CADERNO DE RESUMOS
(TEXTOS DE RESPONSABILIDADE DOS PROPONENTES)
Adeilton Bairral (CBM) - A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO FRANCÊS NA TEORIA DA MÚSICA LUSO-BRASILEIRA NOS SÉCULOS XVIII E XIX
A teoria da música em Portugal desde o século XVII seguiu os princípios da Escolástica e do pensamento neo-platônico, presentes na transdisciplinaridade do Quadrivium e do Trivium. Esta forma de pensar é refletida nas obras teóricas portuguesas até meados dos setecentos. O brasileiro Caetano Mello de Jesus já mescla, em 1760, o pensamento iluminista com o escolasticismo no tratado Escola de Canto de Órgão. Nos teóricos luso-brasileiros da segunda metade dos setecentos já é percebida a influência dos estrangeirados e das reformas pombalinas, sem as referências teológico-filosóficas e os simbolismos místicos. As obras portuguesas do início dos oitocentos refletem o pensamento iluminista, com referências a Rousseau e a D'Alembert. No Brasil, entretanto, a adesão ao pensamento francês só será efetivada, paulatinamente, após a década de 1830.
Adma Muhana (USP) - OS INDÍGENAS DO NOVO MUNDO NO QUINTO IMPÉRIO
O contato dos europeus com o Novo Mundo provocou uma incalculável reordenação dos saberes no Ocidente. No âmbito teológico, a descoberta de uma tão imensa parte do mundo até então desconhecida ocasionou uma revisão da exegese bíblica, tanto da parte de autores cristãos (católicos e protestantes) como judeus. Numa história providencialista de perspectiva messiânica, uns e outros passaram a integrar à interpretação bíblica os povos indígenas, seus costumes e os lugares americanos – cujo conhecimento era transmitido seja por missionários, seja por conquistadores – reconhecendo o momento presente como tempo privilegiado na história da humanidade. A noção de Quinto Império, particularmente, revigorada nos anos de 1600 com relatos que produziam uma identificação entre as tribos perdidas de Israel e os habitantes da Amazônia, culminou com a proposição de um tempo histórico novo e singular, inaugurado com a nova e unificada geografia do mundo. Neste sentido, e no mundo ibérico, são exemplos notáveis as obras do padre Antônio Vieira e do rabino Menassés ben-Israel, de que iremos tratar.
Adriano de Freixo (PPGEST-UFF) - “SEI QUE ESTÁS EM FESTA, PÁ”: A IMPRENSA BRASILEIRA E A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS.
Em abril de 1974, a Revolução dos Cravos pôs fim à quase cinqüentenária ditadura salazarista-marcellista, abrindo caminho para o processo de construção da democracia em Portugal e para o desmantelamento definitivo do império colonial português. Naquele momento, apesar do Brasil ainda viver sob a égide do regime ditatorial inaugurado em 1964, tais acontecimentos tiveram uma ampla e livre cobertura da imprensa brasileira. Neste trabalho, procuraremos mostrar que isto ocorreu não somente devido à menor censura existente sobre o noticiário internacional – questão que já foi tema de diversos trabalhos acadêmicos -, mas também devido aos interesses mais gerais da política externa brasileira nesse período, dentro da lógica do chamado “pragmatismo responsável” que marcou o governo do Gal. Ernesto Geisel (1974-1979).
Adriano Eysen Rego (UNEB / PUC – Minas) - A “MÁQUINA DO MUNDO” EM CAMÕES E DRUMMOND: TRAVESSIAS ENTRE O EPIFÂNICO E O CÉTICO
Trata-se de um trabalho que propõe desenvolver uma análise comparativa da imagem mítico-poética da “máquina do Mundo” engendrada no Canto X de Os Lusíadas (1572) com o poema intitulado “A Máquina do Mundo” do livro Claro Enigma (1951), de Carlos Drummond de Andrade. O objetivo fulcral da discussão é realizar uma leitura crítica da intertextualidade entre os versos do autor português e do escritor mineiro, apontando algumas convergências e, sobretudo, relevantes rupturas circunscritas no poema drummondiano. Notadamente, o autor de Rosa do Povo (1945) rompe com uma tradição, que já se encontrava em Dante, ao recusar a revelação metafísica sobre o Cosmos. O que se distingue da poética de Luís de Camões fundada numa ambiência cristã epifânica e pautada na filosofia ptolomaica. Desse modo, ao confrontar os textos, verificaremos de que maneira elementos da épica do escritor lusitano encontram-se na lírica de Drummond e como o poeta brasileiro impede-se de alimentar quaisquer ilusões ao desconstruir, numa dicção cética, o Universo perfeito apresentado a Vasco da Gama pela ninfa Tétis. Palavras-chave: “máquina do Mundo”; mito-poético; convergências e rupturas.
Affonso Maria Furtado da Silva (Conselho Estadual de Cultura/Rio de Janeiro) - RAÍZES PORTUGUESAS DAS FOLIAS DE REIS
Os denominados Reisados Brasileiros constituem manifestações da cultura popular tradicional mais recorrente em todo território nacional. Câmara Cascudo no seu Dicionário do Folclore Brasileiro conceitua o termo: “(...) sem especificação maior, refere-se sempre aos ranchos, ternos e grupos que festejam o Natal e Reis. O Reisado pode ser apenas cantoria, como também possuir enredo(...)”. Compreende um numeroso grupo folclórico bem diversificado, destacando-se: Lapinha, Pastoril, Bumba-meu-Boi (do Nordeste oriental), Cavalo-Marinho, Terno de Reis, Boi de Reis, Folia(ou Companhia) de Reis e tantos outros. Estudiosos e pesquisadores brasileiros são unânimes em apontar a procedência portuguesa dos Reisados, sem, no entanto, identificar as regiões de Portugal que mais contribuíram no processo de transplantação dessa tradição popular, desde os tempos do Brasil colônia. O trabalho se propõe examinar a procedência desse Patrimônio Cultural Imaterial e analisar comparativamente o grupo de Reisado Brasileiro mais expressivo, as Folias de Reis. Para esse objetivo, foram realizadas missões de pesquisa por duas décadas em ambos os países, coletando ampla documentação impressa e audiovisual.
Alexandre Bellini Tasca (UFMG) - A CIRCULAÇÃO LIVREIRA EM PERNAMBUCO E A CONSTRUÇÃO MORAL (1813-1821): AS FÁBULAS, DE FEDRO E AS AVENTURAS DE TELÊMACO, DE FÉNELON
A cultura, a sociedade, a política, os costumes e diversos outros aspectos de uma sociedade podem ser observados e analisados através de diferentes prismas. Sabendo disso, tem-se como objetivo, neste trabalho, o estudo e a compreensão de aspectos do universo luso-brasileiro através da circulação livreira, mais precisamente dos seguintes livros: as Fábulas de Fedro e As Aventuras de Telêmaco, de Fénelon. Num primeiro momento, procurar-se-á quantificar a presença dessas obras na circulação livreira de Portugal para Pernambuco, no período que se estende de 1813 a 1821, tomando por base as petições e listas de livros submetidas ao Desembargo do Paço para a obtenção de licença para seu envio para Recife. Nesta comunicação, além disso, serão analisados os conteúdos moralizantes das supracitadas obras, destacando seu caráter educacional. O romance de Fénelon almejava ser um espelho de príncipes, tendo também um caráter filosófico e epopéico. A escolha destes livros justifica-se por sua larga presença no referido circuito livreiro e, ainda, por ser presumível que eles tenham tido um grande impacto na construção cultural e moral de seus leitores, uma vez que se voltavam e eram usados para a educação de jovens.
Alexandre Bonafim Felizardo (USP) - O MAR DE SOPHIA: ASPECTOS MÍTICOS DO ATLÂNTICO NA POESIA DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Sophia de Mello Breyner Andresen, poeta portuguesa do século XX, celebrou, em praticamente toda a sua obra, o espaço marítimo da Península Ibérica. Com efeito, o Atlântico irá ganhar, na poesia da escritora, conotações simbólicas múltiplas. Tal oceano será emblema das potências avassaladoras da natureza, das forças destruidoras do cosmos, capazes de devastar a vida ínfima do homem. Com efeito, metaforicamente, o Atlântico passa a ser representação das limitações do existir: a morte, a pequenez do homem, sua ínfima atuação no universo. Além desses significados, o oceano será também símbolo de todo o mistério de nossa condição, da inescrutabilidade de nossa origem e fim. Sophia, portanto, a partir de uma poética da natureza, traça-nos o destino a partir de uma linguagem a sondar os significados fecundos relacionados ao Atlântico.
Alexandre Oliveira de Souza (USP) - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - O DES-COBRIMENTO (ALETHEIA - PHYSIS)
O presente trabalho busca descrever uma espécie de olhar descobridor que percorre o livro Navegações de Sophia de Mello Breyner Andresen. Como a autora diz no prefácio ao livro, o tema navegações não é somente o feito, “mas fundamentalmente o olhar, aquilo a que os gregos chamavam aletheia, a desocultação, o descobrimento”. A ligação do homem ao mundo e seu brotar-se em cada acontecimento, em cada momento no desdobramento da novidade do real. Portanto, pretende-se articular a discussão num determinado eixo, caminho: pensar a aletheia e sua articulação com a physis (physis é aletheia – Heidegger) no desdobramento do olhar descobridor que percorre o livro Navegações. Pretende-se então, descrever o olhar atento à veemência do real, olhar que nos traz o maravilhamento, o descobrimento das coisas e nossa intensa e constante relação com o mundo. Olhar que a poeta acredita estar “pintado à proa dos barcos”. Apresenta-se, assim, um diálogo explícito no livro com os navegadores-descobridores: glosa livre da carta de Pêro Vaz de Caminha, invocação de Bartolomeu Dias, etc.
Algemira de Macedo Mendes - AS ESCRITORAS NAS HISTÓRIAS DA LITERATURA BRASILEIRA NOS SÉCULO XIX E XX: TRAVESSIAS IMAGINÁRIAS
A inserção de obras de autoria feminina na sociedade brasileira do século XIX, e limiar do século XX deu-se certa forma marcada pelo sistema patriarcalista. O que resultou na exclusão de muitas escritoras do cânone literário. Mesmo que muitas tenham tido uma produção literária significativa para os padrões da época, não receberam por parte da crítica o tratamento merecido. Dessa forma a presente proposta de mesa visa cotejar as escritoras nas histórias da literatura brasileira, vendo suas representações, imagens e memórias do séculos XIX e XX.Verificando seus rastros, partindo da noção de rastro postulado por Paul Ricoeur, (2005) Com isso, pretende-se resgatar e verificar possíveis razões para a exclusão das mulheres, em geral, do cânone literário brasileiro como também contribuir para descortinar novos horizontes no campo da literatura feminina e abrir novas fronteiras.
Alilderson Cardoso de Jesus (UFRJ) - CRUZANDO OLHARES: O MAR QUE ESCORRE DA TINTA E DA MEMÓRIA POÉTICA DE LUIS MIGUEL NAVA
Luís Miguel Nava morto em 1995 autor de, entre outros livros de poesia, o vulcão. A publicação de sua poesia completa em 2002 revela um poeta de olhar erótico e memorialista, mas sobretudo um inquieto observador. Pretendo lançar um olhar sobre as travessias desse observador. uma travessia forçada pela paixão por viagens e pelo sentimento de exilado entre Bruxelas e Oxford de onde residiu e trabalhou e de onde sempre que podia procurava "escapar". Este espírito andarilho manifesta-se através da poesia e da escrita epistolar e tem na figuração do mar uma forte simbologia. tais elementos serão objeto de análise desta minha pretensão de trabalho.
Aline Duque Erthal (UFF) - CHICO BUARQUE E ZECA AFONSO: A INQUIETAÇÃO COMUM DO LIRISMO.
Chico Buarque e Zeca Afonso: separados por um oceano de diferenças – espaciais, culturais, contextuais –, os compositores têm em suas trajetórias uma marca comum: o fazer soar o anseio por liberdade de justiça. Canções de resistência como “Cálice”, de Chico, e “Grândola, Vila Morena” – que serviu de senha radiofônica para a eclosão da Revolução de Abril, em 1974 –, do compositor português, manifestam uma inquietação frente às relações políticas e sociais vigentes durante os regimes ditatoriais que vigoraram no Brasil, de 1964 a 1985, e em Portugal, de 1928 a 1974. Através de uma leitura crítica, tomaremos o lirismo de Buarque e Afonso como ensejo para arrancar da transitoriedade o compromisso ético capaz, musicalmente, de embalar o desejo de reumanização.
Ana Alvarenga de Souza (UFOP) - OS SIGNIFICADOS DAS ALFORRIAS E A REPRODUÇÃO DA SOCIEDADE ESCRAVISTA: MINAS GERAIS, SÉCULO XIX
O objetivo desse trabalho é refletir sobre os fatores que levaram à relativa estabilidade do sistema escravista no Brasil oitocentista. Tendo como referência as cidades de Ouro Preto e Mariana, pretende-se perceber como as práticas de alforrias contribuíram para a manutenção da escravidão na província mineira. Sendo assim, lançamos nosso olhar sobre as ações cíveis que permitiam reaver, de uma maneira legal, isto é, recorrendo à justiça, os direitos de quem se sentisse lesado pelo não cumprimento da negociação. Como se sabe, após o fim do tráfico atlântico houve uma intensificação do comércio e da reprodução internos de escravos no império. Com o intuito de percebemos as relações sociais estabelecidas entre o segmento dos forros e a população em geral, enfocamos o acesso dos libertos à propriedade escrava, em uma região que concentrava um contingente mancípio dos mais expressivos da província. O acesso de forros e seus descendentes à propriedade escrava teria sido responsável pela ausência de revoltas mais significativas na América Portuguesa. Assim, tentaremos demonstrar que a insatisfação com o sistema escravista não era generalizada entre os forros nas cidades de Ouro Preto e Mariana, pois buscavam acesso à liberdade e a posse de cativos.
Ana Carolina Galante Delmas (UERJ) - HOMENAGENS ATRAVESSANDO O ATLÂNTICO: DEDICATÓRIAS DA IMPRESSÃO RÉGIA DE LISBOA E DA IMPRESSÃO RÉGIA DO RIO DE JANEIRO
O presente trabalho busca analisar a prática do oferecimento de dedicatórias impressas nos últimos anos do setecentos, em Portugal, e no Brasil que recebia a Corte Portuguesa. Esses elogios fizeram-se presentes em muitas das publicações da Impressão Régia de Lisboa, agraciando nomes como D. José I, o Marquês de Pombal, D. Maria I, D. João VI, além de outros membros das elites portuguesas. A vinda da Família Real para a América portuguesa fez com que a utilização dessas homenagens também cruzasse o Atlântico, sendo utilizada por diversos letrados e perdurando ao longo do oitocentos no Brasil. O oferecimento público de lealdade e submissão através das dedicatórias abria possibilidades de inclusão na sociedade de corte e de aquisição das benesses reais. No Brasil, as homenagens saídas dos prelos da Impressão Régia dirigiram-se a D. João VI, D. Maria I, príncipes e infantas, e a outros membros das elites políticas e culturais, apoiando-se, da mesma forma como em Portugal, na hierarquia vigente. Pode-se observar então, que a busca dos letrados por uma trajetória bem sucedida, direcionando suas atenções ao poder vigente, ocorreu de forma bastante semelhante nos dois pontos separados pelo Atlântico: Portugal e Brasil.
