabelece uma relação especifica do ser ao tempo e ao espaço. Perfeito palimpsesto, a saudade compartilha-se entre um passado cuja lembrança permanece viva no presente, e parece também se prolongar num futuro indeterminado. Sentimento semelhante à melancolia, sua presença não para de inocular-se no meio de vários registros iconográficos.
Encaremos assim a hipótese seguinte: em qual medida a saudade, descrita pelo poeta Almeida Garrett como dor de um cruel espinho, poderia interferir na imagem do mesmo modo que o punctum, cujo efeito foi analisado por Roland Barthes no regime da fotografia? Esse estudo proponha-se, então, de relevar e comentar algumas das suas mais diversas manifestações, pelo meio de uma seleção de fotografias brasileiras e portuguesas contemporâneas.
SANDRO MARCELO COBELLO (Universidade Anhembi Morumbi–SP) - resgate das origens portuguesas nas vinícolas de são roque-sp por meio do enoturismo
São Roque, 60 km de São Paulo, fundada pelo português Pedro Vaz de Barros, se tornou conhecida pela produção de vinhos; tendo seu auge na década de 1960 com 150 vinícolas. Nas décadas de 1960 até 1990 ocorreu um período de declínio por fatores climáticos, especulação imobiliária e falta de continuidade dos familiares na atividade, somente retomada nos últimos anos com a qualificação do produto e o enoturismo. Apesar de técnicas de plantio, arquitetura e modo de armazenagem do vinho remeterem as origens portuguesas (das 15 vinícolas existentes, 13 tem origens portuguesas) somente nos últimos três anos por meio de ações isoladas de algumas vinícolas estão se realizando atividades explorando esse potencial - fotos históricas; vindima; pisa da uva em lagares; noites do fado; danças e culinária portuguesa. Como consequência, cresceu a procura de turistas e visitantes, principalmente descendentes buscando as origens e possibilitando estratégias entre os vitivinicultores e poder público de tornar São Roque num destino de enoturismo resgatando esse passado em detrimento a maioria dos destinos que se destacam pela origem italiana.
SÉRGIO FABIANO ANNIBAL (Universidade do Oeste Paulista/Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho -GEPLENP) - mediações e representações no ensino de língua portuguesa no brasil e em portugal
Este trabalho é resultado de uma pesquisa de doutorado concluída na UNESP de Marília/SP em 2009. A discussão gira em torno de alguns aspectos de mediação que contribuem para a identidade do professor de português no Brasil e em Portugal. Tais aspectos estão constituídos em Subjetividade, Cotidiano, Leitura, Capital Cultural, História e Memória, Desvelo e Tecnologia. A metodologia empregada neste processo está baseada em Martín-Barbero (2001), Josso (2006), Bourdieu (1989, 1998), Chartier (2002), Certeau (1994), Nora (1993), Bakhtin (1995), Catani (1996, 2006), Nóvoa (2005), dentre outros. O resultado esperado é promover uma discussão acerca do sujeito docente de língua portuguesa em contextos lusófonos e procurar compreender a desenvoltura desses professores diante da linguagem e dos métodos de ensino a partir de sua constituição identitária. É a tentativa de mostrar o que está além dos métodos de ensino de português, mas na emissão refratada da linguagem como construtora de significados na interação entre o homem e o mundo. Identidade, muitas vezes, negligenciada pelo campo educacional, fato que pode conduzir a um reducionismo atroz do papel da língua e da linguagem.
SÉRGIO HAMILTON DA SILVA BARRA (Pontifícia Universidade Católica - Rio) - a impressão régia do rio de janeiro e a ilustração portuguesa
O objetivo do trabalho é investigar a atuação da Impressão Régia do Rio de Janeiro, criada por D. João em 13 de maio de 1808, como parte do projeto de re-erguimento do Império a partir da sua colônia mais próspera, acalentado pelo reformismo ilustrado português. Tal projeto se expressou na idéia da construção de um Império Luso-brasileiro, visando construir uma ponte entre os dois lados do Atlântico Português, e foi posto em prática com a transferência da Corte para o Rio de Janeiro. Sob essa perspectiva, a Impressão Régia, face cultural desse projeto político, se apresenta como herdeira do ambiente intelectual ilustrado português do último quartel do século XVIII, na medida em que o seu trabalho apresenta muitas semelhanças com o trabalho de suas congêneres criadas em Portugal no século anterior (a Impressão Régia de Lisboa e a Tipografia do Arco do Cego). Dessa forma, na contra-mão da perspectiva historiográfica mais tradicional que ressalta essa conjuntura como o ponto de partida do processo de separação política entre Brasil e Portugal, as duas primeiras décadas do século XIX podem ser interpretadas como um momento ímpar de aproximação cultural, política e histórica entre a metrópole européia e a sua colônia americana.