Ana Cláudia dos Santos Silva (UFPI) - GREGÓRIO DE MATOS E A HERANÇA RETÓRICO-POÉTICA LUSITANA
Em meados do século XVIII, o Licenciado Manuel Pereira Rabelo unifica em códice poemas seiscentistas de gêneros e formas diversos sobre a rubrica “Gregório de Matos e Guerra” como uma unidade imaginada e uma “autoria subjetiva” desses textos. Por muito tempo, os poemas gregorianos foram vistos pela crítica de formulação romântica dos séculos XIX e XX de forma desistoricizada. Utilizando de critérios anacrônicos, essa crítica chegou a acusar Gregório de plágio, considerando que este tinha se apropriado das obras de Gôngora e Quevedo. Na perspectiva de outros estudos a respeito da poesia produzida no século XVII, como o realizado por João Adolfo Hansen, que reconhecem nessa o uso dos preceitos retóricos de linguagem regrada pelos lugares-comuns anônimos e coletivizados, é traçado no trabalho uma linha de filiação entre a poesia atribuída a Gregório de Matos e a poesia produzida em Portugal no mesmo período, pelo pressuposto de que ambas compartilham da concepção de imitação que se baseava em modelos e no uso de tópicas extraídas de fontes preceituais. Pela análise da preceptiva poética lusitana seiscentista, faz-se um estudo dos aspectos da poesia atribuída a Gregório a fim de reafirmar o que se tem dito na vertente historicista sobre a herança retórico-poética encontrada nesses poemas.
Ana Cristina Comandulli da Cunha (UNIRIO/UFF/PPRLB) - DISCURSO NÃO ENCOMENDADO: A CRÍTICA DE ALEXANDRE HERCULANO AOS PRIMEIROS CANTOS DE GONÇALVES DIAS
Em 1857, ao reimprimir o seu livro de poesia Primeiros Cantos, Gonçalves Dias acrescentou, como prefácio, um artigo crítico de Alexandre Herculano sobre o seu trabalho. O texto do crítico lusitano fora publicado na Revista Universal Lisbonense, em 1847, com uma arguta reflexão sobre a forma de construção poética de Gonçalves Dias. Além disso, Alexandre Herculano constrói um estudo crítico muito particular referente ao estado da poesia em Portugal e no Brasil, na primeira metade do século XIX, pesando sempre as vicissitudes dos processos históricos dos dois países. Este trabalho tem como objetivo estudar as reflexões de Alexandre Herculano sobre as razões do crescimento quantitativo e qualitativo da poesia, do aumento do consumo de livros, bem como do desenvolvimento das publicações periódicas da nação infante e da suposta decadência literária de sua mãe pátria.
Ana Cristina Coutinho Viegas (Colégio Pedro II) - SENHOR - TROCAS CULTURAIS EM REVISTA
A Revista Senhor, lançada no Rio de Janeiro, em 1959, em meio a um cenário em que industrialização, urbanização e tecnologia eram palavras de ordem, serviu como um importante espaço para divulgar a produção intelectual e literária da época. Fruto de um período em que o processo de desenvolvimento econômico, a afirmação dos valores democráticos e a efervescência cultural estimularam a transformação dos padrões da imprensa brasileira, propiciando alterações em diferentes periódicos e possibilitando a criação de novas publicações, Senhor constitui-se em objeto privilegiado para investigar mediações entre intelectuais e escritores lusófonos dos dois lados do Atlântico.A partir de um estudo de textos publicados no periódico brasileiro em sua primeira fase, entre março de 1959 e fevereiro de 1964, este trabalho se propõe a traçar um perfil da imagem cultural e política de Portugal nele veiculada.
Ana Luísa Patrício Campos de Oliveira (USP) - CAMILO E BALZAC: ESCRITORES ENTRE DOIS MUNDOS
Como sabemos, o século XIX foi um período marcado por importantes movimentos literários, entre eles o Romantismo e o Realismo. Dois escritores europeus, paradigmáticos para a literatura do mundo lusófono, o francês Honoré de Balzac e o português Camilo Castelo Branco, viveram o momento de transição entre estes movimentos e suas obras foram assinaladas tanto por características românticas, quanto por preceitos realistas. No presente artigo, propomo-nos a analisar como estas escolas literárias influenciaram os legados balzaquiano e camiliano, obras que atravessaram o Atlântico, seja como modelos a serem incorporados e adaptados ou exemplares a serem refutados. Para tanto, faremos uma breve apreciação de alguns romances de ambos os autores, entre eles o balzaquiano Eugénie Grandet e o camiliano Onde está a Felicidade?.
Arno Wehling (IHGB) – A JUSTIÇA PORTUGUESA NA AMÉRICA: CONFLITOS E ACOMODAÇÕES
O tema da justiça portuguesa na América levanta uma série de questões relevantes para a compreensão do processo de colonização do Brasil. Essas questões referem-se a aspectos políticos, institucionais, econômicos, sociais, culturais e especificamente jurídicos. Serão apresentados alguns pontos expressivos desses aspectos, como o da distribuição geográfica da prestação jurisdicional, o da efetividade das normas portuguesas na colônia, o da existência de outras normas jurídicas concorrentes, o da identidade dos operadores jurídicos atuantes e o da cultura jurídica praticada. A conclusão procurará responder à pergunta seguinte: existiu um direito colonial, no sentido da existência de uma configuração jurídica própria à experiência colonial, embora no quadro geral da colonização portuguesa, ou tratou-se apenas de prática estritamente reflexa do direito português?
Beatriz Brito de F. Bandeira (UFRJ – Museu Nacional) - ESTUDO DAS FAIANÇAS PORTUGUESAS RECUPERADAS NAS ESCAVAÇÕES NO PAÇO IMPERIAL - PRAÇA XV DE NOVEMBRO, RIO DE JANEIRO
Nas palavras de Paulo Tadeu de Souza Albuquerque, escavações arqueológicas realizadas em sítios históricos brasileiros, do Norte ao Sul do País, revelam que a Faiança teve grande aceitação no mercado colonial brasileiro. Dado à abundante quantidade encontrada nos sítios arqueológicos brasileiros, ela mostra-se como um dos materiais arqueológicos mais representativos do período colonial. Um projeto de mestrado do curso de Arqueologia, do Museu Nacional (UFRJ), está sendo desenvolvido em torno da coleção de faianças portuguesas dos séculos XVII e XVIII recuperada das escavações arqueológicas realizadas no Paço Imperial, na Praça XV, promovidas pelo IPHAN na década de 1980. Trata-se de uma análise que se pretende resultar em novos conhecimentos sobre esses vestígios arqueológicos, visando proporcionar uma noção da sociedade que os produziu, consumiu e transportou para o Brasil, aqui reproduzindo e implantando seus valores e suas práticas sociais.
Berty Biron (RGPL) – FICÇÃO E HISTÓRIA ENTRELAÇADAS NO ATLÂNTICO
Esta comunicação visa, inicialmente, abordar a viagem de Diogo Álvares Correia e Paraguaçu à França. Ficção ou realidade? Importa entender que trocas culturais e ritos de passagem estão presentes nas travessias do Atlântico e também nesta obra de Santa Rita Durão - o Caramuru. Com base em fontes históricas, o frade-poeta constrói seu poema épico, em que ficção e história se entrelaçam. Note-se que as personagens históricas ganham um tratamento que encerra uma concepção de herói e heroísmo. Paraguaçu será a personagem em que se irão operar grandes transformações, iniciadas nas águas do Atlântico com a fatídica morte de Moema. Em solo francês, Paraguaçu é batizada e nomeada Catarina. A índia cristianizada, ao regressar, tem visões com a virgem Maria e profetiza sobre o Brasil, na passagem pela linha do Equador. Nossa proposta é trazer à tona os possíveis vieses de leitura dessas viagens e rever o Atlântico como espaço de trocas culturais.
Bianca Santos Coutinho dos Reis (UERJ) – “EU E AS LEITORAS FLUMINENSES” – MARIA AMÁLIA VAZ DE CARVALHO E SUA TRAVESSIA PARA “FALLAR ÀS LEITORAS DE AQUÉM DO ATLANTICO”.
Maria Amália Vaz de Carvalho (1847 – 1921), escritora portuguesa dos fins de um século “suficientemente polido” – o XIX, como a própria o define – e início de outro com tantas mudanças importantes em todas as áreas, respeitada entre os homens ilustres de letras de sua época, atravessa o oceano “sozinha e desprotegida” para “falar às suas leitoras de aquém do Atlântico”. Em seu artigo de estreia na imprensa carioca, publicado no Jornal do Commercio – periódico em que colaboraria por muitos anos – de 23 de fevereiro de 1878, quando a autora já contava 31 anos de vida e 11 de carreira literária, ela mostra a estima pelos brasileiros e toda a sua ansiedade em “associar as mulheres de seu país irmão” aos debates sobre a educação feminina moderna que tão caros à sua obra jornalística e literária. Neste artigo, como em muitos outros subsequentes, a autora, de modo sutil - característica que lhe é peculiar - mostra as suas intenções ao colaborar com o periódico: colocar sua opinião contra o que considera a pior das escravidões para as mulheres: “a escravidão da alma”.
Breno Marques Ribeiro de Faria (UNICAMP) - A RETRATÍSTICA PORTUGUESA DO SÉCULO XVIII ATRAVÉS DO ATLÂNTICO
A pintura de retrato foi no século XVIII português um importante meio de expressão e confirmação dos valores da sociedade que a demandava e consumia. É possível, por meio da tradição retratística, perceber como se organizou e representou a esfera do poder, que hierarquicamente posicionava todas as pessoas em relação ao monarca e sua respectiva família, ocupantes do mais alto patamar nesse contexto. Essa estrutura de representação atravessa o oceano Atlântico e se reproduz quando chega ao território ultramarino americano. Os retratos existentes na colônia brasileira concentram-se nas figuras da família real e dos mais altos dignitários do reino, como o Marquês de Pombal, vice-reis e governadores. Nessa comunicação pretendemos demonstrar caminhos possíveis para o translado das efígies dessas personalidades da Metrópole às regiões como as Minas Gerais e o Rio de Janeiro, bem como, a produção autóctone de pinturas de retratos.
Bruna Gois Pavão (UFRJ) - ESTUDO DA GRAVIDADE DO VERSO EM LÍNGUA PORTUGUESA: O HENDECASSÍLABO E O DECASSÍLABO
Há uma grande mudança no sistema de versificação em língua portuguesa a partir do Tratado de Metrificação Portuguesa (1851), de Antônio Feliciano de Castilho, que determinava um novo padrão de contagem das sílabas do verso, o padrão agudo, tipicamente francês, em que se contava apenas até a última sílaba tônica. Esse novo padrão deu origem ao verso decassílabo, que assumiu o lugar do verso hendecassílabo, glosado repetidamente pelos autores do Seiscentos, sobretudo com a obra de Camões. O objetivo dessa pesquisa é fazer um estudo da modificação no sistema métrico português embasado na análise de versos de autores do Seiscentos até o século XIX, além de um aprofundamento teórico nos tratados de metrificação – uma vez em que há divergências a respeito da importância desses versos – abrangendo os dois sistemas literários: o português e o brasileiro, pois autores portugueses e brasileiros foram direcionados pela nova metrificação. Dessa forma, busca-se depreender os motivos que levaram ao declínio do verso hendecassílabo, tão caro aos poetas seiscentistas, e à inclinação à tendência francesa, cuja maioria das palavras é oxítona, enquanto em língua portuguesa há uma maior quantidade de palavras paroxítonas.
Bruno Guimarães Martins (UFMG / PUC-Rio) - GAZETA DOS TRIBUNAES, LISBOA (1841); GAZETA DOS TRIBUNAES, RIO DE JANEIRO (1843): EM BUSCA DO CARÁTER NA IMPRENSA PORTUGUESA E BRASILEIRA
Com o objetivo de revelar traços significativos das relações de identidade e diferença entre Brasil e Portugal, o presente artigo se debruça sobre a publicação de dois periódicos homônimos e pioneiros nos dois países. Sem deixar de tecer relações com publicações similares no contexto europeu, como, por exemplo, os periódicos franceses Gazette des Tribunaux (1786) e Le Droit (1835), o artigo é construído a partir da suposição de que as tecnologias que envolvem a produção do impresso, além de possibilitar um ordenamento específico para o sistema jurídico, participam de sua própria constituição. Sendo assim, aspectos não textuais — como os que envolvem o processo de edição e composição — tomam um vulto de relevância pois constituem, em última instância, a forma final do impresso. Dito isso, desenha-se a metodologia do artigo, que busca revelar as características principais dos impressos considerando seus aspectos materiais e formais.
Carlos Eduardo Mendes de Moraes (UNES) - VEÍCULOS DE ERUDIÇÃO: ENTRE SÃO PAULO, LITORAL E LISBOA (II VERSOS)
O ato acadêmico Ao Senhor Bernardo José de Lorena, apresentado no ano de 1791, é um importante documento para o registro das relações administrativas e culturais entre Brasil e Portugal. Seu autor, Salvador Nardi de Vasconcelos Noronha, utiliza-se das formas poéticas de seu tempo para ilustrar a cerimônia de inauguração de dois importantes serviços públicos na colônia: a calçada pavimentada que ligou São Paulo ao litoral e a cadeia pública de São Paulo. As duas instituições são cantadas em poemas escritos em latim e em português, por intermédio das regras da retórica e da poética do mundo antigo (em uso nos séculos XVII e XVIII). Essa erudição foi demonstrada em forma de louvor e de documentação nos trabalhos realizados pelos homens de confiança da coroa portuguesa na América, fazendo, assim, do Atlântico, rota de riquezas e serviços dos portos americanos para Lisboa e de modelos eruditos, no sentido inverso. Palavras-chave: Ato Acadêmico, Cultura, Brasil, Portugal.
Carlos Eduardo Soares da Cruz (UFF) - O ATLÂNTICO COMO RENOVAÇÃO ESTÉTICA: O ROMANCE “CONTEMPORÂNEO” DE MENDES LEAL
Quase seis anos após Alexandre Herculano ter publicado em Portugal o primeiro romance histórico nas páginas do Panorama, Mendes Leal Junior apresenta aos leitores da Revista Universal Lisbonense seu romance Flor do Mar (história de um barqueiro). Esta obra é apresentada como o primeiro romance contemporâneo português. Apesar de discutível esta caracterização, fica claro que se trata de uma forma nova. Assim, em nossa comunicação, analisaremos o desenvolvimento dessa nova estética, sua motivação e reflexão. Mendes Leal é conhecido por seus dramas, cabendo à sua produção narrativa pouca ou nenhuma consideração da academia, talvez porque, diferentemente de Garrett e Herculano nesse período, Leal apoiava o Cabralismo. Há posicionamento político nesse romance cujos personagens são do povo, de cultura voltada para o mar? Publicando antes mesmo de outras narrativas precursoras do romance contemporâneo, citadino, como Viagens da Minha Terra e O Pároco d’Aldeia, Mendes Leal, no prefácio a esse seu romance, comenta as dificuldades de se basear no passado a criação ficcional e resolve utilizar o romance contemporâneo como “tábua de salvação” para “sair com ela salvo na praia”. Com um projeto de nação próprio, o autor busca no mar uma revolução estética e uma esperança de mudança na sociedade portuguesa de seu tempo.
Carlos Roberto Torres Filho (UERJ) - O IMAGINÁRIO EUROPEU E SUA BUSCA POR MIRABILIA: OS ANTÍPODAS SOMOS NÓS!
O trabalho tem a proposta de analisar o ambiente da Expansão Européia, dos séculos XVI e XVII, cuja Revolução Científica que se efetuava exalava uma atmosfera revolucionária e acelerava os entendimentos humanos a respeito do Mundo (seu “ecúmeno cristão”), propiciando a ampliação do espaço terrestre e a interpretação de um Universo infinito. Mesmo o século XIV já esboçava a odisséia geográfica e astronômica européia, levando ao contato entre povos culturalmente diversos, onde o imaginário de criaturas antropomórficas e zoomórficas constava em obras literárias e iconográficas – um Mundo de novos habitantes e culturas. Essa temática certamente fascinou os homens da Época Moderna com suas mentalidades portadoras de resquícios cavaleirescos medievais, repletas de terras longínquas com muita fartura e riquezas, criaturas míticas e fatos pseudo-históricos, somados a valores filosófico-científico-religiosos. Uma realidade repleta de Mirabilia! Tanto no sentido positivo como no negativo. Tenciono ser possível mapear nos textos científicos da época novas visões de compreensão a respeito do próprio Homem, da Vida, e do Universo, em reação à concepção aristotélica-ptolomaica defendida oficialmente pela Igreja Católica no período em questão.
Carolina Izabela Dutra de Miranda (UFMG) - A CORRESPONDÊNCIA DE FERREIRA DE CASTRO A EDUARDO FRIEIRO
A correspondência inédita de Ferreira de Castro a Eduardo Frieiro constitui uma breve troca entre ambos os escritores, além de dar a ver uma relação de amizade, de intercâmbio cultural e de negociação literária, o que indicia a forte ligação do escritor português com o Brasil. Tal negociação pode ser vista através do interesse demonstrado por Ferreira de Castro em relação às obras de Eduardo Frieiro, A ilusão literária e O cabo das Tormentas. O intercâmbio literário confirma-se pelo interesse recíproco, visto que Eduardo Frieiro edita na revista “Kriterion” e no “Suplemento Literário de Minas Gerais” artigos sobre as obras A missão e A lã e a neve, de Ferreira de Castro. Configura-se, assim, outra faceta desta amizade, a admiração do autor de A selva pelos artigos e resenhas publicados na Revista “Kriterion”, da qual Eduardo Frieiro é o diretor. O objetivo deste trabalho é refletir sobre o diálogo literário entre estes dois escritores, além de analisar a visão de Ferreira de Castro sobre a literatura e cultura brasileiras, perspectiva que também poderá ser percebida em A selva.
Cássio Roberto Borges da Silva (DELL/UESB) - DIÁLOGOS DA SUJEIÇÃO: SEPÚLVEDA E NÓBREGA
Em meados do século XVI, a determinação da condição jurídica dos povos nativos da América representava um problema crucial para as Instituições Monárquicas da Península Ibérica. A controvérsia de Valhadolid, situando-se propriamente num âmbito jurídico, assumiria, nos diálogos de Sepúlveda e Nóbrega, uma configuração mimética, já que ambos, de acordo com a convenção quinhentista que regula os empregos do gênero, dramatizam o combate entre posições discursivas concorrentes. Se, a princípio, as peças manifestam posturas antagônicas, opondo os critérios de “servidão natural” e de "proximidade", a condição para a eficácia da sujeição, defendida em ambos os textos, representa um importante ponto de convergência: a aliança entre as armas do poder temporal e as letras da ação missionária. Enfim, pretende-se aqui discutir as estratégias discursivas que, no XVI, buscam a legitimação da conquista.
Cristina Alves de Brito (SEE-RJ)) – 3º CENTENÁRIO DE CAMÕES: CORRESPONDÊNCIA NO ACERVO DO REAL GABINETE
Coube ao Real Gabinete Português de Leitura capitanear as comemorações realizadas no Rio de Janeiro à volta do 10 de junho de 1880. No acervo de manuscritos da instituição existem cerca de 160 cartas por ela recebidas, mencionando as muitas atividades então promovidas. Além de historiarem esse particular momento das relações luso-brasileiras, testemunham fórmulas epistolográficas em voga, com registros de vários estratos sociais. Fazendo um recorte desse material, comentarei aspectos que julgo relevantes para um trabalho sobre o uso da língua, particularmente no que se refere a questões de ordem morfológica.
Débora Cazelato de Souza (UFOP) - ATRAVESSANDO O ATLÂNTICO: A ADMINISTRAÇÃO E JUSTIÇA DOS JUÍZES DE FORA EM MINAS GERAIS
Apenas em 1696 chegava à América portuguesa o primeiro juiz de fora para a Bahia. Mas, somente no início da terceira década do XVIII que tal ofício fora criado em Minas Gerais. Com a justificativa que governavam melhor dos que os juízes ordinários foram sendo estabelecidos por todo o território português. Além disso, o elevado movimento comercial de Vila Rica e Ribeirão do Carmo, respectivamente, atual Ouro Preto e Mariana, o grande número de demandas e sobretudo, o tamanho dos termos, foram fatores que estimularam a necessidade da instalação desse magistrado nas Minas. Esse trabalho pretende analisar as relações desses juízes togados no Novo Mundo e de que forma suas funções – estabelecidas nas Ordenações do Reino – serviam para aumentar o poder real e corrigir os desvios da administração local. Muitas vezes envolviam em conflitos de jurisdição com outras autoridades régias e com poderosos locais. Administravam de ordinário as Câmaras e seria a face mais direta do rei aos olhos dos colonos.
Diógenes Buenos Aires de Carvalho (UEMA) – AS ADAPTAÇÕES LITERÁRIAS E A CULTURA EUROPÉIA: UM CÂNONE EM FORMAÇÃO PARA LEITORES INFANTO-JUVENIS
O presente trabalho tem como objeto de análise três adaptações da obra inglesa A vida e as aventuras de Robinson Crusoe (1719), de Daniel Defoe, realizadas por Carlos Jansen (1882), Monteiro Lobato (1931) e Ana Maria Machado (1995), fundamentada na Estética da Recepção, formulada pelo teórico alemão Hans Robert Jauss, a qual está centrada no leitor. Além da concepção de leitor, o estudo leva em consideração o conceito de horizonte de expectativa, visto que o processo de adaptação com o objetivo de aproximar o leitor em formação (criança ou jovem) da obra literária manipula os elementos textuais e temáticos presentes no texto, tornando-os mais “legíveis” ao receptor alvo. Sendo assim, o confronto de horizontes entre o texto de Daniel Defoe e as três adaptações brasileiras revela os diálogos dos três adaptadores com o modus operandi da cultura européia em face do perfil de leitor previsto, o que implica a criação de três representações do mundo europeu para uma única narrativa. As versões explicitam as estratégias narrativas dos adaptadores quanto à representação do modelo burguês de família, da educação nas modalidades formal e informal, do cristianismo como religião, e da relação entre o civilizado e o selvagem para a constituição do outro.
Dulcirley de Jesus (UFMG) - UM COMPLEMENTO À CORRESPONDÊNCIA DE MANOEL RODRIGUES LAPA A EDUARDO FRIEIRO: AS CARTAS DE INÊS LAPA A NOÊMIA FRIEIRO
Durante as décadas de 30 a 70, Manoel Rodrigues Lapa e sua esposa Inês Rodrigues Lapa estabeleceram comunicação com o casal brasileiro Eduardo Frieiro e Noêmia Frieiro, por intermédio de cartas. O objetivo deste trabalho é avaliar esta correspondência, baseando-se, principalmente, no diálogo entre as duas mulheres. Neste, Inês Lapa se vale de uma linguagem desinibida, marcada pelo desapego às normas rígidas da linguagem formal, para descrever sua rotina e a de seu marido. Seu tom despojado e seus comentários agregam informações imprescindíveis à compreensão de determinados aspectos abordados nas cartas do filólogo português. Ademais, a presença marcante de assuntos familiares nos escritos deste é realçada quando cotejada às cartas de sua esposa. A grosso modo, o conjunto de escritos do casal configura uma espécie de enredo que assume características de uma novela romanesca.
Eder da Silva Ribeiro - O CONSELHO DE ESTADO DE D. PEDRO I E A HERANÇA POLÍTICO-INSTITUCIONAL PORTUGUESA
O presente trabalho tem como objetivo discutir a influência da tradição portuguesa de antigo regime exercida sobre as instituições políticas e administrativas do Primeiro Reinado. Tendo como ponto de partida o Conselho vitalício do Imperador D. Pedro I, pretende-se evidenciar por meio das trajetórias sociais e das ações políticas dos conselheiros de Estado que a mentalidade dominante do período apresentava muito mais continuidades com as práticas de favorecimentos pessoais, que invariavelmente ligavam os membros dos principais postos administrativos às suas redes de origem, do que uma ruptura substantiva que pudesse colocar em pleno funcionamento os preceitos do liberalismo, não obstante esse ideário estivesse presente nos discursos da época, sobretudo nos espaços representativos que haviam sido inaugurados com a abertura da Assembléia Geral em 1826.
Élio Cantalicio Serpa (UFG) - REVISTA BRASÍLIA: RESENHANDO O BRASIL
Em 1942, o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Coimbra criou a Revista Brasília. Uma revista de cunho acadêmico e institucional, diferenciando-se de outras na sua concepção e destinada a um público específico. A publicação contou com o apoio do Instituto para a Alta Cultura da Propaganda Nacional, da Era Salazarista e o Brasil se constituiu em interlocutor básico. As preocupações fundamentais da Revista Brasília giraram em torno de questões relacionadas com a língua, com a história e com a literatura. O objetivo desta comunicação é dar visibilidade às condições de emergência da referida revista e focalizar critérios utilizados pelos resenhistas na avaliação da produção intelectual brasileira da época.
Elisabeth Fernandes Martini (UERJ) - DE MAR A MAR: UMA LEITURA D'AQUELA CASA TRISTE, DE CAMILO CASTELO BRANCO
De mar a mar: uma leitura d’Aquela Casa Triste, de Camilo Castelo Branco - O conto aborda o tabu do incesto e a sua impossibilidade, redundando no desmoronamento do núcleo familiar. O Atlântico acentua a oscilação opulência/penúria, tornando-se o mar um dos atores, no precipitar dos acontecimentos.
Emilly Joyce Oliveira Lopes Silva (UFMG) - PROIBIR E DIVULGAR: O CONTROLE SOBRE A CIRCULAÇÃO DE IDÉIAS EM PORTUGAL E SEUS DOMÍNIOS (1750- 1777)
Interessa-nos, para esta comunicação, o controle sobre a circulação de idéias no mundo luso-brasileiro e o lugar ocupado pelos livros nessa tentativa de controle durante o ministério pombalino. Para tanto, analisamos a participação política de Antônio Pereira de Figueiredo em apoio às reformas pombalinas, defendendo que ele participa do universo dos livros de duas formas diferentes e, aparentemente, antagônicas. De um lado, encontramos o censor, que lida com o “perigo” das obras que pretendem circular e que se preocupa com as possíveis “apropriações” que o leitor pode fazer do conteúdo dos livros. Do outro, está o autor consagrado, com inúmeras obras publicadas e reconhecidas para além dos limites de Portugal, que se utiliza dos livros para levar ao público as idéias políticas que defende. O antagonismo se desfaz quando observamos que tanto os livros escritos por Figueiredo, quanto suas censuras às obras de outros autores estão profundamente entranhadas de valores políticos que caracterizaram o pombalismo.
Ettore Finazzi-Agrò (Universidade de Roma “La Sapienza”) – INSULA MIRABILIS: PORTUGAL NA ENCRUZILHADA DA (VERA) CRUZ
Desde o surgimento no horizonte do imaginário português, o Brasil assume os contornos de uma dimensão suspensa entre horror e esperança, apresentando-se logo como lugar de desterro e como espaço edênico. No meu texto tentarei discutir essa ambigüidade, mostrando como ela encontra a sua manifestação mais evidente na figura da “ilha”, na esteira duma tradição antiga que vai ser continuamente reativada ao longo dos séculos.
Fabiana Sena – DAS REGRAS DE SOCIABILIDADE NAS CORTES RENASCENTISTAS EUROPÉIAS À CIVILIDADE NO BRASIL NOVICENTISTA
No século XVI na Europa, as regras de sociabilidade foram divulgadas através dos livros do gênero da civilidade, a exemplo de Cortesão, de Baldassare Castiglione, de 1528, A Civilidade Pueril, de Erasmo de Roterdam, de 1530 e O Galateo, de Giovanni Della Casa, de 1558, instituindo e divulgando, assim, um novo modo de viver. Essa literatura, sofrendo as suas adaptações, cruzou os limites temporais e geográficos, chegando ao Brasil no Oitocentos, sob os títulos de Tesouro de Meninas, de Madame Leprince Beaumont, de 1757, Tesouro de Meninos, de Pierre Blanchard, s/d, e Código do Bom-Tom ou Regras da Civilidade e de Bem Viver no Século XIX, de José Inácio Roquette, de 1845. Já no século XX, diversos livros vieram a lume propagando as regras de civilidade a exemplo de Tratado da civilidade e etiqueta, de 1909, de Condessa de Gencé, Noções de civilidade e higiene corporal: para uso das crianças no lar e nas escolas primárias, de 1918, de José Sotero de Sousa e Boas maneiras, manual de civilidade, s/d, de Carmem D’ Ávila. Para tanto, este trabalho torna visível a permanência da tradição da civilidade nos livros de leitura que circularam entre os leitores escolares e não escolares no país até o século XX.
Fabiano Cataldo de Azevedo (UniRio) - CONDE DE AZEVEDO: UM BIBLIÓFILO PORTUGUÊS NO ESPÓLIO DO REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA
O trabalho tem objetivo de evidenciar a participação discreta e silenciosa de Francisco Lopes de Azevedo Velho, o 1º Conde Azevedo, na literatura e história portuguesa. Após algumas incursões na política, esse miguelista e católico extremo, recolheu-se em sua casa em Póvoa do Varzim e deu continuidade a formação da biblioteca iniciada por seu avó. Revelando uma argúcia típica de um bibliófilo e um equilíbrio diante de seus critérios de escolha na compra, incomum a seus pares, tornou sua coleção de impressos e manuscritos tão famosa quanto sua própria reputação de intelectual. Graças aos seus conhecimentos históricos e literários alguns de seus coetanos, como Garrett, Herculano, Inocêncio e Camilo Castelo Branco fizeram dele um estimado consultor. A comunicação terá como foco principal as informações cotejadas num conjunto de 67 cartas de sua autoria contidas no espólio de manuscritos e autógrafos do Real Gabinete Português de Leitura. Essas missivas, trocadas com Camilo, durante dez anos revelam a prática da bibliofilia portuguesa no século XIX. Ilustra igualmente alguns aspectos do mercado e circulação de impressos antigos em Portugal. O suporte teórico para compreender a antropologia do consumo e do modus faciendi do bibliófilo está alicerçado em textos de Walter Benjamim, sobretudo “Desempacotando a minha biblioteca” e em Russel Belk (1988).
Fernanda Suely Muller (USP) - REFLETINDO A “VITRINE” ATLÂNTICA: A REPERCUSSÃO DA EXPOSIÇÃO NACIONAL DO RIO DE JANEIRO (1908) NA IMPRENSA LUSO-BRASILEIRA
Pensada para ser um marco na comemoração do centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, decretada pelo então rei D. João VI, em 28 de janeiro de 1808 – quando da transferência da corte real para o Brasil – a Exposição Nacional de 1908 foi inaugurada em 11 de agosto do mesmo ano. Seguindo o esteio de outras exposições famosas (como a ocorrida em Paris em 1900), o evento conseguiu se consagrar como um dos maiores acontecimentos da época que serviu não só de “vitrine” para o Brasil moderno e republicano, mas também para reavivar os laços com a antiga metrópole, seja através da grande exposição de produtos lusitanos ou pela visita do rei D. Carlos I anunciada. Apesar de malogrado o plano da visita real em decorrência do regicídio ocorrido antes da Exposição, tal acontecimento teve uma importância singular para o reforço da amizade luso-brasileira no período, particularmente abalada desde os desdobramentos da Revolta da Armada e a Proclamação da República Brasileira. Nesse sentido, neste trabalho pretendemos analisar alguns artigos que antecederam e repercutiram tal Exposição nas revistas luso-brasileiras Serões (1901-1911), Ocidente (1875-1915) e Brasil-Portugal (1899-1914), procurando refletir, sobretudo, sobre a representatividade desse momento para as relações de Brasil e Portugal.
Fernanda Verdasca Botton (UniABC) - ALEIJÕES SOCIAIS: SERVIDÃO E MELODRAMA.