SÉRGIO PAULO GUIMARÃES DE SOUSA (Univ. do Minho) - o brasil no imaginário novelesco camiliano
No imaginário da ficção oitocentista camiliana, o Brasil, por interposta presença do afortunado brasileiro de torna-viagem, é visto um tanto depreciativamente. Este tipo de protagonista é, pois, evocativo de um patriarca preconceituoso e cheio de prosápia, muitas vezes ridículo e, por extensão, grotesco (como é o caso, a título de exemplo, de João José Dias, em O Que Fazem as Mulheres); e ainda, como seria de esperar, de um patriarca capitalista desprovido da afetividade sentimental (típica dos heróis românticos que pululam nas novelas de Camilo, como sabemos).
Todavia, confinar a imagem camiliana do Brasil a este tipo de figuras não pouco broncas e pacóvias é empreender, em boa verdade uma leitura assaz parcial, quando não superficial, da relevância que o imaginário do Brasil detém na ficção novelesca de Camilo Castelo Branco.
Isso mesmo nos propomos mostrar. Para tanto, focaremos a nossa atenção em protagonistas tão diversos como o Doutor Francisco Alpedrinha (A Filha do Doutor Negro), Marta de Prazins (A Brasileira de Prazins) ou ainda Ifigénia (A Queda Dum Anjo), entre outros. Cada uma destas personagens, a seu modo, comprova uma singularização do Brasil, o que diz bem do modo múltiplo e, convirá sublinhar, complexo como Camilo elabora as suas personagens brasileiras. Desta forma se concluirá que a imagem do Brasil na literatura camiliana não é, em bom rigor, passível de se conformar a uma visão meramente negativa (e monolítica). Antes pelo contrário. Camilo coloca personagens brasileiras em contextos estratégicos nas suas novelas, isto é, em lugares onde a atuação de tais personagens se vem a revelar, ao fim e ao resto, decisiva no âmbito da economia do enredo e do seu desfecho. Exemplos suficientes disso não faltam na novela camiliana, como procuraremos evidenciar.
SHIRLEY DE SOUZA GOMES CARREIRA (UNIABEU) - anonimato e transgressão: uma deambulação por romances de josé saramago e luiz ruffato
A literatura do século XX foi prolífera na representação dos sintomas de uma crise de identidade caracterizada pelo declínio dos quadros de referência identitários, pautados em paradigmas de classe, gênero, sexualidade, etnia e nacionalidade, que marcavam a estabilização do mundo social. Ante essa nova configuração identitária, a literatura contemporânea expressa uma variedade de posições de sujeito; identidades cambiantes, ora revestidas do anonimato, como a provar que a ausência do nome reporta-se a uma posição que pode ser a de qualquer indivíduo, advindo de qualquer parte. Este artigo propõe uma breve análise da representação da identidade na literatura contemporânea, privilegiando a associação entre anonimato e transgressão nas obras de dois autores em particular: José Saramago e Luiz Ruffato.
SILVANA MARIA PESSOA DE OLIVEIRA (Univ. Federal de Minas Gerais) - o brasil de agustina bessa-luis
Em 1989, o Centro Nacional de Cultura (Lisboa) patrocinou um projeto intitulado "Os portugueses ao encontro de sua história". Uma das realizações deste projeto foi a viagem de um grupo de escritores portugueses ao Brasil e o relato da experiência desta viagem está contido no livro Breviário do Brasil, livro no qual Agustina Bessa-Luis (uma das viajantes) narra o que viu, viveu, sentiu e pensou durante seu longo deslocamento pelo território brasileiro. A viagem começa e acaba no Rio de Janeiro; inúmeras cidades de norte a sul do país são visitadas. O objetivo desta comunicação é refletir acerca da percepção de Agustina Bessa-Luis acerca das relações e trocas culturais luso-brasileiras e, principalmente, analisar a forma como se constrói um discurso, por parte dos portugueses, no qual as figuras do fascínio e do ressentimento mutuamente se combinam.