Nascido em terras lusitanas, o dramaturgo Gomes de Amorim viveu parte de sua infância e juventude no Brasil, mais precisamente no Pará e nos sertões do Amazonas. Foram dez anos de exílio, tempo suficiente para que o autor desenvolvesse um panorama crítico em relação aos regimes arcaicos de trabalho existentes em terras tropicais. Na peça Aleijões sociais, a escravatura branca é o objeto de reflexão e, com o intuito de denunciar o Mal e moralizar os valores sociais de um tempo, Amorim escolhe como gênero o melodrama. No entanto, aos clichês melodramáticos, o autor mescla elementos risíveis e constrói, como já fizera em Fígados de Tigre, um texto hiperbólico e paródico. Portanto, nosso estudo analisará a peça Aleijões sociais tendo duplo objetivo: primeiro, discutir os valores sociais que, pensados em Portugal, atravessaram o Atlântico para serem aplicados às relações trabalhistas do Brasil Colônia e Império; segundo, compreender o mérito e o demérito do melodrama como gênero teatral.
Fernando Miranda (Erasmus Mundus – Universität Tübingen) - TRÊS TRAVESSIAS ATLÂNTICAS: HILDE DOMIN, GIUSEPPE UNGARETTI E JORGE DE SENA
A partir da tese de mestrado que se está a escrever sobre o mesmo tema, esta exposição procurará expor brevemente alguns pontos de investigação que vêm colocando os três autores supracitados dentro de uma perspectiva de um exílio europeu na América. A presença desses autores nas chamas três Américas nos permite um amplo debate acerca deste encontro de culturas. Ademais, considerando que cada exílio se realizou por diferentes motivações e em diferentes contextos, que, no entanto, não se afastam completamente, deixa-nos entrever dissonâncias e associações nas obras literárias e críticas dos autores aqui estudados. Por ser a base deste evento o espaço lusófono, a exposição deverá concentrar-se sobretudo nas passagens de Giuseppe Ungaretti e Jorge de Sena pelo Brasil. A presença deste último nos Estados Unidos, bem como a de Hilde Domin na República Dominicana, são contributos à reflexão.
Flavia Maria Ferraz Sampaio Corradin (USP) - UM AUTO DE FÉ NO HOMEM
Essa comunicação intenta apontar, numa perspectiva intertextual, a relações histórica e literárias sugeridas na peça Visita na prisão ou o último sermão de António Vieira, de armando Nascimento Rosa, que recupera dois expoentes máximos do Barroco cujos percurso de vida reúnem Portugal e Brasil.
Flavia Tebaldi Henriques de Queiroz (UFF) - O ATLÂNTICO COMO PONTE: A REPRESENTAÇÃO DO MAR NAS OBRAS DE JORGE DE SENA E SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN.
Em carta enviada ao amigo Jorge de Sena em março de 1961, Sophia de Mello Breyner Andresen justifica sua preferência pelo conto Atlântico, então recém-publicado pelo escritor no livro Andanças do Demónio: "O conto que prefiro é o Atlântico, que tem um ambiente extraordinário em que se toca o navio, o mar, os homens, a vastidão do mundo que vivem espantosamente para além da história que é contada. Você cria um momento suspenso no meio do tempo, no meio da noite, no meio do mar". (SENA, J. ANDRESEN, S. M. B. 2006, P. 29) É sobre esse mar partilhado pelos amigos que se separam, do homem que parte e da poeta que permanece, que visamos elaborar nossa comunicação, considerando que o mar, imagem fulcral na vida e na obra dos dois escritores, assume nesse momento, com o exílio de Jorge de Sena no Brasil, outra importância: o de espaço de afastamento, de separação, a partir do qual os escritores-amigos reavaliam a cultura portuguesa em confronto com outras experiências nas Américas. Para isso, trabalharemos com a correspondência trocada entre Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen no período de 1959 a 1978, além de suas obras publicadas nesse período.
Flavio Felicio Botton (UniABC) - JOSÉ DE ANCHIETA: A TEORIA DOS GÊNEROS E A EXPANSÃO DO CATOLICISMO IBÉRICO NO BRASIL
O trabalho pretende mostrar o catolicismo ibérico trazido às terras brasileiras por José de Anchieta, sob uma dupla face que estaria associada aos gêneros literários utilizados na obra do jesuíta: o dramático e o lírico. Primeiramente, fazendo uso do teatro Anchieta reconhece as vantagens desse gênero para o seu propósito imediato. Entre outros benefícios, o teatro, objetivo e exterior, “mostra” a história tornando-a mais concreta e persuasiva, principalmente aos não iniciados no pensamento cristão mais abstrato. Esse é o conhecido talento catequizador de Anchieta, que será analisado na composição “Na aldeia de Guaraparim”. Ao lado dessa produção, temos a sua lírica e ela nos mostra um sentimento cristão subjetivo, sincero e apaixonado. O gênero apropriado para o confessionalismo é aproveitado pelo padre em composições como “Da concepção de Nossa Senhora”. Assim, quando se dirigia aos outros, Anchieta utilizava o teatro; quando confessava os seus mais sinceros sentimentos, como que legitimando as intenções catequéticas, utilizava-se da lírica.
Francine Fernandes Weiss Ricieri (UFPR) - O TRATADO DE METRIFICAÇÃO PORTUGUESA, DE CASTILHO, E A POESIA LUSO-BRASILEIRA
O objeto desta comunicação é o Tratado de Metrificação Portuguesa, cuja primeira edição foi publicada por António Feliciano de Castilho (1800-1875) em 1851. Discutem-se, aqui, as alterações relativas ao sistema de contagens de sílabas poéticas tal como aparecem formuladas no Tratado, algumas das decorrências críticas relacionáveis a tais alterações, bem como aspectos do contexto de produção da obra, em Portugal, assim como de sua repercussão, no Brasil.
Francisco Ferreira de Lima (UEFS) – PORQUE ME UFANO DO MEU PAÍS: AMBRÓSIO FERNANDES BRANDÃO E O DIÁLOGO DAS GRANDEZAS DO BRASIL
Ambrósio Fernandes Brandão, um português que teria chegado ao Brasil na década de 1580, pôs, em 1618, o ponto final em seu, até prova em contrário, Diálogo das grandezas do Brasil. Não obstante já razoavelmente avançado o século XVII, seu texto é ainda, tal como os de Caminha, de Gândavo ou o de Gabriel Soares de Sousa, um vasto painel do elenco de maravilhas da Colônia — metonimicamente apresentada através das capitanias de Pernambuco e da Paraíba. Com um acréscimo singular em relação àqueles, uma vez que sua estrutura em forma de diálogo autoriza uma legítima dimensão ficcional, que se patenteia no comportamento das duas personagens, Brandônio e Alviano, o primeiro um entusiasmado ufanista das coisas do Brasil, o segundo um reinol recém chegado e cheio de desconfiança acerca das potencialidades brasileiras. Não é pequeno o contorcionismo verbal de Brandônio para persuadir seu interlocutor sobre as grandezas do Brasil. A comunicação vai mapear alguns dos procedimentos utilizados para tal fim.
Francisco Maciel Silveira (USP) O LEGADO DE UM PRÍNCIPE QUASE PERFEITO
Análise e interpretação da peça O testamento de D. João II, do dramaturgo luso Manuel Córrego. A peça recorre a flashbacks ao evocar fatos que, pessoais ou políticos, marcaram o reinado do monarca cuja influência se fez sentir nas relações políticas, sociais ou antropológicas no espaço Atlântico.
Gabriel Dória Rachwal (UFPR) - O CRÍTICO: UM INDIVÍDUO DIANTE DE UMA VIDA A SIGNIFICAR
O dramaturgo Samir Yazbek faz de Fernando Pessoa personagem da sua peça de teatro intitulada O fingidor. O Pessoa que habita a dramaturgia de Yazbek cria um “heterônimo vivo” chamado Jorge Madeira. Com este novo heterônimo Pessoa se propõe a trabalhar para Américo, crítico da obra de Pessoa. “O sol doira sem literatura”, esse verso do poema “Liberdade”, de Pessoa, é incompreensível para Américo naquilo que o verso tem de contrário a uma visão da literatura que a vê como um fim em si mesma. Enquanto o personagem Fernando Pessoa fala, por exemplo, da necessidade de dinheiro para sobreviver, Américo se quer livre de qualquer trabalho braçal. Esta comunicação vem pensar, a partir da peça, a relação da crítica com a literatura, o que acaba sendo uma metáfora para relação do indivíduo com uma vida a significar.
Germana Maria Araújo Sales (UFPA) - O ROMANCE COMO PONTE: O ESPAÇO LUSÓFONO NO BRASIL OITOCENTISTA
A popularidade de Camilo Castelo Branco atravessou o oceano e aportou no Brasil, fato constatável nos anúncios de jornais do século XIX, em Belém do Pará, como também no Grêmio Literário Português, com as Camilianas. É sobre a circulação das obras do romancista português que versará esse trabalho.
Gisella de Amorim Serrano (UFMG) - O ATLÂNTICO COMO "PÁTRIA FLUTUANTE"? IMPRESSOS E CULTURA POLÍTICA LUSO-BRASILEIRA
No ano de 1941 foi assinado um Acordo cultural luso-brasileiro entre o governo de Salazar e Getúlio que foi saudado pelo estreitamento de laços políticos calcado sob o prisma cultural. A política editorial instituída por essa razão será objeto desse trabalho. Analisaremos as implicações teóricas no que toca à instituição de uma memória nacional extraterritorial expressas nos impressos do Acordo. Demonstraremos como essas edições foram, ao mesmo tempo, meio e/ou produtos oriundos de um esforço na instituição de uma cultura política luso-brasileira. Essa pesquisa contou com apoio do CNP.
Giselle Martins Venâncio (UFF) - UMA FESTA LUSO-BRASILEIRA: AS ESTRATÉGIAS DE INTERCÂMBIO INTELECTUAL ENTRE PORTUGAL E BRASIL NO TRICENTENÁRIO DA MORTE CAMÕES
A presente comunicação visa investigar a comemoração do tricentenário de morte de Camões, ocorrido no ano de 1880 e, por meio da indagação minuciosa dos eventos realizados tanto em Portugal, quanto no Brasil, identificar como se desenvolveram as relações culturais luso-brasileiras naquele momento. Considera-se que esse evento constituiu um importante momento da construção das relações culturais e intelectuais estabelecidas entre Portugal e Brasil na segunda metade do século XIX. Ainda que, nesse período, os intelectuais brasileiros estivessem mais preocupados com a constituição de um ideal de nacionalidade que se plasmava, em grande medida, por um discurso de oposição à produção intelectual da antiga metrópole, as falas e eventos da festa do tricentenário de Camões elaboraram-se num campo condicionado por um mito de fundação da identidade nacional brasileira que era, na opinião de seus mentores, na origem e fundamentalmente, lusitano. Assim, o que se constituía como brasilidade, nesta comemoração, era num certo sentido também lusitanidade. Camões deixa de ser visto apenas como o “representative man da alma portuguesa” para tornar-se um “patrono recuado também da nacionalidade brasileira”.
Giuliano Lellis Ito Santos (USP) - TRÊS ANTONIOS: A RECEPÇÃO DE EÇA DE QUEIRÓS NA DÉCADA DE QUARENTA
A década de quarenta é muito profícua na produção de leituras sobre a obra de Eça de Queirós. A escolha de trabalhar com três importantes críticos - António Sérgio, António José Saraiva e Antonio Candido - recai sobre a natureza de seus trabalhos, pois, estes, trazem estruturações teóricas diversas das leituras geralmente biográficas, típicas desse período. Assim, a opção desses autores por trabalhar com uma perspectiva calcada na obra de Eça, ao invés de na sua vida, traz observações valorizadas até os dias atuais. Desse modo, ao analisar as continuidades e descontinuidades de suas argumentações, desnuda-se o momento e o local em que essas leituras foram produzidas, fazendo com que as críticas ganhem em significação, ao mesmo tempo, que tenham seu alcance delimitado.
Helio de Araujo Evangelista (UFF) - O ATLÂNTICO: UMA PONTE QUE GERA UMA CIDADE. RIO DE JANEIRO, UMA CIDADE PORTUGUESA!
Usualmente o oceano é tido como algo que separa os povos, dificulta o livre curso entre eles na forma de ser uma barreira natural. No entanto, meu trabalho vai na direção oposta, ou seja, o oceano perfaz um eixo identitário, e procuramos detalhar este aspecto pela análise da configuração de um fato urbano que tem na praia e na presença portuguesa um de seus elementos mais distintos de sua identidade, refiro-me à cidade do Rio de Janeiro. Procuro destacar toda a diversidade urbana construída ao longo dos séculos que ainda hoje marcam a urbe. Diversidade esta que vai desde iniciativas econômicas, associativas e políticas (embora com não caráter partidário). Ao longo do tempo foram instalados uma série de equipamentos de ordem cultural, recreativa, educacional, previdenciária, hospitalar etc.fora os convênios entre os governos brasileiro e português e os laços familiares que tornavam receptivo tudo o que vinha de Portugal. E tudo isto construído em favor dos que aqui vinham para vencer na vida. Este ethos, o de vencer na vida, ajuda a compreender muito do que no Rio de Janeiro foi implementado.
Heloísa de Araújo Duarte Valente (MusiMid-ECA/USP) - CANÇÃO D'ALÉM-MAR: O FADO E A CIDADE DE SANTOS - UM PROJETO DE PESQUISA
Canção d’Além-Mar
Canção d’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos (livro)
O fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas (documentário)
O fado na cidade de Santos: sua gente, seus lugares (hipertexto)
Esta comunicação tem, como objetivo, apresentar os resultados do projeto “Canção d’Além-Mar”. O trabalho de pesquisa, realizado pelo MusiMid* descreve e analisa a presença do fado, numa das cidades mais antigas e portuguesas do Brasil. Graças a essa marcante presença lusitana, Santos foi palco, durante várias décadas, de um importante número de programas radiofônicos, além de ter acolhido artistas de grande prestígio, especialmente fadistas. Dentre os atores culturais, destacam-se Manoel Ramos e Lídia Miguez: radialistas e fadistas têm toda a trajetória da música portuguesa em sua voz e em sua memória:
Em atividade há mais de seis décadas, com o programa Presença Portuguesa, o casal tem sido responsável por várias iniciativas, no sentido de divulgar e preservar a música portuguesa. Quando o fado se acreditava esmorecido, criaram o movimento Amigos do Fado. O documentário Canção d’Além-Mar mostra como o fado está presente na cidade de Santos, através de depoimentos de seus protagonistas, dos fadistas e pessoas ligadas ao fado. O livro (Realejo/ CNPq) oferece textos que descrevem a vida musical na cidade, o histórico da imigração portuguesa, ao longo do século XX, além de estudos referentes ao fado, suas letras e o imaginário. O hipertexto (Realejo/ FAPESP) inclui textos, um programa de rádio, um banco de dados e um banco de imagens referentes aos locais da cidade em que costumava ser executado, dando destaque ao bairro da Vila Matias, o bairro fadista de Santos. Ainda: um banco de dados, com os fados gravados no Brasil, em 78 rotações.
Ida Alves e Angela Telles (UFF / UNESA) – ATRAVESSANDO O ATLÂNTICO: IMAGENS DE BRASILEIROS POR PORTUGUESES
Nesta comunicação conjunta, na linha de pesquisa da história cultural, estudo da circulação das representações, apresentaremos como certas imagens do Brasil e dos brasileiros foram construídas a partir de configurações literárias e jornalísticas de autoria portuguesa, especialmente ao longo do século XIX. Os deslocamentos entre Portugal e Brasil propiciou, dos dois lados, encontros e desencontros culturais e sociais, os quais, examinados hoje, demonstram um imaginário forte de pré-conceitos que, reatualizado, ainda permanece em nossa contemporaneidade. Assim, destacaremos, de um lado, visões brasileiras de escritores portugueses oitocentistas como Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós, três nomes fundamentais da literatura portuguesa com ampla recepção também no Brasil. De outro, o trabalho do artista-jornalista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), considerado um dos ícones do realismo em Portugal, que, em meados de 1875, interrompe suas atividades em Lisboa e decide atravessar o Atlântico, a convite, para se encarregar das ilustrações do periódico carioca O Mosquito. Em sua primeira atuação datada de 11 de set. de 1875, criou quadrinhos para relatar suas memórias da viagem para o Brasil. Neles pode-se perceber como esse imaginário dos brasileiros foi construído com tintas desfavoráveis.