SÍLVIA MARIA AZEVEDO (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho) - o futuro(1862-1863): imprensa e relações luso-brasileiras
O Futuro, “periódico literário” fundado e dirigido por Faustino Xavier de Novais, circulou no Rio de Janeiro, com bastante regularidade, entre 15 de setembro de 1862 e 1º. de julho de 1863, sendo publicados vinte números da revista. Na carta-programa, assinada por Reinaldo Carlos Montoro, intitulada “Ao público brasileiro e português”, o escritor saudava a criação do Futuro, iniciativa que, segundo ele, vinha ao encontro de ideia, há muito acalentada, de se estreitarem os laços de amizade entre Portugal e Brasil, por intermédio da literatura produzida por ambos os países. O objetivo da comunicação é analisar o projeto editorial de Faustino Xavier de Novais no contexto das relações luso-brasileiras no século XIX, marcadas pela imigração portuguesa para o Brasil, pelo espírito associativo da colônia portuguesa, responsável por iniciativas no âmbito filantrópico, cultural e jornalístico, e pelas discussões em torno da nacionalidade da literatura brasileira, na voz do cônego Fernandes Pinheiro, favorável à manutenção dos laços entre literatura portuguesa e brasileira.
SILVIO RENATO JORGE (Univ. Federal Fluminense) - entre o ressentimento e o fascínio, dez anos depois
Meu objeto de análise são as relações culturais e literárias entre Brasil e Portugal, nos últimos dez anos. Para tanto, tomarei como ponto de partida as discussões estabelecidas no simpósio “Relações luso-brasileiras: entre o ressentimento e o fascínio”, organizado por mim e por Ida Alves, em 2002, no âmbito do Congresso Internacional da ABRALIC. Fortemente marcado pelo pensamento melancólico de Eduardo Lourenço, em sua Nau de Ícaro (2001), e por seu diálogo com o Jorge de Sena dos Estudos de Cultura e Literatura Brasileira (1988), o simpósio apresentou um retrato das relações entre os dois países que primava pela observação de um agudo distanciamento na contemporaneidade, distanciamento esse, muitas vezes, responsável por escamotear vínculos persistentes e ondas sugestivas de aproximação. Como podemos ler esses sinais no Portugal da crise e no Brasil do novo “milagre” econômico. Que autores são efetivamente lidos - se o são... - de um lado e de outro do Atlântico? Que obras publicadas lá e cá alcançam um público mais significativo? Essas são algumas das questões a serem pensadas por mim, a partir do retorno sempre necessário ao mesmo Sena e ao mesmo Lourenço das obras que anteriormente indiquei.
SOCORRO DE FÁTIMA PACÍFICO BARBOSA (Universidade Federal da Paraíba) - ficção e história: as cartas do jornalista miguel lopes do sacramento gama
Lidas como testemunho verídico e objetivo do tempo presente, as cartas publicadas nos jornais do padre Miguel do Sacramento Lopes Gama, notadamente em O Carapuceiro, têm sido apropriadas por historiadores da literatura, ou como reflexo do temperamento do homem polêmico, ou fruto de plágios ao jornal inglês The Spectator, sem considerar esses escritos como objetos regrados por normas de escrita e de leitura, que incluíam regras de decoro que adaptavam os escritos aos assuntos e aos leitores. Esta apresentação demonstra, através da análise de cartas do jornalista, as formas como este gênero se constituiu como escrita ficcional, modulada pelas regras da retórica.