Ivete Silva de Oliveira - RELAÇÕES SOCIAIS NO ESPAÇO ATLÂNTICO: REPRESENTAÇÕES LIMABARRETIANAS DA RESISTÊNCIA ANTIRRACISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA PÓS-EMANCIPAÇÃO.
Caudatárias ao desenvolvimento da ciência moderna nos séculos XVIII e XIX, as então denominadas teorias raciais surgidas na Europa ─ ao suporem que as raças humanas difeririam quanto a capacidades e habilidades em termos morais, psicológicos e cognitivos ─, seriam largamente utilizadas para respaldar o grau de civilidade e progresso das nações, bem como justificar a dominação política, a exploração econômica e sentimentos classistas que, sob a ótica colonialista, confeririam à cor a função de marcador social, transformando a raça biológica em raça histórica e contribuindo para a perpetuação da estrutura mental herdada do passado escravista. Vinculada à linha temática Relações Políticas, Sociais e Antropológicas no Espaço Atlântico esta proposta de comunicação, em linhas gerais, privilegia o diálogo entre Literatura e História ao considerar o discurso limabarretiano em sua dimensão de arte engajada como pólo de resistência antirracismo, evidenciando as implicações da ressignificação das teorias raciais pelas elites nacionais no período pós-emancipacionista, ─ considerando o processo de construção da identidade nacional ─, ao discutir a relação entre fazer artístico como reflexo da dinâmica social e, ainda, como possibilidade de autorrepresentação do artista pelo discurso literário.
Jacqueline Adèle Penjon (Université de Paris 3/Sorbonne Nouvelle) – XAVIER DE CARVALHO, DIRETOR DE A REVISTA LUSO-BRAZILEIRA (1893)
Xavier de Carvalho reside em Paris de 1885 a 1919. Colabora em vários periódicos portugueses e brasileiros como também em A Illustração - Revista quinzenal para Portugal e Brazil (maio de 1884-janeiro de 1892) editada em Paris, dirigida por Mariano Pina. Republicano socialista, ele resolve continuar a divulgação da arte e das letras, dar uma idéia da intelectualidade portuguesa e brasileira do final do século, através do novo periódico que vai dirigir : A Revista - Illustração Luso-brazileira (de junho de 1893 a 31 de Dezembro de 1893). Tem em vista o renascimento dos dois povos irmãos e estabelece uma verdadeira ponte "triangular" entre intelectuais franceses, portugueses e brasileiros.
Jorge Vaz de Carvalho (CECC- Universidade Católica Portuguesa) – JORGE DE SENA: PAISAGEM E HUMANISMO
A partir do conto «Duas Medalhas Imperiais com Atlântico» procuraremos compreender a sensibilidade intelectual do escritor ao encontro de paisagem natural e paisagem humana, numa geografia atlântica em que se define o drama do homem e o desconcerto do mundo - e como o conto, enquanto género literário, subverte as suas regras para esteticamente os representar.
José Cândido de Oliveira Martins (Universidade Católica Portuguesa) – ANTÓNIO FEIJÓ E O BRASIL: VISÕES DE UM POETA-DIPLOMATA
Cônsul em 1886, foi colocado no RJ e no Rio Grande do Sul. Sua estada até 1890 foi literariamente fecunda. A separação do Atlântico desencadeou a saudade e o exercício da comparação intercultural. É ainda interessante analisar alguns poemas apenas publicados em jornais brasileiros da época.
Juliana de Campos Florentino (USP) – INTERTEXTUALIDADE DISCURSIVA EM JERUSALÉM, DE GONÇALO M. TAVARES
Neste trabalho, procurarei apresentar de que forma o interdiscurso trazido à tona no romance Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares, atesta a mudança na direção das "influência", agora no sentido literatura brasileira para a portuguesa (colônia-metrópole), que se iniciou a partir do Modernismo, no século XX. Após grande período ditatorial, a literatura portuguesa contemporânea, com a Revolução dos Cravos, pode mostrar seus temas a partir do ambiente político libertário que se instaura, apresentando a mistura das línguas do atlântico e da Europa que se fundem depois da abertura política, e que confundem os portugueses no reconhecimento de uma pátria delimitada apenas ao espaço português, que não se confunda com os territórios conquistados. Este romance apresenta um discurso bastante heterogêneo no qual todas as personagens da trama dialogam num entrecruzamento de ações e idéias em que se destaca a forma de produção discursiva de cada uma, tendo a escolha de palavras estritamente ajustadas a cada acontecimento do enredo, que procuram demonstrar ao leitor o mais nitidamente possível o ponto de vista de cada personagem, nos mostrando igualmente a relação um/outro que se estabelece no discurso. Os conceitos de História e autenticidade do discurso também são discutidos no livro, que procura mostrar ao leitor que a verdade criada na enunciação é bastante relativa.
Leila Mezan Algranti (UNICAMP) – O INTERCÂMBIO ALIMENTAR E A TRANSMISSÃO DE SABERES ENTRE O VELHO E O NOVO MUNDO (SÉCULOS XVI – XVIII)
Os historiadores admitiram que a partir de Colombo, o intercâmbio alimentar que se estabeleceu entre a Europa e a América, provocou uma verdadeira “revolução alimentar” com produtos cruzando os mares e alterando o consumo e as formas de processar os alimentos. Isto porque os “descobridores” usaram como área de produção de alimentos os novos territórios, exportando além-mar todos os produtos importantes e fundamentais da dieta européia. Por outro lado, diversos gêneros alimentícios foram levados para a Europa. Com base em dados coletados na correspondência dos governadores do Estado do Grão Pará e Maranhão, em tratados científicos e em notas de viagens, pretende-se refletir sobre as trocas culturais entre a região amazônica e as demais partes do Império português. O ponto de partida da análise será a produção e o intercâmbio de plantas e sementes utilizadas como temperos ou com fins terapêuticos. Interessa identificar não só os produtos e suas propriedades, mas também uma possível política científica da Coroa. Trata-se, portanto, de ir além dos significados econômicos que estes condimentos ou ervas certamente possuíam para explorar também o intercâmbio de saberes e conhecimentos, bem como o sentido científico atribuído a tais produtos, na segunda metade do século XVIII, quando se buscou um maior conhecimento da flora da região e a aclimatação de plantas oriundas de outras Conquistas portuguesas.
Lucia Helena (UFF/ CNPq) – TRAVESSIAS PELO ATLÂNTICO: DO DESASSOSSEGO PESSOANO ÀS FICÇÕES DO DESASSOSSEGO CONTEMPORÂNEO
No século XX, no cenário transformador do modernismo internacional, Fernando Pessoa, em seu heterônimo Bernardo Soares, legou-nos o Livro do Desassossego, no qual registrou fragmentos de ensaio e memória, instantes ficcionais e supostamente confessionais. O texto se constitui nume espécie de diário, matéria híbrida em que o mundo circundante e potente sensibilidade narrativa dão ao leitor a possibilidade de aceder a uma belíssima obra, cuja capacidade de transformação não cessa de ser assinalada. O narrador principal, mas não exclusivo, das centenas de fragmentos que compõem o livro, chamado pelo heterônimo de "autobiografia sem fatos" apresenta-nos narrativas de vários tipos: reflexões, fulgurações, devaneios, confissões da intimidade ficcionalizada. Surpreendente é que, lido hoje, o texto nos revele sua atualidade, se comparado às ficções do desassossego contemporâneo, no Brasil, como em obras de João Gilberto Noll e na África do Sul, como em textos de John Maxwell Coetzee. Isso tudo a nos indicar que a escrita e o pensamento de Fernando Pessoa, ontem e hoje, percorre as águas do Atlântico, tecendo letras e imaginários interculturais.
Lucia Maria Bastos Pereira das Neves e Tania Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira (UERJ) – LIVREIROS E IMPRESSORES: BRASIL E PORTUGAL, IDÉIAS, CULTURA E PODER (1808-1831)
Analisando-se alguns jornais, como a Gazeta do Rio de Janeiro, o Diário do Rio de Janeiro e o Jornal do Comércio, é possível encontrar diversos anúncios sobre livros e livreiros que se localizavam na nova Corte instalada nos trópicos. Também por meio das licenças expedidas pelo Desembargo do Paço e de alguns catálogos de livreiros, pode-se afirmar que havia um intenso comércio de livros entre Lisboa e Rio de Janeiro, apontando ainda para a circulação de uma grande diversidade de obras. A presente comunicação pretende analisar como livros, livreiros e impressores foram importantes para a estruturação das práticas culturais do Brasil, nas primeiras décadas do oitocentos, e como, através desse comércio, as idéias políticas e culturais advindas da Europa, em especial de Portugal, chegavam ao lado de cá do Atlântico.
Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ) – O ITINERÁRIO DA ATLÂNTIDA (1915-1920): UM PROJETO D’AQUÉM E D’ALÉM MAR
A revista Atlântida foi o mais expressivo veículo de divulgação de um projeto político-cultural que postulava a formação de uma comunidade luso-brasileira. Dirigida no Rio de Janeiro por Paulo Barreto, o popular João do Rio, e em Lisboa, por João de Barros, a Atlântida circulou mensalmente entre 1915 e 1920, e constituiu um espaço de fermentação intelectual e de sociabilidade. Ao lado da permanente reflexão doutrinária acerca da conveniência do estreitamento das relações entre Brasil e Portugal, o periódico publicava contribuições literárias e artísticas, crônicas históricas e estudos de interesse geral, o que lhe conferia um alcance político e ao mesmo tempo cultural.
Luciana Villas Bôas (UFRJ) – EXTRAVIO E AUTORIDADE EM RELATOS INGLESES SOBRE O BRASIL DO SÉCULO XVI
Diferentemente do corpus de textos franceses sobre o Brasil colonial, os textos ingleses apenas começam a despertar a atenção de estudiosos. Aos poucos, o estudo das coletâneas de Richard Eden, Richard Hakluyt e Samuel Purchas revela o papel notável que desempenharam na produção da Brasiliana européia. A partir da história e do contexto de publicação de alguns textos individuais, em particular o de Fernão Cardim, publicado pela primeira vez em Purchas, his Pilgrimes (Londres 1625), reuniremos subsídios para uma abordagem das letras coloniais de uma perspectiva Atlântica. De particular interesse à nossa pesquisa será determinar os modelos de autoria associados à validação dos relatos como conhecimento empírico à elaboração de justificativas retóricas para a expansão ultramarina européia.
Luciene Marie Pavanelo - DESLOCAMENTOS ATLÂNTICOS SEGUNDO CAMILO E MACEDO: UM MUNDO ALÉM DO ESPAÇO NACIONAL
Camilo Castelo Branco e Joaquim Manuel de Macedo são conhecidos pelo retrato que fizeram, respectivamente, da sociedade portuguesa e brasileira do século XIX. Apesar da predominância do espaço nacional em suas produções, em algumas de suas obras a ação se passa em outros países, o que mostra a importância que os deslocamentos através do Atlântico possuíam no imaginário oitocentista. Já se discutiu sobre a presença do brasileiro de torna-viagem no romance camiliano, havendo, no entanto, poucos estudos sobre a forma como o espaço brasileiro é retratado por Camilo, que incluiu, além de nosso país, a Inglaterra em O Demônio do Ouro. No caso de Macedo, os portugueses, bem como outros imigrantes europeus, também fazem parte de sua galeria de personagens, e os deslocamentos do Brasil para a Europa se fazem presentes em romances como A Namoradeira. Em tais obras, dessa forma, o Atlântico adquire uma relevância fundamental como ponte entre a América e a Europa e, sobretudo, entre o mundo lusófono, e analisá-las pode nos ajudar a apreender a visão que os portugueses e os brasileiros do século XIX tinham dessas relações internacionais, de um mundo além das fronteiras de suas nações.
Luís Bueno (UFPR/CNPq) - AMANDO FONTES: UM ESCRITOR BRASILEIRO ATRAVESSA O ATLÂNTICO
Em nenhum outro momento da história literária brasileira o debate ideológico - que tomou forma de uma polarização radical entre direita e esquerda - tenha marcado tão fundo não apenas a escrita como também a recepção de nossa produção literária quanto na década de 1930. Surgia uma nova geração, mas surgia dividida: as brigas eram menos com os mais velhos do que entre os próprios novos. Em Portugal, embora em linhas muito amplas a situação ideológica possa ser aproximada, o embate literário colocou em campos diversos intelectuais que pertenciam a gerações distintas. Nessa disputa, o romance brasileiro ocupou papel importante. A recepção da obra de um escritor hoje pouco lido, Amando Fontes, nos dois lados do Atlântico, dá medida das diferenças e aproximações entre intelectuais brasileiros e portugueses num momento em que a literatura brasileira foi amplamente debatida em Portugal.
Luís Francisco Munaro (UFF) - UM PORTUGAL SEM O BRASIL: O CASO DOS JORNALISTAS PORTUGUESES EM LONDRES (1808-1822).
Com o afluxo de portugueses para Londres durante as invasões napoleônicas, formar-se-á naquela cidade uma razoável comunidade lusófona, no interior da qual as intrigas são tão inevitáveis quando necessárias para a organização dos seus componentes. Em seu bojo, estadistas e intelectuais buscarão articular as vozes de um Portugal combalido pela guerra e pela fuga da corte com um mundo crescentemente tomado pelo liberalismo comercial. Buscarão, enfim, significar Portugal diante das grandes potências. Ponto nuclear desta questão: o Brasil. Com sua história, seu rei, sua constituição, no que se traduz, a partir de 1820 em “monarquia constitucional”, Portugal poderá passar sem o Brasil. Respondendo Hipólito da Costa, dono do Correio Braziliense, os jornais portugueses O Investigador Portuguez em Inglaterra, O Portuguez e O Campeão Portuguez se fazem defensores de um Portugal autônomo diante de sua antiga colônia brasileira, num fenômeno que Valentim Alexandre chamará anti-brasileirismo.
Luiz Felipe Baêta Neves Flores (UERJ) – O ATLÂNTICO NO IMAGINÁRIO DO PADRE ANTONIO VIEIRA
No imaginário social, a descoberta de novos mundos recorria a dois grandes grupos de pensamento: os que acreditavam que as terras a serem descobertas se enquadrariam no que, genericamente, se poderia chamar de visões do paraíso e, de outro lado, havia aqueles que ou simplesmente negavam a existência de outras terras além das conhecidas e os que apontavam, para os perigos das viagens e os riscos das eventuais descobertas. Tais formações imaginárias constituíram posições que se diferenciam ao longo do tempo e que levavam à constituições diversas do sentido – e mesmo da possibilidade – das travessias marítimas em busca de territórios desconhecidos. Já no século XVII, o padre Antonio Vieira expõe uma visão singular do significado da travessia do Atlântico pelos cristãos. Especificamente, das travessias que ele próprio e membros da Companhia de Jesus fizeram.
Marcella de Sá Brandão (UFV) - O PADROADO RÉGIO COMO HERANÇA PORTUGUESA E A "CRÍTICA ULTRAMONTANA" NO BRASIL INDEPENDENTE.
Herança portuguesa adquirida desde o século XVI, o padroado régio permaneceu no Brasil Independente, para alguns autores, como entrave da jurisdição episcopal até fins do século XIX. Nesse período, sobretudo durante a segunda metade desse século, a continuidade dessa tradição foi uma das principais causas dos problemas entre a Igreja Católica e o governo imperial. Sendo assim, a nossa proposta de comunicação visa entender a permanência e continuidade do padroado no Brasil após sua independência, bem como as críticas lançadas pela elite eclesiástica ultramontana sobre a política liberal, o regalismo e as questões de competência dos poderes temporal e espiritual. Nesse contexto, podemos dizer que alguns Reformadores, como por exemplo D. Macedo Costa, D. Vital, D. Lacerda e até mesmo D. Viçoso, fazem críticas ao padroado em relação às intervenções na jurisdição eclesiástica.