SOLANGE SANTOS SANTANA (Universidade Federal da Bahia) - ironia e crítica social em bernardo santareno e nelson rodrigues
As relações entre literatura e sociedade tem sido ora enfatizadas ora questionadas por diversas correntes da teoria literária. Não é, porém, nossa intenção ampliar este pensamento polarizador, já que se acredita na complementaridade com a estratégia mais adequada ao estudo crítico da literatura. Prefere-se, aqui, ver a literatura como interface, já que ela fala do mundo, mas também da literatura, do fazer literário e de suas variadas concepções de representação. Por consequência, interessa-nos perceber e demonstrar os elos entre a arte dramática e a sociedade, e mais especificamente como a ironia joga com as representações sociais presentes nas obras do dramaturgo brasileiro, Nelson Rodrigues, e do teatrólogo português, Bernardo Santareno. Para tanto, nos apoiaremos, principalmente, em Teoria e política da ironia de Linda Hutcheon (2000). Acredita-se que é através dessa estratégia, em função opositiva ou ‘contradiscursiva’, que os dramaturgos tentavam despertar o espírito crítico do leitor/espectador, obrigando-o a reagir, a procurar por si outras verdades, visto que seus textos dramáticos que compõem nosso corpus, incansavelmente, provocam, polemizam e problematizam as relações humanas. Através da ironia, os dramaturgos podiam intervir ou manipular os fatos sociais, tentando criar uma perspectiva cultural, histórica e social contrária ao modelo dominante, principalmente, por fugir à banalização da visão estereotipada da sociedade. Neste sentido, a ironia literária permite que as realidades sociais sejam reanalisadas e desconstruídas, uma vez que nega verdades absolutas. Pretende-se, assim, realizar uma leitura comparativa das obras O pecado de João Agonia (1961), de Bernardo Santareno, e O beijo no asfalto (1961), de Nelson Rodrigues, atentando para as formas pelas quais a ironia recai sobre componentes vários da sociedade portuguesa e brasileira.
SUELY CREUSA CORDEIRO DE ALMEIDA (Universidade Federal Rural de Pernambuco) -histórias de gente sem qualidade: mulheres de cor entre recife e luanda no xviii
A sociedade colonial que se formou na Capitania de Pernambuco, mas também em Angola, não fugiu no que tange as generalidades ao perfil das outras urbes coloniais. Assim, tanto no Recife quanto em Luanda foi marcante a presença de mulheres negras livres, forras, mestiças envolvidas no pequeno comércio a retalho. Mas a rua além de ser um lugar onde essas mulheres realizavam as possibilidades de sobreviver era também um lugar de sociabilidade, onde o trabalho mesclava-se a outras trocas que iam do afetivo as mais vis disputas. Celebrava-se a vida quando se buscava meios para a sobrevivência através do mais variados expedientes e produtos. As tramas, saídas, bricolagens foram como fórmulas para garantir o sustento e demonstram que na precariedade do cotidiano tudo se acomodava das formas mais inesperadas e surpreendentes. Nossa pretensão nesse trabalho é apresentar um cenário das urbes, Recife e Luanda, demonstrando que trabalho e congraçamento entre as mulheres criavam um cenário de contínuo burburinho, uma festa cotidiana sem nome de santo que tocava a vida e garantia o pão de cada dia.
TATIANA MOYSÉS (Universidade de São Paulo) - contradições de uma narrativa burguesa:aventuras de basílio fernandes enxertado
No romance Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, publicado em 1863, Camilo Castelo Branco retrata a burguesia portuense, destacando sua inserção tardia no modo de produção capitalista. O objetivo desta comunicação é analisar como essa representação age sobre a estrutura do romance, criando um curioso jogo narrativo que se caracteriza por uma escolha lexical híbrida, bem como por um enredo que ilustra as contradições da sociedade burguesa.
TATIANA PREVEDELLO (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) - “a cada geração cabem os seus profetas”: (dis) sonância crítico-literária entre machado de assis e eça de queirós
No século XIX a filosofia do Positivismo, resultado do desenvolvimento científico deste período, e a nova estética realista, que colocava a arte e a literatura a serviço da vida contemporânea, encontraram seguidores em Portugal e no Brasil. Em escritores realistas, como Eça de Queirós, é visível a tentativa de inquirição da sociedade portuguesa com a aplicação de um método de análise que explica, e não apenas descreve, os fenômenos sociais observados. Num percurso artístico de oposição frontal aos fundamentos realistas e naturalistas, Machado de Assis é contundente ao criticar os postulados em vigor. Em célebre análise de O primo Basílio, o autor fluminense desencadeou uma polêmica ao tornar público, em um texto impresso em O Cruzeiro, em abril de 1878, o seu posicionamento a respeito da prosa e filiação literária queirosiana. Com base nas constatações que se desdobraram a partir da crítica machadiana pretendemos verificar, em que proporção, o inventário de falhas apuradas pelo autor brasileiro, sobre o romance português, sustenta a premissa de que Memórias Póstumas de Brás Cubas poderia se configurar como uma resposta artística à ficção de Eça de Queirós.