Marcio Jean Fialho de Sousa (USP/ UNINOVE) - PRÁTICAS E INFLUÊNCIAS DA EDUCAÇÃO FEMININA NAS RELAÇÕES BRASIL-PORTUGAL NO SÉC. XIX
O debate sobre a educação ganhou grandes proporções no século XIX, porém a questão educacional feminina sempre foi colocada de lado ou vista com muitas reservas. Dessa forma, o que propomos é uma reflexão de como esses debates forma discutidos e aplicados nas práticas educacionais Brasil- Portugal.
Marcio Ricardo Coelho Muniz (UFBA) – ANCHIETA: PONTE POLÍTICA LUSO-BRASILEIRA NO SEC. XVI
O teatro do jesuíta canário-luso-brasileiro José de Anchieta vem sendo observado pela crítica literária predominantemente em seus aspectos pedagógicos, como fazendo parte do grande projeto evangelizador da Companhia de Jesus. Minhas pesquisas sobre sua dramaturgia, em que foco seu diálogo com o teatro do dramaturgo português Gil Vicente, tem buscado privilegiar um olhar para os propósitos e estratégias políticas que orientam sua produção e encenação. Minha comunicação buscará, na análise de seus autos, observar aspectos das relações políticas implícitas em seu texto.
Maria Angélica B. G. Madeira (UNB) – ATLÂNTICO BARROCO
Os relatos que compõem a História trágico-marítima (Gomes de Brito – 1735-1736) dizem respeito, em sua maioria, a naufrágios ocorridos na rota da Índia. Dos doze, três se passam no Atlântico e apenas um deles narra acontecimentos ocorridos na rota do Brasil, o naufrágio da nau Santo Antonio onde ia embarcado Jorge d’Albuquerque Coelho. Após duas tentativas frustradas de dar à vela, em pleno Oceano a nau é abalroada por navios piratas franceses, seguindo-se cenas de lutas e batalhas, um misto de registro histórico e fantasia. A comunicação pretende deter-se sobre a dimensão estética deste relato, evidenciando a força das imagens barrocas convocadas para alegorizar os perigos do mar; pretende também mapear os pontos de referência e sinais que permitiam aos marinheiros fazer a leitura de sua localização no Atlântico.
Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani (UFMG) - AS PINTURAS DOS TETOS DAS IGREJAS COLONIAIS NO ARRAIAL DO TIJUCO: 1731 A 1818
Esse trabalho abarca o período entre a construção da primeira e da última Igreja na Diamantina colonial, então chamada arraial do Tijuco. Ali a pintura dos tetos fez parte de um processo de construção importante para a compreensão da história de Minas Gerais e do Brasil. A sua intelecção contribui para essa compreensão.
Maria das Graças Ferreira (UFRJ - Proarq/FAU) - RELAÇÕES COMERCIAS E TROCAS CULTURAIS NA AZULEJARIA
O tema para comunicação é a relação comercial e a troca de uma das heranças culturais do século XVIII, no espaço Atlântico: As grandes remessas de azulejos exportados, principalmente para o Brasil, no reinado de D. João V (1706 - 1750). Neste reinado, financiado pela grandes remessas de ouro e diamantes do Brasil, temos o auge da Azulejaria Portuguesa e o período da Grande Produção Joanina entre 1725-1750. Nesta fase, azulejaria irá revestir as fachadas e os interiores de igrejas, conventos no Maranhão, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro. Apesar de todas restrições existentes quanto a distância, transporte e preço. E segundo, o historiador e pesquisador português Santos Simões (1907-1972) poderíamos dizer que existiu, neste período, uma “troca” entre as riquezas aqui existentes e “transferidas” para Portugal, que foram devolvidas, em parte, em azulejaria. E que hoje constituem um Patrimônio Cultural Luso Brasileiro
Maria de Fátima Maia Ribeiro (UFBA) - DO ATLÂNTICO NEGRO E PARDO À RETÓRICA DE MARE NOSTRUM, PERCALÇOS, DESAFIOS E DITAMES DOS MERCADOS EDITORIAL E LIVRESCO DE ESPAÇOS LUSÓFONOS DE HOJE.
Da vasta imagética atlântica, revisitam-se leituras à volta do “Atlântico negro”, de Gilroy, e a retórica do mare nostrum da cobertura jornalística portuguesa e brasileira do IV Colóquio de Estudos Luso-Brasileiros (1959), a que se somam “o mar sem fim português” e a lição de que “o mar unisse já não separasse” povos e nações, de Pessoa, a par da jangada ibérica de Saramago, a reescrever história(s). Em face desses elementos, examinam-se duas polêmicas acerca de iniciativas editoriais no Brasil que envolveram o outro lado do oceano, nomeadamente, Portugal e Angola, na viragem dos sécs. XX-XXI. De um lado, o debate suscitado em jornais por Miguel Sanchez Neto à Escrituras Editora, de São Paulo, pelo que chama de “colonização literária”, de outro, a receptividade destinada à coleção Biblioteca de Literatura Angolana, da Maianga Produções Culturais, sediada em Salvador e Luanda. Pensando em lógica de mercado, investimentos políticos e relações culturais, em contextos de pós-colonialidade e globalização, avalia-se a procedência, eficácia e graus de aglutinação/catalização da categoria “lusófono”/lusofonia”, para responder por espaços, territorialidades e projetos de patrimônios interculturais, em sentido cancliniano, bem marcados em diferença.
Maria de Lourdes Abreu de Oliveira (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora) - OCEANO ATLÂNTICO: LIMITE E TRÂNSITO ENTRE OS POETAS FERNANDO PESSOA E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Confronto entre Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, poetas representantes das literaturas de Portugal e do Brasil, respectivamente. Oceano Atlântico: fronteira e ponto de intercâmbio entre esses dois países. Lá e cá, os dois poetas mergulharam em temas comuns. Ambos cantaram a cidade e o campo, ambos foram marcados pela solidão e negatividade dos grandes centros urbanos. Todavia, se o mar é o limite natural entre os países desses dois poetas, um europeu, outro sul-americano, esse mesmo mar lhes aguça o olhar e lhes açula o imaginário, despertando-lhes significativas abordagens. Palavras-chave: Fernando Pessoa; Carlos Drummond de Andrade; Oceano Atlântico; cidade/campo
Maria do Socorro Fernandes de Carvalho e Wagner José Maurício Costa (UFRJ) - MÚSICA DO BRASIL
Este texto pretende refletir sobre a particularidade da poesia de Manuel Botelho de Oliveira constituir uma obra binacional, formada pelas letras européias e instruída pela retórica dos dois lados do Atlântico. Discute-se a imitação de autores e o papel da circunstância e da tipificação de lugares temáticos. O texto traz análise de um poema.
Maria Gabriela Souza de Oliveira (Universidade Federal de Viçosa) - A ATUAÇÃO DO ESTADO E A PRÁTICA DA JUSTIÇA NAS MINAS SETECENTISTAS
O interesse pelo estudo da violência coletiva nas minas setecentistas tem consolidado um amplo campo de análise utilizando os mais diversos tipos de fontes documentais, destacando vários estudos a respeito das tensões sociais em Minas Gerais no século XVIII. O objetivo deste trabalho é analisar através dos processos criminais a atuação da justiça oficial frente à criminalidade da sociedade mineira na cidade Mariana e seu termo. Analisa-se o período compreendido entre 1730 a 1780 por este ser entendido como o momento de atuação efetiva do Estado frente às manifestações violentas visando um controle maior da sociedade. O trabalho de prospecção desse impulso de controle e do nível de seu alcance tem por base os processos criminais arquivados no Arquivo da Casa Setecentista de Mariana-MG e perfaz um total de 125 autos. Partimos do pressuposto que apesar dos esforços para uma centralização política, o campo jurídico se deparava com dificuldades de atingir a eficácia administrativa almejada, dando margem para o aparecimento e generalização de atos de violência paralelos e mais distantes do centro administrativo, no caso a cidade de Mariana. Sendo assim, o estudo da prática judicial oficial através dos processos criminais é essencial para o reconhecimento dos espaços livres do controle e desta forma entender o funcionamento e a prática da justiça nas Minas setecentistas.
Maria Luiza Zanatta de Souza (FAU-USP) - FRANCISCO DE HOLANDA: DA FÁBRICA QUE FALECE À CIDADE DE LISBOA (1571) - UMA PONTE ENTRE LISBOA E R. JANEIRO?
Francisco de Holanda produziu obras escritas e ilustradas com destinos e fortunas adversos. Em 1571, adquire especial destaque a obra “Da Fabrica que falece a cidade de Lisboa”, onde Holanda propõe a D. Sebastião um conjunto de edificações religiosas e civis (desenhos) destinadas a conferir um perfil monumental a Lisboa, capital de um vasto império ultramarino. Neste memorial Holanda revela seu apreço pela arquitetura militar, campo de grande importância para o domínio do Império português. Então o arquiteto ofereceu seus préstimos ao jovem monarca propondo inovações no sistema defensivo de Lisboa, associando às experiências em Roma (1538-40) o estudo e discussões compartilhadas com D. Luís e D. João de Castro (1541). O manuscrito emblemático, inédito até 1879, atualmente se encontra na Biblioteca do Palácio da Ajuda em Portugal e representa um documento da maior relevância no que se refere à história da cidade de Lisboa e da cultura artística portuguesa. Ele retoma os esforços e a mobilização de D. João III e a Corte para colocar o império português em expansão, em dia com os desenvolvimentos urbanísticos realizados em Roma e demais centros europeus a partir do exemplo romano. Em função do amplo programa para grandiosas obras preparado por Holanda, o texto permaneceu atual durante dois séculos, e veio ao Brasil junto da Biblioteca Real tendo sido copiado por Luiz Marrocos (1814) para servir a uma publicação tardia que não se concretizou. Essa cópia encomendada por D. João VI surpreende e parece servir de testemunho material da circulação e do intercâmbio estabelecido entre “a Europa e as Américas” a partir do século XVI.
Maria Regina Barcelos Bettiol (UFRGS) - O GRANDE ESTADISTA DO ATLÂNTICO: O MEDIADOR CULTURAL ANTÔNIO VIEIRA
As reflexões acerca das práticas de transferência cultural sempre estiveram na ordem do dia da Companhia de Jesus. O jesuíta português Antônio Vieira -conhecido como um dos maiores estadistas do Atlântico - foi um mediador cultural pois soube estabelecer relações entre os diferentes: Portugal e suas colônias;brancos e demais etnias (índios, negros); católicos e cristãos novos. O teórico Vieira encontrou resistência, obstáculos epistemológicos para implementar suas ideias no Novo Mundo. Enquanto mediador cultural, ao defrontar-se com o imprevisível, com o que costumava chamar de "novos casos", percebeu que os saberes da Europa não serviam ao Brasil, nem os do Brasil serviam as demais colônias portuguesas:"novos territórios exigem novos saberes", costumava dizer Vieira. Neste sentido, o texto vieiriano traz a marca da transculturalidade, é exemplar para pensarmos a globalização.Em outras palavras, a globalização encurtou as distâncias geográficas, mas encontra resistência no que diz respeito à cultura. Em sendo assim, o texto vieiriano tem o mérito de denunciar as falsas continuidades no espaço lusófono (Europa/América/África) sublinhando as suas especificidades locais.
Maria Renilda Nery Barreto (CEFET-RJ) - ENTRE BRASIL E PORTUGAL: A TRAJETÓRIA DE MANUEL JOAQUIM HENRIQUES DE PAIVA E A DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA MÉDICA
Esta comunicação focaliza as trajetórias pessoal, profissional, intelectual e política do luso-brasileiro Manuel Joaquim Henriques de Paiva (1752-1829. Ao centrar a análise na trajetória pessoal e na atuação profissional de Henriques de Paiva pretende-se discutir como esse médico se articulou à rede de ilustrados luso-brasileiros e qual o seu papel nesse contexto.
Mário Luis Carneiro Pinto de Magalhães (PROURB-UFRJ) - JOSÉ BONIFÁCIO - INTERATLÂNTICO, UM BRASIL E SUA BRASÍLIA
Este trabalho investiga elementos da representação de território manifestada em documentos da autoria de José Bonifácio a partir de seu retorno ao Brasil em 1819, após longa carreira européia. O novo quadro que se desenhava para o Brasil nos anos que se seguiriam teve em Bonifácio uma de suas figuras centrais. A construção desta uma nova Nação, em suas dimensões político-administrativa, sócio-cultural, (est)ético-moral, se faz acompanhar também por intensa reflexão sobre o território. Indício máximo desta reflexão está em sua concepção de uma nova capital, Brasília. Contudo, nos diversos textos que desenvolve até seu exílio, há explícita ou implicitamente outras alusões à dimensão territorial. Como, entretanto, o autor não deixou nenhum registro gráfico de suas propostas, a construção de representações gráficas permite novas perspectivas de análise. Nos embates das concepções bonifacianas com esta geografia que reencontra depois de tão longa experiência européia, são significativas suas referências, interlocutores e originalidade. No bojo destes projetos multidisciplinares, estava nascendo um novo campo do saber?
Mateus Alves Silva (UFMG) - TRÂNSITO DE PINTORES E CIRCULAÇÃO DE MODELOS PICTÓRICOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
Apresenta-se com esse trabalho a relação entre migração e difusão de modelos pictóricos entre Portugal e a América Portuguesa no século XVIII, a partir da análise do trânsito de pintores nas Minas Gerais em particular, tendo como foco a difusão de elementos artísticos encontrados na metrópole.
Meynardo Rocha de Carvalho (Faculdade de Filosofia, ciências e letras/ Macaé) - PORTUGAL E O IMAGINÁRIO DA SANTA CRUZ NAS INTERMEDIAÇÕES ATLÂNTICAS - SÉC. XVI
O imaginário português do século XVI é marcadamente religioso. A imanência da Santa Cruz fomentou os costumes de uma sociedade que em sendo moderna, não se desvinculara dos padrões religiosos medievais, estendendo-os dos palácios aos campos, dos espaços sacralizados aos laicos. Bem como, permeando a extensão de sua representação e o dimensionamento de seu poder desde Portugal aos territórios ultramarinos, intermediados pelo Atlântico. Considerando que a vinculação entre a cruz e a coroa estabelecia um posicionamento ao Estado que ultrapassava a diminuta extensão do espaço ibérico, a completude do imaginário religioso, ou o exercício dele, somente seria possível na expansão e culto da cruz pelas novas regiões que durante o século passavam a integrar o Império. Assim, considerar o imaginário de Santa Cruz para compreender as relações entre o Velho e o Novo Mundo é dispor-se a uma relação circular de adesões e confrontamentos, inclusões e fragmentações, batismo e vinculação a uma proposta de extensão dual - política e religiosa - , e que aspirando a ser totalizante, consolidava-se na multiplicidade.
Moizeis Sobreira de Sousa (USP) - AS REPRESENTAÇÕES TRANSATLÂNTICAS DO HOMEM CAMILIANO
A presente comunicação ter por objetivo analisar a representação do homem na ficção camiliana, levando em conta aspectos como a religiosidade, ligação com aristocracia e/ou burguesia, caráter vulgar ou excepcional das personagens e, sobretudo, a geografia percorrida por elas, particularmente aquela que se refere ao espaço luso-brasileiro. Para tanto, será tomado em análise os romances A Mulher Fatal e A Queda dum Anjo, de Camilo Castelo Branco, comparando-os com as obras O Vermelho e o Negro, de Stendhal e Ilusões Perdidas, de Balzac.