TERESA JÚLIO SEQUEIRA-SANTOS (CIEBA, Universidade de Lisboa) - o legado de um arquitecto neoclássico português no brasil
Uma pequena mas determinada equipa luso-brasileira está a desenvolver uma pesquisa sobre o legado artístico e documental do arquitecto Costa e Silva (1747-1819) deixado no Brasil. Esta colaboração permitirá conhecer melhor um dos mais obscuros períodos da história das artes e arquitectura portuguesa no reino: o da permanência da corte no Brasil. Costa e Silva, chamado ao rio em 1812, levou consigo a sua preciosa colecção de 3725 itens, entre os quais livros, pinturas, camafeus, desenhos e estampas. Alguns encontram-se conservados em instituições, no Rio, outros “desapareceram”. O inventário, contudo, nos permite ter uma visão da colecção no seu conjunto e desde logo afirmar a notável estatura intelectual do seu proprietário, um verdadeiro neoclássico, formado em Itália, integralmente imbuído do espírito da época, leitor de Winckelmann, Milizia, Algarotti, Bianconi, Sanvitelli, Muratori, Fonda e muitos outros que integravam as bibliotecas internacionais coevas de coleccionadores, arquitectos e amantes da “nova arquitectura” como Thomas Jefferson. O estudo deste legado implica um extenso cruzamento de dados, bem como um esforço de localização dos itens que contribuirá para a valorização dos acervos conservados no Brasil.
ULISSES INFANTE (Univ. Tecnológica Federal do Paraná) - guilherme de almeida em portugal: redescobrir
Exilado pelo governo Getúlio Vargas após a Revolução Constitucionalista de 1932, Guilherme de Almeida passou alguns meses em Portugal, onde foi muito bem recebido por intelectuais e escritores. De lá, enviava crônicas para publicação na imprensa brasileira, nas quais falava das experiências vividas em terras portuguesas. Essas crônicas foram posteriormente reunidas no volume "O meu Portugal", publicado em 1933. O livro constitui interessante roteiro da cultura portuguesa apreciada do ponto de vista de um escritor brasileiro cuja formação combina tradição e modernidade de maneira peculiar. É esse redescobrir (termo utilizado pelo próprio poeta) que esta comunicação se propõe a identificar. O autor participa de grupo de estudos lusófonos da UTFPR, onde é professor de literatura brasileira e portuguesa e está preparando a reedição da obra citada, em parceria com a profa. Maria Isabel Morán Cabanas, de Universidade de Santiago de Compostela.
VANESSA RIBEIRO TEIXEIRA (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - e se moçambique falasse holandês? o testemunho do missionário frei joão dos santos sobre um ataque flamengo
1607, o ano em que Moçambique se viu a um passo de hastear novas cores em sua bandeira, entrando num embate contra um império em franca ascensão no século XVII, o império holandês. Há cerca de 400 anos, na manhã de 29 de março, contavam-se um pouco mais de uma centena de portugueses na fortaleza de São Sebastião, Ilha de Moçambique. Segundo o Frei João dos Santos – missionário dominicano em peregrinação às terras da Índia e testemunha-chave do acontecimento –, os holandeses, que avançavam com oito naus contra as águas que banhavam a ilha, contavam com pelo menos 1500 homens e uma artilharia considerável. O resultado desse confronto encontra-se nas páginas do livro Etiópia Oriental e Vária História de Coisas Notáveis do Oriente.
VANESSA SUZANE GONÇALVES DOS SANTOS (Universidade Federal do Pará) - o romance camiliano: presença na amazônia
O Pará, na segunda metade do século XIX, passou por transformações culturais e inovações baseadas, sobretudo, em modelos europeus, inclusive no que se refere às práticas de leitura. Nesse contexto, foi criado, em 1867, o Grêmio Literário Português, cuja biblioteca reuniu um importante acervo, que ultrapassou os séculos e continua presente até hoje. Neste acervo, que comporta obras expressivas da literatura mundial, encontra-se a vasta produção do escritor Camilo Castelo Branco, personalidade do Romantismo português, que se fez presente entre os leitores paraenses e, cujas primeiras edições das obras, ainda se mostram conservadas e à disposição dos leitores na referida biblioteca. Dessa forma, esta comunicação objetiva apresentar os romances de Camilo Castelo Branco presentes no acervo denominado Camilianas, na biblioteca do Grêmio Literário Português, no intuito de ressaltar a representatividade do autor lusitano no Estado do Pará, e recolher, nas fontes primárias dessas obras, dados importantes para a história do livro e da leitura no Brasil. Para tanto, serão destacados aspectos de sua disposição, produção, edição e reedição, quantidade de volumes, dentre outros elementos considerados relevantes para sua abordagem.
VASCO MEDEIROS ROSA (Capital Europeia da Cultura, Guimarães 2012) - o vimaranense joaquim novais teixeira, um triplo exilado que uniu portugal e brasil em paris (1948-72)
Praticamente desconhecido, Novais Teixeira (1898-1972) foi um jornalista e intelectual de vida aventurosa que conviveu em Madrid com a nata da intelectualidade espanhola das décadas de 1920-30 e atravessou a terrível guerra civil daquele país, o exílio no Rio de Janeiro durante a década de 1940, e esteve ao serviço d'O Globo e sobretudo de O Estado de São Paulo na capital francesa, a partir do fim da segunda guerra mundial. Destacado crítico de cinema, influente nos festivais cinematográficos, foi determinante na boa aceitação do Cinema Novo brasileiro na Europa, e também na colaboração de portugueses nos suplementos literários de jornais paulistas, como Adolfo Casais Monteiro. Em Paris, manteve relações especiais com intelectuais e artistas como: Antônio Cândido, Guimarães Rosa e Cícero Dias; António Dacosta, Vieira da Silva e Arpad Szenes.
VERA CECÍLIA MACHLINE – vide MÁRCIA HELENA MENDES FERRAZ
VICTOR COUTO TIRIBAS (Universidade Federal Fluminense) - memória retórica e a retórica memorável
O intuito desta comunicação é versar sobre a importância da obra do conde de Ericeira, História do Portugal Restaurado, na construção da memória de Portugal acerca da Restauração de 1640, através de uma retórica de enaltecimento do passado lusitano. O jesuíta Antônio Vieira exerceu enorme persuasão sobre o relato de Ericeira, mediante sua retórica memorável.
Destarte, analisarei além do livro supracitado, as cartas trocadas entre ambos,visando elucidar as posições em que Ericeira aquiesceu ou discordou de Vieira, bem como as distorções históricas presentes nos documentos e, seus motivos. A Restauração dependia de Pernambuco para triunfar devido aos lucros provenientes do açúcar, que sustentariam a sedição. Já Pernambuco, dependia da Restauração para se livrar do jugo neerlandês, pois só após a dissolução da União Ibérica, a reconquista se tornara fulcral.
Trocando em miúdos, a expulsão destes possibilitou, dentre outras coisas, a manutenção territorial do Brasil em que vivemos atualmente e a conservação da cultura portuguesa tanto em Portugal, quanto aqui. Estes acontecimentos têm sido pouco valorizados na compreensão das pontes presentes entre ambas as nações, no que tange a sua continuidade cultural. Resgatemo-los.
VIRGINIA CÉLIA CAMILOTTI (Universidade Estadual de Campinas) - imagens de brasil na “literatura de intuitos” portuguesa
Os primeiros anos da República em Portugal engendraram um tipo de expressão nas letras que se autodenominou “literatura de intuitos”. Seu traço marcante, além do repúdio à idéia da arte pela arte, é, conforme Seabra Pereira, a afirmação da literatura como “missão ética e social”, empenhada na subversão de modelos de mentalidade e comportamento, principalmente aqueles derivados do sentimento de decadência nacional, e interessada na regeneração da pátria. A fim de mobilizar imagens e símbolos capazes de propulsionar a vontade regenerativa, tal literatura adota o Brasil, país da plena energia, como imagem modelar e dynamis da missão que se impôs. Pretendo explorar os contornos deste Brasil traçados pela “literatura de intuitos”, em especial na prosa de João de Barros, bem como a apropriação dessa imagem pelos homens de letras no Brasil.