Paola Poma (USP) - O IMAGINÁRIO DO ESPAÇO ATLÂNTICO
A proposta deste trabalho é comparar, através da leitura dos poemas “Ode Marítima” de Álvaro de Campos (Ficções de Interlúdio/ Fernando Pessoa) e “Salsugem” (O medo / Al Berto), o imaginário do espaço atlântico. Partindo de elementos concretos, históricos, comerciais, culturais e míticos do universo marítimo, esses poetas ampliam e redimensionam o olhar voltado para o mar. Espécie de espelho invertido, a sua força simbólica é introjetada como espera, desejo, delírio e, pelo canto poético, percebe-se a diluição do espaço atlântico real em tantos outros espaços marítimos até abarcar a intimidade dos poetas. Cabe ressaltar que se os poemas se aproximam pela temática, diferenciam-se pelo tom e pelo tratamento dado: o primeiro pela violência das emoções, o segundo pela complacência do imaginado.
Patrícia da Silva Cardoso (UFPR) - PORTUGAL E AS IDENTIDADES EM TRÂNSITO
Na última década do século XX, em que o Brasil preparava-se para comemorar os 500 anos de seu descobrimento intensificando a reflexão em torno do perfil identitário nacional, Portugal, o grande agente da expansão ultramarina – e, portanto, um dos principais responsáveis pela aproximação de experiências culturais as mais diversas, definitiva para a consolidação do que depois veio a chamar-se de mundo globalizado – serviu de palco para três interessantes exercícios cinematográficos em torno da ideia de identidade que serão o objeto desta comunicação. O primeiro deles, Lisbon story (1994), de Wim Wenders – parte do projeto de integração cultural de Portugal na Comunidade Europeia – elege a figura de um estrangeiro através do qual traça o percurso do sujeito moderno, marcado pela fratura das identidades individual e coletiva. Já Terra estrangeira (1996), de Walter Salles e Daniela Thomas, promove um verdadeiro balanço da experiência transatlântica portuguesa ao fazer convergir para a geografia da antiga metrópole a trajetória de integrantes de suas ex-colônias. Por fim, Viagem ao princípio do mundo (1997), de Manoel de Oliveira, acompanha a volta para casa do português que, como tantos ao longo do século XX, experimentaram a passagem da condição de colonizadores de novos mundos para a de imigrantes.
Pedro Serra (Universidade de Salamanca) – LIRA ANTÁRTICA: ARQUEOLOGIAS DA VOZ EM D. FRANCISCO MANUEL DE MELO E ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE
Proponho, na minha intervenção, uma leitura do ‘soneto festivo’ número LXXIV da Tuba de Calíope, de D. Francisco Manuel de Melo, e do livro de poemas Visitação, de António Franco Alexandre. O meu exercício de ‘arqueofonia’ incide, neste sentido, sobre textos que convocam uma espacialidade antártica, para usar um termo que foi caro aos ‘séculos áureos’. O poema de Melo responde, nas Obras Métricas, por um título onde se lê, a lembrar o exílio baiano, «Varia Idea estando na America, e perturbado no estudo por bayles de Barbaros»; no livro de Alexandre, por seu turno, entre refracções de um périplo também brasileiro, podemos ler: «estrangeiro a esta terra paciente / a imito: formo as vogais, visto / a palavra ‘colonial’ sobre o pêlo molhado». Em ambos os casos, o recorte da voz faz-se contra o cenário de uma ‘experiência’ do Brasil.
Priscilla Alves Peixoto (PUC-Rio) - A FORMAÇÃO DA BIBLIOTECA DA IMPERIAL ACADEMIA DE BELAS ARTES DO RIO DE JANEIRO - OS LIVROS DA REFORMA DE 1854
13 de dezembro de 1854: aporta no Rio de Janeiro o navio D. Pedro II com duas caixas de livros e estampas que, em junho do mesmo ano, o então diretor da Academia Imperial de Belas Artes – Manoel de Araújo Porto-alegre – havia pedido permissão ao governo para adquirir. Esses exemplares, comprados através de um negociante de livros, atravessaram o Atlântico para fazer parte do novo programa didático da Academia Imperial de Belas Artes. Esse episódio repousa em uma vasta “nebulosa” de relações sociais transatlânticas que vinha sendo tecida desde a década de 1830 quando o próprio Porto-alegre embarcava, junto com seu mestre Debret, rumo ao velho continente para sua temporada de estudos. Entretanto, a escolha desses livros e estampas - sobretudo pelo cunho pedagógico da biblioteca e pinacoteca da Academia Imperial - marca agora a formação de uma cultura que busca, cada vez mais, “conhecer/saber através de imagens”. A presente proposta de comunicação pretende tratar da circulação dos saberes artísticos presente na montagem dessa biblioteca (e pinacoteca), em um momento de reforma do ensino artístico na Academia em 1854, tentando mostrar com esse exemplo que as idéias residem nos homens, circulam no mundo e que não são contidas por limites geográficos nem temporais.
Renato de Souza Alves (UFV) - A CARREIRA SE FAZ PELO IMPÉRIO: D. VASCO MASCARENHAS, ALEXANDRE DE SOUSA FREIRE E AFONSO FURTADO DE MENDONÇA – CARREIRA POLÍTICA E TRAJETÓRIA SOCIAL DOS GOVERNADORES GERAIS DO ESTADO
O império português foi marcado pela descontinuidade espacial, caracterizando-o como um império oceânico, caminho pelo qual, devido às estratégias administrativas desenvolvida pela coroa, circularam muitos de seus súditos pela prestação de serviços. Nesse sentido, o império português também se fez, e aqui temos um ponto fundamental para o seu funcionamento, por um intenso “ir e vir” das elites que desempenharam ofícios e cargos administrativos e militares no mar e na terra, em busca de ascensão social e prestígio através do acumulo de mercês e títulos. Dessa forma, nossa proposta de comunicação é analisar como D. Vasco Mascarenhas, Alexandre de Sousa Freire e Afonso Furtado de Mendonça construíram suas respectivas carreiras políticas e trajetória social até serem nomeados a governadores gerais do Estado do Brasil, demonstrando particularidades e semelhanças em suas carreiras e trajetórias, também, como eles circularam pelo território ultramarino em que o império foi a ponte, ressaltando a importância dessa circulação na construção de uma memória, no desenvolvimento de uma estratégia e no acumulo de conhecimento aplicados ao exercício administrativo e de governo do império português.
Renato Martins e Silva (UFRJ) - A CONSTRUÇÃO DE UMA PONTE (TRANS)ATLÂNTICA: O MAR TENEBROSO ATRAVÉS DE RECORTES LITERÁRIOS.
Este trabalho tem por objetivo apontar algumas das vozes polifônicas que se fizeram ouvir a partir do momento em que se propõe o desvendamento dos segredos que cercavam o Mar Tenebroso no século XV e a ponte de solidez indiscutível que se estabeleceu entre a cultura portuguesa e a brasileira após a chegada dos desbravadores lusitanos às nossas terras e a transposição de seus costumes para cá, bem como a miscigenação ocorrida entre os trópicos sul-americanos que foi capaz de amalgamar, durante séculos, traços de povos tão distintos e vindo de todas as partes do mundo que se reuniram sob uma única nação. Alguns dos mistérios que cercam o Oceano Atlântico e a heróica missão de Vasco da Gama em 1498 são relatados através da fantástica narrativa de Luís de Camões que guiará nossa pequena jornada singrando através da literatura em busca das fundações desta ponte (trans)atlântica luso-brasileira. Palavras-chave: Literatura Portuguesa, Camões, Os Lusíadas, Brasil, Oceano Atlântico.
Rodrigo da Costa Araújo (UFF) – O MAR PROLIFERANTE E TRANSGRESSOR NA POESIA DE AL BERTO
Esta comunicação oral, - convergente no tema desse evento e “lendo” o discurso divergente no tempo e na escritura do poeta -, se volta ao estudo da poesia lusitana e contemporânea de Alberto Raposo Pidwell Tavares ou, simplesmente, Al Berto [1948-1997] sob o prisma e metáfora do “mar” como transgressão, confluência cultural e releituras de imagens marítimas. Busca-se, na reflexão proliferante do tema-recorte, a motivação-rumo, em sentido mais amplo, um desaguamento no cais da Literatura [escritura ou texto, prática significante]. Isso implica, pela poesia úmida e líquida de Al Berto, compreender que a sua escritura não edita certezas identitárias, nem modelo único e dogmático de identidade, pelo contrário, assume-se na errância, dentro e através do discurso em um mar sem fronteiras. Assim, desconstruindo esse olhar mítico e lusitano pelo mar, sua poesia e poética como um todo, ironicamente, por justaposição, ridiculariza e esvazia o discurso do poder assumindo, transgressoramente, um tom de pastiche, colagem ou “ideias fora do lugar”. Nesse viés plural, buscaremos as diferentes figurações que se ancoram em uma poética que refigura a metáfora marítima instaurando, além da sensibilidade e vivência, “um mar-linguagem”, memória e mobilidade das imagens, reflexão metalingüística, marcas de uma poesia reveladora de riquezas e de multiplicidade.
Roni Cleber Dias de Menezes (USP) - O ENSINO DA LEITURA E O DEBATE DECADÊNCIA/ATRASO DAS SOCIEDADES PORTUGUESA E BRASILEIRA: LETRADOS E A DIFUSÃO DO MÉTODO DE ENSINO JOÃO DE DEUS NOS TERRITÓRIOS DE LÍNGUA PORTUGUESA
A finalidade da presente comunicação é investigar a propagação do “método de ensino da leitura João de Deus” – criado por esse poeta no último quartel dos Oitocentos – em Portugal, no Brasil e nas então colônias de língua portuguesa em África. Com a atenção voltada para os homens de letras que transpõem o Atlântico a fim de promover a difusão do “método João de Deus”, almeja-se mensurar qual a extensão, ou mesmo se ela existiu de fato, do redimensionamento da problemática da decadência/atraso em Portugal e no Brasil. Particularmente no caso brasileiro, observa-se que tais letrados, ao se dedicarem, à partida, ao tema da posse da competência do ato de ler, imiscuem-se na vida intelectual brasileira e terminam por tecer emaranhadas redes de sociabilidade que os conectam com parte da intelligentsia do país, o que dá azo a que interfiram nos respectivos diagnósticos e propostas de superação da dicotomia decadência/atraso levados a efeito pelas elites intelectuais de Portugal e Brasil.
Rosana Apolonia Harmuch (UEPG) - FRADIQUE MENDES E BRÁS CUBAS: SUBJETIVIDADES E IDENTIDADES EM CONSTRUÇÃO
Em meio à diversidade de possíveis aproximações entre as narrativas em que figuram os nomeados personagens Fradique Mendes e Brás Cubas, recorto aqui a construção de subjetividades e identidades. Narrando a si mesmos (embora, no caso específico de Fradique, ele também seja narrado por outro), assim como o mundo que os rodeia, esses personagens são aqui vistos como figurações privilegiadas de noções como as de sujeito, de literatura e de nação. Se as obras literárias em geral esboçam respostas ora mais, ora menos explícitas, sobre a formação de identidades e de subjetividades, os romances aqui selecionados são narrativas nas quais, de modo muito evidente, é possível acompanhar a trajetória dos protagonistas à medida em que eles se definem e vão sendo definidos pelas escolhas que fazem, pelas reflexões que promovem e, naturalmente, pela ação dos diversos ‘outros’ sobre eles.
Rubenita Vieira Clemente (UNISUAM) - ATIVIDADES COMERCIAIS NO RIO DE JANEIRO A PARTIR DO REGISTRO DOS COMERCIANTES DA CORTE (1851- 1889)
O Registro de Comerciantes da Corte é uma fonte privilegiada para o conhecimento da participação de brasileiros e europeus - especificamente especialmente os portugueses nas atividades comerciais da Corte ou Províncias que com ela tivessem relações de comércio. O acervo documental revela o quantitativo de comerciantes que desempenharam sua atividade no setor de Alimentos e Bebidas, Tecidos, Roupas e Armarinhos, Metais e pedras preciosas e outros no ramo atacadista e em menor número no ramo do varejo. O segundo aspecto da fonte analisada refere-se às “individualidades” que formaram a tessitura social do mundo dos negócios na segunda metade do século XIX. Observa-se que o Registro de Comerciantes da Corte é excelente fonte para o conhecimento de um universo relativamente restrito de ”homens de negócios”, aqueles que, na maioria dos casos estavam voltados para o grande comércio, constituindo a elite mercantil da Corte e mesmo do Império. A grande contribuição dessa série documental composta de cinco volumes é a constatação que o Tribunal do Comércio acolhia a matrícula do grande negociante, não do retalhista, proprietário da “venda”. Nos debates que se fazem acerca do fim da escravidão é marcante sua participação, questão interpretada por outros grupos como de menor relevo.
Sávio Tadeu Guimarães (IPPUR/UFRJ) - O PATRIMÔNIO NO ESPAÇO LUSÓFONO: ALGUMAS EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO CONTEMPORÂNEAS.
Consideramos pertinentes a divulgação e debate sobre tais experiências por se configurarem em trabalhos em andamento, idealizados em caráter multidisciplinar, e realizados no intuito tanto de preservar as potencialidades naturais e culturais lusófonas dos locais estudados quanto de permitir uma renovação que legitime o processo dinâmico da história mas que parta da consciência das específicas referências locais.
Sheila Moura Hue (RGPL) – INGLESES NO BRASIL: RELATOS DE VIAGEM. 1526-1608
A comunicação pretende apresentar os resultados de pesquisa, realizada com o apoio da Fundação Biblioteca Nacional, que teve como objetivo o resgate das fontes para a história da presença inglesa no Brasil no século XVI. A partir da catalogação de relatos de viagens ingleses onde há referências à colônia portuguesa foram levantados documentos que abrangem o período compreendido entre a viagem de Sebastião Caboto em 1526 e a navegação de William Davies pelo rio Amazonas em 1608. O amplo corpus de relatos de viagem estudado reúne notícias e narrativas de aproximadamente 19 viagens, escritas por cerca de 33 autores. Destes, apenas o de Anthony Knivet foi traduzido para o português, sendo pela primeira vez editado em 1878 na Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico do Brasil.
Silvana Maria Pessoa de Oliveira (UFMG) - REDES ATLÂNTICAS
O filólogo português Manoel Rodrigues Lapa mantém com o escritor mineiro Eduardo Frieiro uma duradoura correspondência, que abrange o período de 1938 a 1976 e totaliza 85 cartas. O objetivo deste trabalho é analisar criticamente essa correspondência enquanto documento que muito ajuda a entender o contexto que propiciou, no século XX, a existência de uma diáspora portuguesa, que teve como destino o Brasil. Não será talvez sem razão que ao decidir exilar-se, Manoel Rodrigues Lapa escolha Belo Horizonte para viver, ministrar aulas de Literatura Portuguesa e da andamento às pesquisas sobre a poesia árcade brasileira. Nesse sentido, as cartas a Eduardo Frieiro constituem valioso testemunho das possibilidades de se estabelecer duradouras e qualificadas pontes entre Brasil e Portugal.
Sílvia Maria Azevedo (UNESP) - A MODERNIDADE ATRAVESSA O ATLÂNTICO: IMAGENS DO PROGRESSO CIENTÍFICO EM DUAS REVISTAS BRASILEIRAS DO SÉCULO XIX: ILUSTRAÇÃO BRASILEIRA (1876-1878) E ILUSTRAÇÃO DO BRASIL (1876-1880)
Um dos fenômenos a marcar a segunda metade do século XIX, como se sabe, foi o grande avanço científico, com destaque na área da tecnologia. Enquanto as exposições universais vieram satisfazer a curiosidade pelas inovações tecnológicas, as grandes viagens de exploração do mundo revolucionaram as dimensões de tempo e espaço. A literatura, as publicações especializadas e as revistas ilustradas igualmente acolheram as ciências em seus domínios. No caso do Brasil, a Ilustração Brasileira, dirigida por Henrique Fleiuss, e a Ilustração do Brasil, por Charles de Vivaldi, estarão empenhadas na criação de uma imagem de Brasil que correspondesse às concepções de “civilização e progresso”. O objetivo da presente comunicação será examinar algumas imagens (verbais e visuais) relativas ao desenvolvimento científico-tecnológico do século XIX, publicadas na Ilustração Brasileira e Ilustração do Brasil, imagens que vinham ao encontro de um projeto de construção nacional que se dava no quadro de um processo de modernidade.
Silvina Martins Pereira (Universidade de Lisboa) – “NÁUFRAGOS, NAVEGADORES E ACTORES”
O teatro português chegou às terras de Vera Cruz de caravela e foi instrumento de missionação e de colonização. Desde essa altura que a circulação de obras dramáticas e de pessoas teve momentos de convergência e de divergência. No plano da criação dramática, a personagem do "brasileiro", no século XVIII, em "Novo Teatro" de Correia Garção é o mineiro enriquecido que depois de "comer carne de macaco" quer construir um novo teatro na capital do reino, permanecendo no repertório dramático como um pai rico, alvo preferido de caçadores de dotes. Do outro lado do atlântico, que personagem de "português" foi criada pela dramaturgia brasileira? Volvidos cinco séculos, tem o escritor dramático português material antropológico que o sugestione a criar uma nova personagem do "brasileiro"? E no inverso, que personagem de "português" poderá devolver a dramaturgia brasileira no século XXI?
Socorro de Fátima Pacífico Barbosa (UFPB/CNPq) - A PRÁTICA DA ESCRITA EPISTOLAR NOS PERIÓDICOS PORTUGUESES E BRASILEIROS DO INÍCIO DO SÉCULO XIX.
Os estudos sobre a escrita epistolar no Brasil já estão consolidados no campo da educação e da história. A reabilitação dos estudos biográficos e as novas abordagens da história das mentalidades e da vida privada conferiram valorização a essa fonte, exigindo, assim, a sua recolha, organização e socialização para o desenvolvimento de pesquisas históricas, nas quais estão incluídas também aquelas dos homens dos homens e mulheres comuns. No âmbito da história da literatura a utilização da carta é destinada sobretudo à compilação e publicação de correspondência de autores célebres. A presença do gênero epistolar nos periódicos da época se deu, sobretudo, através da participação popular, conferindo-lhe bastante prestígio por torná-lo ao mesmo tempo “leitor-escritor” na elaboração desses periódicos. Nessa perspectiva, pretende-se analisar e caracterizar prática epistolar pelos leitores e redatores dos periódicos brasileiros – Revérbero Constitucional Fluminense, Carapuceiro, O Apóstolo e O Paraense – e os portugueses – O Beija-flor, O Campeão Português ou o Amigo do Rei e A Borboleta – das primeiras décadas do século XIX, visando uma reconstituição desta prática de escrita oitocentista, a partir do presente da sua enunciação, ou seja, do momento da sua produção. Isto inclui interpretá-las e entendê-las também a partir do seu suporte originário, no caso o jornal.
Taíse Tatiana Quadros da Silva (UFRJ) - DO REFORMISMO ILUSTRADO PORTUGUÊS À OPERAÇÃO HISTORIOGRÁFICA OITOCENTISTA: UMA ARQUEOLOGIA DO MÉTODO EMPREGADO POR FRANCISCO ADOLFO DE VARNHAGEN E POR ALEXANDRE CARVALHO E ARAÚJO.
No fim do século dezoito, a fundação da Academia Real das Ciências de Lisboa levaria o método crítico a passar por importantes modificações. Entre os desígnios compartilhados pelos sócios da Academia, desde o início, estava o de promover a publicação de manuscritos inéditos, ao incentivar a investigação sistemática de documentos da história pátria portuguesa. A partir da apresentação de alguns episódios da trajetória de Francisco Adolfo de Varnhagen e Alexandre Herculano, sócios da Academia, serão destacados aspectos genealógicos das práticas de intervenção textual por eles realizadas. Apresentaremos, dessa forma, um breve estudo sobre as ligações entre a historiografia do reformismo ilustrado e aquela do oitocentos no Brasil e em Portugal.
Thais Pimentel Cabral (UNL) - BRASIL E PORTUGAL, E A RETÓRICA LUSO-TROPICAL NA CONSTRUÇÃO DE UMA COMUNIDADE LUSÓFONA.
A reconfiguração global infligiu Brasil e Portugal encontrarem saídas ligadas ao passado e a tradição comum para a criação de um consenso aos diferentes interesses nacionais de suas políticas. Após o colonialismo o luso-tropicalismo perdeu expressão ideológica e credibilidade científica, mas contribuiu decisivamente para a formação da auto-imagem em que as duas nações melhor se revêem e projetam. O luso-tropicalismo constituiu, nos respectivos imaginários nacionais, a experiência atlântica de Portugal e a originalidade e legitimidade da nação brasileira. As idéias luso-tropicais ganharam novas formas, menos explicitas em comparação ao período colonial português, mas centrais e marcantes, que sob roupagem dinâmica reorientaram a política de Brasil e Portugal, servindo de base retórica para o discurso de aproximação e cooperação entre os povos lusófonos e de inspiração para a CPLP.
Thereza da Conceição Aparecida Domingues (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora) - O DIALOGISMO ESSENCIAL DE VIEIRA
Leitura intertextual dos sermões do Padre Antônio Vieira, imperador da língua portuguesa, proferidos no Maranhão em 1653 e 1654, e em Portugal na Capela Real, em 1655 dedicados à causa da liberdade dos índios. Chega-se à conclusão que Vieira realiza um discurso de denúncia social, de maneira polifônica, com implicações políticas, sociais e antropológicas, no espaço Atlântico que une e separa os continentes Americano e o Europeu, representados na obra vieiriana pelas terras do Brasil e de Portugal. São examinados também textos não parentéticos do autor, como cartas e relatórios, escritos na província do Maranhão, para chegar-se a conclusão da existência desse dialogismo essencial em Vieira.
Thiago Carvalho – A DIMENSÃO MULTILATERAL DAS RELAÇÕES LUSO-BRASILEIRAS
A descolonização portuguesa revelar-se-ia determinante para a reinserção internacional de Portugal e do Brasil, em meados da década de 70, permitindo não só a redefinição dos vínculos bilaterais, e dos respectivos conceitos estratégicos nacionais, como a reestruturação das relações político e económicas no espaço da lusofonia. O fim do Império colonial possibilitaria uma nova configuração das relações Portugal-Brasil-África, reactivando e redimensionando os caminhos do Atlântico Sul. O regresso a este elemento de permanência na história comum repunha uma ligação interrompida há mais de um século. Era, também, o culminar de um processo de diferenciação de interesses e de percepções estratégicas entre Lisboa e Brasília, que principiara no pós-guerra e que se acentuou à medida que o conflito no Ultramar atingia o seu termo. A emergência de novos actores africanos no âmbito da lusofonia conferiu um novo significado às relações luso-brasileiras. Doravante assumem uma dimensão multilateral, pois a concertação das respectivas políticas externas revelar-se-ia imprescindível à implementação da comunidade triangular de que Lisboa e Brasília seriam os principais impulsionadores.
Thissiane Fioreto (UFGD) - VEÍCULOS DE ERUDIÇÃO: ENTRE SÃO PAULO, LITORAL E LISBOA (I PROSA)
As trilhas que separaram a Vila de São Paulo do litoral, notadamente a baixada santista, ganharam, no final do século XVIII, pavimento e louvor.O autor da obra foi lembrado no ato acadêmico Ao senhor Bernardo José de Lorena, tornado público no ano de 1791. Neste documento, organizado por Salvador Nardi de Vasconcelos Noronha, estão presentes louvores em forma de orações, poemas e cartas, que colocam em evidência a importância da rota do Atlântico que liga a América Portuguesa a Lisboa. Ornado pela retórica e poética antigas, o documento é a comprovação do trânsito de uma cultura letrada e erudita que atravessa, em ambos os sentidos, as águas do Oceano, levando novidades "intelectuais" para a colônia e riquezas materiais para a metrópole. A prática de documentar os acontecimentos brasílicos, hoje arquivada tanto nos arquivos europeus quanto americanos, é prova inconteste da importância dessas águas para as transformações experimentadas em nosso solo. Algumas composições desse festejo serão comentadas como ilustração do intercâmbio que se incrementou principalmente depois de 1640. Nesta comunicação enfocaremos as composições em prosa.
Tiago Miranda (UNL) – DA EFICÁCIA DOS MODELOS EPISTOLARES, OU A RECEPÇÃO DOS “MANUAIS DE SECRETÁRIO” EM PORTUGAL (SÉCULOS XVII A XIX)
Repositários de exemplos e conselhos específicos sobre a escrita de cartas numa época crescentemente empenhada na regulação de procedimentos e na observância de códigos de etiqueta, os “manuais de secretário” conheceram uma ampla difusão em Portugal mesmo para além do fim do Antigo Regime. Pouco se sabe, no entanto, sobre a sua efetiva relevância para a prática concreta dos homens letrados ou, simplesmente, de quem escrevia cartas de negócios, “familiares” ou de amizade. Centrando-se na experiência francesa, Roger Chartier já sugeriu que, em certa medida, o desejo de posse desses manuais seria devido a questões de prestígio ou representação social. Ocorre indagar se o caso português será ou não semelhante.
Valéria Augusti (UFPA) - LIVROS EM TRÂNSITO: DE LISBOA À PROVÍNCIA DO PARÁ
Em 18 de agosto de 1848, Antonio Maria Pereira abre, em Lisboa, estabelecimento destinado à venda e encadernação de livros. O negócio, iniciado com parcos recursos, dedica-se primeiramente à venda de livros usados, cartas de primeiras letras, tabuadas, livros de missa, entre outros. A comercialização das obras logo se faz acompanhar da atividade editorial, de forma que, em 1860, o livreiro disponibiliza em seu catálogo uma diversidade publicações, literárias ou não, procurando atingir um público vasto e diversificado. Vinte anos depois, Antonio Maria Pereira recebe, em Lisboa, a visita do Sr. Antonio da Silva Leite, primeiro secretário do Grêmio Literário Português, fundado em 1867 na cidade de Belém (PA). Incumbido de encontrar em Portugal um livreiro probo e capaz de fornecer os livros necessários à constituição do gabinete de leitura da instituição que ora representava, o primeiro secretário firma parceria comercial com o livreiro lisboeta, que, a partir de então, passa a remeter freqüentes encomendas pelos paquetes que então aportavam na capital da Província do Pará. Dos primeiros anos desse intercâmbio resultaram correspondências trocadas entre os membros do grêmio e o livreiro, em que se discutem não apenas as obras a serem enviadas à capital da Província, como também em que termos isso deveria se dar. É, pois, a partir de tais missivas que esta comunicação pretende abordar o intercâmbio estabelecido entre esses personagens, graças aos quais uma variedade significativa de obras saídas dos prelos de Portugal tornaram-se disponíveis ao público leitor da cidade de Belém no oitocentos.
Vanda Maria Coutinho Garrido Anastácio (Universidade de Lisboa) – BRASIL OMNIPRESENTE. PENSAR ALGUNS LAÇOS CULTURAIS TRANSATLÂNTICOS ANTES DE 1822
Ao longo do século XVIII o Brasil parece ter estado sempre presente no pensamento das elites portuguesas. Nesta comunicação gostaríamos de contribuir para uma melhor compreensão dessa presença. Procuraremos deslocar a atenção dos factores económicos e financeiros associados a esse protagonismo, para as relações intelectuais estabelecidas através do Atlântico, tendo em conta, não só personagens nascidas no Brasil ou nascidas em Portugal que atravessaram o Oceano numa e/ou noutra direcção mas, também, a circulação de ideias e de bens culturais entre aqueles que nunca saíram quer do Brasil, quer de Portugal.
Virginia Célia Camilotti - A REVISTA ATLÂNTIDA E A LATINIDADE: VÍNCULOS IDENTITÁRIOS REFERIDOS A UM TRONCO LINGUÍSTICO COMUM
A noção de latinidade apropriada por intelectuais brasileiros e portugueses no início do século XX foi vetor da constituição de uma mitologia identitária, a envolver Brasil e Portugal, bastante distinta daquelas que cada uma das nações formulou desde a autonomia política do Brasil. Pretendo explorar os modos como a Revista Atlântida, criada em 1915, como mensário artístico, literário e social para Portugal e Brasil, e, em 1917, tornada órgão do pensamento latino no Brasil e em Portugal, inscreveu-se como veículo de projeção desse Nós português-brasileiro ou latino
Wellington Júnio Guimarães da Costa (UFOP) - POR UMA LEITURA A CONTRAPELO DO ANTIGO REGIME: UM NOVO OLHAR SOBRE A EXPANSÃO IMPERIAL PORTUGUESA ATRAVÉS DA APROPRIAÇÃO DO PENSAMENTO DE HANNAH ARENDT
O trabalho ora proposto tem como objetivo fazer uma discussão teórica e conceitual sobre a expansão imperial portuguesa e mais especificamente a sua relação com a colonização da América. Nesse sentido, pretende-se ajustar duas perspectivas aparentemente antagônicas - nomeadamente as ideias de "Antigo Sistema Colonial" e "Antigo Regime nos Trópicos" - através do estabelecimento de um diálogo com algumas formulações da filósofa Hannah Arendt de modo a fazer uma leitura a contrapelo do Antigo Regime português tendo em vista as relações entre metrópole e colônia. Dessa forma, pretendemos despolarizar um debate que acreditamos não haver sentido, uma vez que ambas as perspectivas se completam mutuamente (no que se refere às questões políticas, simbólicas, religiosas e econômicas do período moderno). Ao observarmos a diferenciação que Hannah Arendt faz entre integração e desintegração em sua discussão sobre expansão imperial e expansão imperialista, bem como a sua discussão sobre a crise da autoridade no mundo moderno, podemos enxergar a expansão portuguesa sob outra via de análise, o que implica, por sua vez, em novas perspectivas no que se refere à dinâmica da administração da justiça na sociedade colonial da América portuguesa.
Yuri Brunello (Università La Sapienza – Roma) - DA AMÉRICA LATINA ATÉ A EUROPA, DAS PERIFERIAS ATÉ O CENTRO: A ARTE DE JOÃO CAETANO COMO ESTÉTICA DE INDEPENDÊNCIA POLÍTICA E DE UMA HEGEMONIA CULTURAL REVIRADA
A nossa contribuição consistirá na análise das interpretações fornecidas pelos críticos que assistiram ao espetáculo A Dama de São Tropez do grande ator brasileiro do século XIX João Caetano, representado em Lisboa no ano de 1860. Realizaremos, portanto, uma leitura da moda cultural e teatral do “grande ator” no século Dezenove – a época da francesa Sarah Bernhardt, do inglês Edmund Kean, dos italianos Tommaso Salvini e Adelaide Ristori, do argentino Aurelio Casacuberta e do brasileiro João Caetano, todos eles privilegiando sempre a atuação muito mais do que o texto – segundo um ponto de vista não eurocêntrico. De fato, as pesquisas sobre o teatro consideram geralmente os grandes atores europeus que atuaram nas Américas e a nossa atenção é, ao invés disso, privilegiar um grande ator das Américas que, na metade do século XIX, atuou na Europa. Queremos assim evidenciar as dinâmicas culturais da identidade e, sobretudo, da diferença, tanto no plano intracultural quanto no plano inter-cultural, através da análise da estética da cena do século Dezenove. A nossa intenção é assim a de documentar a existência de um teatro nos países descolonizados que tenha um perfil autônomo: um teatro identitário em ruptura com a hegemonia da cultura européia; um teatro antitético em relação à direção cultural – ainda que, com a fim da experiência colonial no Brasil, uma direção que não é mais formalmente política – exercida pelo Velho Mundo sobre o Novo Mundo.