VIRNA LÚCIA CUNHA DE FARIAS (Universidade Federal da Paraíba) - as relações portugal / brasil no passado, nas páginas de o futuro
A imprensa no Brasil, desde os primórdios, serviu como suporte para divulgar a literatura. No século XIX e início do século XX, era nas páginas dos periódicos que primeiro apareciam as obras que hoje pertencem ao cânone das nossas letras. Entre os jornais que circularam aqui no século XIX está O Futuro, publicação luso-brasileira, dirigida por Francisco Xavier de Novaes, que circulou nos anos de 1862 a 1863. O objetivo principal da folha, expresso logo no seu editorial de estréia, era divulgar a produção literária de autores portugueses e brasileiros. Buscaremos, neste trabalho, passar em revista as seções presentes neste periódico, procurando ver o que o caracteriza como português e como brasileiro. Na busca pelo que tem de brasileiro e de português no jornal, daremos maior destaque à produção de Machado de Assis presente em O Futuro.
VITOR REBELLO RAMOS MELLO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) - a arte da cantoria no rio de janeiro e sua relação com portugal
A chamada arte da cantoria, manifestação poética característica da região Nordeste do Brasil, possui como protagonistas os cantadores, também conhecidos como repentistas, poetas que tradicionalmente vivem do dom de criar versos improvisadamente em feiras, festas e festivais. Herdeiros diretos da poética trovadoresca ibérica, esses improvisadores receberam forte contribuição das tradições orais indígenas e africanas, configurando, então, uma das manifestações mais representativas do sertão nordestino. Considerados intérpretes do povo sertanejo, pois, através da oralidade, transmitem valores, saberes, desejos, hábitos e histórias de sua população, os poetas revivem os habitus das pequenas cidades do interior onde quer que estejam e, ao mesmo tempo, atualizam esta tradição face à conjuntura cosmopolita das grandes cidades. Assim, o presente trabalho, construído a partir de pesquisa desenvolvida no mestrado, pretende mostrar a relação existente entre a poética popular nordestina e a portuguesa e, em seguida, descrever como os cantadores nordestinos erradicados no Rio de Janeiro atualizam esse diálogo.
WAGNER LACERDA (Universidade Federal de Juiz de Fora) - verdades únicas, outras perspectivas: a re-leitura da história em a bagagem do viajante, de josé saramago
Imersos em mais uma das cíclicas crises do capitalismo, propomos, nesse trabalho, um questionamento: o modelo de sociedade em que vivemos hoje é o único possível? Será que, como alardeia a grande mídia, não há vida fora do mercado globalizado? Pensamos que a arte – mais especificamente no caso dessa pesquisa, a literatura – tem um imenso potencial para desmistificar tais “verdades” e, sob essa perspectiva, analisamos, então, o livro, de José Saramago, A Bagagem do Viajante, conjunto de crônicas publicadas, primeiramente, no vespertino “A Capital”, em 1969, e no “Jornal do Fundão”, entre 1971 e 1972. Ali, Saramago já expunha sua mais profunda inquietação, que viria a dominar toda a sua produção literária: lutar pela recolocação do homem no centro das preocupações, através da defesa de um humanismo mais que urgente. Contudo, devemos refletir acerca dos limites entre o papel do escritor e a atuação do militante; partidarizar a literatura, transformando-a em veículo de transporte de respostas pré-concebidas é, paradoxalmente, supervalorizar e sub-valorizar a literatura, atribuindo a ela, de forma exagerada, uma única função e afastando-a, exatamente, daquilo que ela tem de mais forte: o espaço aberto para a pluralidade e para o outro.
WILLIAM DE SOUZA MARTINS (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - alegorias do antigo regime: pregadores franciscanos na corte do rio de janeiro (1808-1821)
A comunicação analisa a produção oratória de cinco frades franciscanos que atuaram no Rio de Janeiro: Antônio de Santa Úrsula Rodovalho, Francisco do Monte Alverne, Francisco de São Carlos, Francisco de Santa Teresa de Jesus Sampaio e Joaquim de São José. Sob a perspectiva da linguagem religiosa que representam, os sermões dos pregadores régios referidos são analisados em particular do ponto de vista das alegorias a que recorrem e da técnica da tipologia que evidenciam a respeito do poder.